Tesouro Direto: IPCA+2029 cai a 5,88%, a taxa mais baixa do ano; foco são crise bancária e regra fiscal

Entre os prefixados, Tesouro Prefixado 2033, com 13,08% ao ano, oferece o maior retorno

Neide Martingo

(Getty Images)
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Está cada vez mais próxima a data de o mercado conhecer os detalhes do novo arcabouço fiscal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia pedido que Haddad conversasse com líderes de governo e com economistas de fora do mercado, antes de apresentar oficialmente a proposta ao País.

Hoje, às 18 horas, o Haddad vai falar com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, no Palácio do Planalto.

A segunda-feira (20) começou com a notícia de que o UBS concordou em comprar o Credit Suisse por US$ 3,2 bilhões, em um acordo mediado pelo governo suíço, com o objetivo de conter uma crise de confiança que ameaçava se espalhar pelos mercados financeiros globais.

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A quarta-feira (22) será, na verdade, uma “Super Quarta”, com decisões sobre juros no Brasil e nos Estados Unidos.

Por aqui, os investidores aguardam a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). A expectativa é de que o Banco Central mantenha a Selic nos atuais 13,75% ao ano. Apesar da pressão do governo e de uma ala de economistas para que os juros diminuam, predomina a visão de que o Copom seguirá com postura cautelosa para garantir a convergência da inflação à meta.

“A semana é de volatilidade. Haverá a divulgação do IPCA-15 na sexta-feira, e talvez a apresentação das novas regras fiscais. Ainda não é possível entender se a intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é postergar ainda um pouco mais esse tema ou se será coisa de um ou dois dias”, afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

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Ele ressalta que a situação bancária está no pano de fundo. “Não se sabe se a crise já estancou, com a questão resolvida nos Estados Unidos e na Europa, ou se vai aparecer mais algum problema específico com os bancos franceses, que também estão dando sinais de problemas”, diz Cruz.

No Tesouro Direto, às 15h18, os juros de todos os títulos públicos apresentam queda. O Tesouro Prefixado 2026 oferece retorno de 12,26%, abaixo dos 12,32% ao ano vistos na sexta-feira (17) – o piso entre os títulos prefixados.

O maior retorno era oferecido pelo Tesouro Prefixado 2033, com 13,08% ao ano, valor menor do que os 13,19% da sessão anterior, diferença de 11 pontos-base (0,11 ponto percentual).

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Entre os títulos atrelados à inflação, o IPCA+2029 chama a atenção, com juros de 5,88%, menor valor do ativo deste ano, abaixo dos 5,91% da última sessão. Anteriormente a taxa mais baixa havia sido registrada no dia 8 de janeiro, com retorno de 5,93% ao ano.

Já os juros do Tesouro IPCA+ 2045 eram de 6,45%, igual índice registrado na sexta.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (20): 

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Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Focus

A projeção de inflação para 2023 feita pelo analistas de mercado teve ligeira queda nesta semana, de 5,96% para 5,95%, mas as estimativas subiram para 2024, 2025 e 2026, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (20) no Relatório Focus, do Banco Central.

A projeção do IPCA de 2024 avançou de 4,02% para 4,11, a de 2025 permaneceu saiu de 3,80% para 3,90% e a de 2026 subiu de 3,79% para 4,00%.

Especificamente para os preços administrados, a projeção do IPCA para 2023 manteve a tendência de alta verificada há 16 semanas e passou de 9,13% para 9,36. Há um mês, a projeção estava em 9,01%. A estimativa para 2024 também subiu, de 4,40% para 4,50%. A de 2025 avançou de 3,94% para 4,0% e a de 2026 estacionou em 4,0%.

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Selic

O mercado prevê a manutenção de juros a 13,75%. De acordo com dados da B3 (B3SA3), há ainda uma pequena chance de redução da taxa em 0,25 pontos, na reunião dos dias 21 e 22 de março. Os dados são reflexos dos contratos de opções de Copom que permitem a negociação da variação da taxa Selic Meta, decidida a cada reunião do comitê.

Arcabouço fiscal

Em meio ao aumento da pressão dentro do governo e entre aliados sobre o novo arcabouço fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), reafirmou, nesta segunda-feira (20), que o projeto de lei complementar que vai tratar do assunto irá ao Congresso Nacional antes do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que, por lei, precisa ser encaminhado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento até 15 de abril.

“A lei complementar tem que ir com a LDO, porque a LDO é uma lei ordinária. Não tem como ser depois”, disse em conversa rápida com jornalistas. “Uma coisa é o anúncio do arcabouço. Isso pode ser feito a qualquer momento, assim que eu tiver autorização do presidente Lula, que me pediu essas reuniões prévias preparatórias. Agora, a lei para o Congresso, a data limite dela é o 15 de abril, porque a LDO tem que estar baseada no novo arcabouço. Por isso que antecipamos, de agosto para março, a entrega para o Palácio do Planalto”.

O ministro também disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém o objetivo de anunciar a medida antes da viagem oficial à China, marcada para sábado (25).

“Inteligente”

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD), ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, afirmou, nesta segunda-feira (20), que o novo arcabouço fiscal proposto pelo Ministério da Fazenda combinará um olhar para a curva da dívida pública, para o resultado primário e o controle de gastos.

O texto foi apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), aos demais integrantes da equipe econômica e entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pediu novas reuniões com os presidentes das duas casas do Congresso Nacional e com lideranças políticas antes do anúncio oficial.

“Acho que o governo encaminha, nos próximos dias, o projeto de ancoragem fiscal, que vai também combinando curva da dívida, de outro lado superávit e de outro lado o controle do gasto. Uma medida inteligente, bem feita, que vai trazer bastante segurança na questão fiscal”, afirmou Alckmin em evento na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro.

Fed

“Esperamos que o Fomc faça uma pausa em sua reunião de março, que acontece esta semana, devido ao estresse no sistema bancário”, aposta o Goldman Sachs. “Embora os formuladores de políticas tenham respondido agressivamente para fortalecer o sistema financeiro, os mercados parecem não estar totalmente convencidos de que os esforços para apoiar bancos pequenos e médios serão suficientes. Acreditamos que as autoridades do Fed, portanto, compartilharão nossa visão de que o estresse no sistema bancário continua sendo a preocupação mais imediata no momento”.

Segundo projeções do FedWatch, do CME Group, os juros que hoje estão na faixa de 4,50-4,75% devem chegar a 4,75-5,00% na reunião a ser realizada em 22 de março pelo Fed. As chances de haver uma manutenção agora estão em 38%. Para a reunião de 3 de maio, a perspectiva predominante (54,3%) é de que a taxa de juros vá para 5,00%-5,25%. A manutenção em 4,50-4,75% agora é aposta de 25,8% do mercado. Uma alta de 0,25 p.p., para 4,75%-5,00% agora é vista por 19,9% do mercado.

“Esperamos uma subida de taxa de 25pb na próxima semana, assumindo que os poderes de empréstimo de emergência do Fed limitam o estresse financeiro; achamos que o debate no Fed mudou na direção inclusive para nenhum aumento”, diz o Bank Of America. “O Fed tem opções. No passado, o Fed às vezes interrompeu os aumentos dos juros diante do estresse, apenas para retomá-los mais tarde”.

Crise global

Com recente estresse financeiro nos EUA e na Europa, surgem dúvidas sobre os efeitos na América Latina. O J.P.Morgan avalia que as repercussões de uma crise global potencialmente prolongada seria desigual entre os países da região. Aqueles que têm maiores passivos externos, provavelmente terão menos espaço para manobras, enquanto o México, com laços econômicos fortes com os EUA, provavelmente sentirão mais impacto do que outros, analisa o banco. O J.P.Morgan prevê o Copom mantendo as taxa de juros estável, mas discutindo explicitamente os efeitos potenciais do recente estresse financeiro sobre o economia brasileira.

Lagarde

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, repetiu nessa segunda-feira, desta vez em discurso no Parlamento Europeu, que o setor bancário da zona do euro é resiliente, com fortes posições de capital e liquidez. Ela disse ainda que a autoridade monetária continua a monitorar de perto os desenvolvimentos do mercado para poder responder prontamente e  necessário para preservar a estabilidade tanto dos preços como a financeira na área.

Ela voltou a garantir que, caso seja necessário, existe um kit de ferramentas da política do BCE  totalmente equipado para fornecer apoio de liquidez ao sistema financeiro local e assim preservar a “transmissão harmoniosa da política monetária”.

Sobre a decisão da semana passada, quando o BCE optou por manter o ritmo de alta das taxas juros em 50 pontos-base, mesmo em meio à instabilidade financeira, Lagarde disse isso aconteceu em linha com a determinação do Banco Central em assegurar o regresso da inflação em direção à meta de 2% no médio prazo. “Dado que se prevê que a inflação permaneça muito elevada durante demasiado tempo”, afirmou.

“Pena de morte”

Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2001 e professor da Universidade de Columbia (EUA), definiu a taxa básica de juros Brasil como “chocante” e equivalente a uma “pena de morte”, a qual o País tem sobrevivido em função da atuação de bancos públicos.

Ele fez a avaliação no seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI”, promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Crítico da política monetária que usa juros para conter inflação sem observar efeitos nocivos sobre investimento, Stiglitz fez duras críticas à condução do Banco Central brasileiro nos últimos anos, mas sem mencionar diretamente a autoridade monetária. “Um Banco Central independente e com mandato só para inflação não é o melhor arranjo para o bem estar do país como um todo”, chegou a dizer.

UBS acerta compra do Credit Suisse

O UBS concordou em comprar o Credit Suisse depois de triplicar sua primeira oferta, em um acordo mediado pelo governo com o objetivo de conter uma crise de confiança que ameaçava se espalhar pelos mercados financeiros globais.

“Com a aquisição do Credit Suisse pelo UBS, foi encontrada uma solução para garantir a estabilidade financeira e proteger a economia suíça nesta situação excepcional”, diz um comunicado do Banco Nacional da Suíça, que observou que o banco central trabalhou com o governo suíço e a Autoridade de Supervisão do Mercado Financeiro Suíço para promover a fusão dos dois maiores bancos do país.

Com os termos definidos, os acionistas do Credit Suisse receberão 1 ação do UBS para cada 22,48 ações do Credit detidas, o que equivale a um valor de 0,76 francos suíços por papel, para um total de 3 bilhões de francos (ou US$ 3,2 bilhões), disse o UBS em comunicado. O acordo criará uma gestora global de patrimônio com US$ 5 trilhões em ativos investidos.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney