Tesouro Direto: que títulos são os mais recomendados para novembro, diante de dúvidas sobre cenário fiscal?

Em comum entre as carteiras de três casas - Rico, Santander Corretora e Itaú BBA - estão os papéis atrelados à inflação

Neide Martingo

(Imagem: Gettyimages)
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A renda fixa, que vem atraindo as atenções dos investidores em razão dos ganhos proporcionados pelas altas taxas de juros, ganha força diante da turbulência recente registrada no mercado. O cenário sugere que a Selic continuará nas alturas. E, por conta das declarações feitas nesta semana pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), interpretadas pelos investidores como um possível risco à política fiscal, cada vez mais os analistas recomendam cautela.

Nos últimos dias, os títulos públicos atrelados à inflação voltaram a pagar taxas acima de 6%, mais a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Já a remuneração dos prefixados ultrapassou a marca dos 13% ao ano. A volatilidade no mercado de juros fez com que as negociações com os títulos do Tesouro Direto fossem paralisadas seguidamente nesta quinta (10) e nesta sexta-feira (11).

Quais são as melhores alternativas do Tesouro Direto para investir em novembro? O InfoMoney compilou as recomendações de três casas – Rico, Santander Corretora e Itaú BBA. Em comum, elas destacam alguns papéis atrelados à inflação, com vencimentos variados.

Os títulos do tipo Tesouro IPCA+, com vencimento em 2035, aliás, são a única recomendação da corretora do Santander para esse mês. Relatório divulgado a clientes destaca o fim do conflituoso processo eleitoral e ressalta que os próximos dias serão essenciais para se observar a formação de ministérios, secretarias e eventuais mudanças nas companhias estatais. A falta de informações nesses pontos deixam o mercado em alerta.

“Se os ventos domésticos se provarem favoráveis para os ativos de risco (menor ruído pós-eleição, inflação convergindo à meta e promessas de responsabilidade fiscal em 2023), podemos ver um menor prêmio de risco para os títulos públicos reais, favorecendo a marcação a mercado dos mesmos”, afirmam Ricardo Peretti e Alice Corrêa no documento.

Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para pessoa física que assina o relatório de recomendações do Itaú BBA, chama a atenção para a inflação implícita para 2022, que encerrou o mês de outubro em 5,93%, vindo de 5,26% na observação ao final de outubro. A percepção dos operadores é superior aos 5,61% esperados pelo consenso de economistas e, caso se concretize nas próximas leituras, pode desencadear novas revisões de expectativas pelo mercado.

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Entre julho e setembro, o IPCA acumulou variação negativa de -1,32%. A queda neste período esteve relacionada ao corte de impostos em bens essenciais, com maior destaque ao preço da gasolina, do etanol e da energia elétrica, associado também ao recuo observado nos preços de commodities, como o petróleo, que também repercutiu no preço dos combustíveis. Em outubro, a situação já foi diferente: o indicador teve alta de 0,59% acima da expectativa do mercado, que era de 0,48%. Com isso, a inflação acumulado em 12 meses foi a 6,47%.

Pelas projeções do Itaú BBA, o IPCA deve encerrar o ano de 2023 em 5%. Este cenário é semelhante ao observado no Relatório Focus, que expressa a visão do consenso de economistas e é embasado por perspectivas de desaceleração da atividade econômica por aqui nos próximos trimestres.

Entre suas recomendações para novembro no Tesouro Direto estão dois títulos atrelados à inflação: o Tesouro IPCA+ 2026 e o 2035. Ele ressalta que não foram feitas mudanças em relação às sugestões de outubro.

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“Continuamos não vendo atratividade nas alocações em títulos IPCA+ de curto prazo (prazos de um a dois anos)”, diz Queiroz no documento. Há uma razão para isso: os títulos do tipo Tesouro IPCA+ 2023, com juros semestrais, por exemplo, negociava ao final de outubro a uma taxa de 5,46% ao ano. O estrategista destaca que, caso a projeção de recuo gradual da inflação até lá se prove correta, o papel deverá ter uma rentabilidade inferior a 12% ao ano. “Enquanto isso, títulos prefixados de mesmo prazo médio oferecem taxas acima de 13,5% em termos anualizados”, ressalta, demonstrando que eles seriam mais vantajosos.

O Tesouro IPCA+ 2026, que vinha de dois meses ruins, foi beneficiado no mês passado pela correção positiva de inflação aos títulos IPCA+, movimento que volta a tornar estes títulos mais atrativos ao investidor, em especial os ativos de prazos curtos e intermediários, afirma.

Ao longo de novembro, afirma Queiroz, a expectativa é de maiores definições no campo político e fiscal, fatores que desencadear uma calibragem das posições atuais. A votação do Orçamento do Governo Federal e a discussão sobre a alíquota de ICMS para 2023 serão assuntos relevantes e com capacidade de influenciar as taxas neste restante do ano, avalia.

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Dadas as incertezas, a carteira do Itaú BBA reserva uma boa parte da alocação no Tesouro Direto (60%) para títulos do tipo Tesouro Selic, com vencimento em 2025. Como são pós-fixados, suas variações de preços diárias são menores, assim como o risco de perda. O espaço para prefixados é bem menor: apenas 15%, parte no Tesouro Prefixado 2025 e parte no 2029.

A curva de juros precificava, ao final do mês, a taxa Selic mantendo-se ao redor do patamar atual até o encerramento do primeiro trimestre de 2023, quando deveria passar então a recuar. Nesse cenário, a taxa chegaria ao redor de 11% ao ano ao final do ano que vem, atingindo seu nível mínimo em 10,25% ao ano no terceiro trimestre de 2024. O nível de equilíbrio estaria ao redor de 11,5% ao ano de acordo com os mesmos dados.

Já a carteira de renda fixa da Rico Investimentos inclui quatro papéis negociados no Tesouro Direto: o Tesouro Selic com vencimento em 2025, o Tesouro Prefixado também para 2025, além do Tesouro IPCA+ 2026 e do 2035.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney