Tesouro Direto: taxas operam estáveis à espera de simpósio de Jackson Hole nesta semana

Prefixados oferecem até 12,28% ao ano; ganho real dos papéis de inflação chega a 5,90%

Bruna Furlani Katherine Rivas

(Rmcarvalho/Getty Images)
(Rmcarvalho/Getty Images)

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As taxas dos títulos públicos operam estáveis na tarde desta segunda-feira (22), apenas os títulos prefixados e de inflação de curto prazo apresentam queda nas taxas.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, explica que o dia começou com recuo nas taxas de juros, com investidores digerindo quedas nas projeções da inflação de 2022 e 2023 no relatório Focus, contudo, houve uma reversão de tarde, com os juros acompanhando o exterior.

Segundo o economista, os investidores estão precificando um discurso hawkish (preocupado com a inflação) de membros do Federal Reserve no simpósio de Jackson Hole – evento que inicia na quinta-feira (25). Na sexta-feira (26), Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, deve discursar e, na visão de Borsoi, pode reafirmar o compromisso no combate a inflação e com uma política de juros altos.

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Borsoi cita também novos desdobramentos no cenário energético global, com a decisão da Gazprom de suspender o fornecimento de gás no Nord Stream levando o gás natural à novos recordes.

No radar do mercado e que deve impactar a curva de juros nesta semana, Borsoi destaca também a divulgação do IPCA-15 na quarta-feira (24) – prévia da inflação de agosto que deve apresentar forte deflação – além dos leilões do Tesouro amanhã (23) e na quinta-feira (25).

Já no cenário externo, atenção para os índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da zona do euro e dos Estados Unidos.  E a segunda estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) americano no segundo trimestre na quinta-feira (25).

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Na sexta-feira (26), tem o índice de preços de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês), referente ao mês de julho. Atualmente esse índice acumula alta de 6,8% em 12 meses, bem acima da meta de inflação nos Estados Unidos, que é de 2%.

Dentro do Tesouro Direto, a maioria das taxas permanecia estável.

Nos prefixados, apenas o Tesouro Prefixado 2025 apresentava queda nas taxas. O título público oferecia às 15h25 uma rentabilidade anual de 12,20%, inferior aos 12,24% registrados na sexta-feira (19).

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Já nos títulos atrelados à inflação, apenas a taxa do Tesouro IPCA+ 2026 recuava. O título oferecia um ganho real de 5,64%, abaixo dos 5,67% vistos na semana passada.

O maior ganho real entre os títulos era de 5,90%.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (22): 

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Fonte: Tesouro Direto

Preço da gasolina cai para R$ 5,40

O preço médio do litro da gasolina no Brasil caiu para R$ 5,40 na semana passada, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que voltaram a ser divulgados após duas semanas de “apagão” devido a um ataque cibernético.

Mas tanto o preço médio da gasolina quanto o do diesel seguem acima dos praticados no mercado internacional, e o litro dos combustíveis poderiam cair mais R$ 0,27 e R$ 0,36, respectivamente, segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

A queda no preço da gasolina na semana entre os dias 14 e 20 foi de 1,8% na comparação com a anterior, entre os dias 7 e 13, e ocorreu após três reduções consecutivas da Petrobras (PETR3PETR4) no preço cobrado nas refinarias.

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China e Jackson Hole

Investidores acompanham o recuo da taxa básica de empréstimos de um ano na China, que caiu de 3,7% para 3,65%. Já a taxa de cinco passou de 4,45% para 4,3%.

Pequim tinha baixado pela última vez sua taxa de um ano em janeiro e cortado a taxa de cinco anos, que é usada para precificar empréstimos de longo prazo, como hipotecas, em maio.

As reduções eram amplamente esperadas depois que o PBoC surpreendeu na semana passada o mercado ao reduzir as taxas de empréstimo de sua linha de crédito de médio prazo em 10 pontos-base.

Além do gigante asiático, investidores estão atentos ao simpósio econômico anual do Fed em Jackson Hole, que começa na quinta-feira (25) nos Estados Unidos.

Jerome Powell, presidente do Fed, fará uma apresentação na sexta-feira (26), segundo dia de evento. O discurso da autoridade tem potencial para mudar o humor do mercado, junto com os dados do índice de preços ao consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês), que serão divulgados no mesmo dia.

Focus

Na agenda doméstica local, o mercado repercute os últimos números da pesquisa Focus, do BC. Segundo o relatório, as estimativas para o IPCA em 2024 e 2025 se mantiveram em 3,41% e 3,00%, respectivamente.

Já a previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) subiu marginalmente para 2022 (de 2,00% para 2,02%) e recuou levemente para 2023 (de 0,41% para 0,39%), segundo pesquisa do BC. Para 2024 e 2025, as projeções continuaram em 1,80% e 2,00%, nessa ordem.

O mercado também manteve as estimativas para a Selic dos próximos anos (13,75% no fim de 2022, 11% no de 2023, 8,00% no de 2024 e 7,50% no de 2025, em linha com as projeções do BC).

Para o câmbio, as estimativas seguiram as mesmas para dezembro de 2022, 2023, 2024 e 2025 em US$ 1 = R$ 5,20, R$ 5,20, R$ 5,10 e R$ 5,17, respectivamente.

Perdas com ICMS

Já na cena política, investidores acompanham a notícia de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes concedeu, na última sexta-feira (19), medida cautelar que determina que a União compense as perdas de ICMS dos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Acre já a partir deste mês. No fim do mês passado, o STF já havia dado liminares semelhantes a São Paulo, Alagoas, Maranhão e Piauí.

As decisões recentes do STF obrigando a União a compensar mensalmente as perdas de Estados com a redução das alíquotas do ICMS já têm um impacto estimado em mais de R$ 10 bilhões no segundo semestre deste ano, de acordo com fontes da equipe econômica. O custo para o Tesouro Nacional pode ultrapassar a casa dos R$ 20 bilhões, se todos os governos estaduais conseguirem cautelares semelhantes.