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Na sua última reunião de 2022, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central correspondeu às expectativas do mercado e manteve a Selic em 13,75% ao ano. A taxa básica de juros está no maior nível desde janeiro de 2017, quando atingiu o mesmo patamar.
Esta é a terceira vez seguida que o BC não altera a Selic, que chegou ao nível atual em agosto. Antes disso, o Copom tinha elevado a Selic por doze vezes consecutivas desde março de 2021, quando teve início o ciclo de alta.
A manutenção da taxa era esperada e, por isso, o que mais interessava aos investidores era conhecer o teor do comunicado divulgado pelo BC junto com a decisão, tido como um indicativo para o futuro.
“O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e de 2024”, apontou o texto.
Além disso, o colegiado afirmou que “acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”.
Também conforme previsto, o BC disse que se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação para as metas, reforçando que espera não apenas consolidar o processo de desinflação, como também “a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
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Desde o fim do segundo turno do pleito presidencial, os agentes financeiros têm procurado interpretar as falas do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e identificar as bases da política econômica que será adotada no próximo governo. As dúvidas sobre o arcabouço fiscal que deverá substituir o teto de gastos e a tramitação da PEC da Transição colocaram em xeque a expectativa reinante de que a Selic poderia começar a ser reduzida ainda no primeiro semestre de 2023.
Por isso, especialistas ouvidos pelo InfoMoney afirmam que, diante das incertezas, é preciso ter cautela nos investimentos e optar pela diversificação. A maioria deles reforçou que, na renda fixa, um bom caminho ainda é a escolha de títulos pós-fixados atrelados à Selic ou à taxa do CDI, indicador que acompanha de perto as oscilações da taxa básica.
A sugestão vale tanto para investimentos em títulos públicos, feitos por meio do Tesouro Direto, quanto para papéis privados, como os títulos bancários e as debêntures. Em tempos de volatilidade, com expectativa de mudanças de rumos tanto interna e globalmente, o melhor é “estar preparado para um cenário no qual as coisas podem caminhar ainda de forma pior”, detalha Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para pessoa física do Itaú BBA.
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Pós-fixados e papéis de inflação entre as prioridades
Os papéis pós-fixados sempre responderam pela maior exposição, de 60%, na carteira de títulos públicos do Tesouro Direto elaborada pelo Itaú BBA desde agosto deste ano. Isso porque, segundo Queiroz, o cenário era de surpresas, dada a inflação e os juros que vinham subindo.
“Mantivemos cautela. É como um motorista que, numa subida, não está vendo o horizonte e, por isso, não percebe quem está vindo. Um caminhão pode estar se aproximando e, em razão da falta de visão, acaba acontecendo um acidente”, detalha na metáfora. “Já quando estamos descendo [queda de juros], é possível ter ótima visão e nos prepararmos”.
Segundo Queiroz, seis meses atrás, a principal preocupação não era o futuro político do País, mas sim a escalada da taxa de juros nos Estados Unidos, que estava fazendo preço nos mercados de todo o mundo. Além de sugerir que 60% dos investimentos fossem mantidos em papéis pós-fixados, a carteira indicava 20% de exposição em prefixados curtos (2025), 5% em prefixados médios (2029) e 15% em Tesouro IPCA+ 2026.
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Essa indicação, porém, mudou com o tempo, conforme o estresse do mercado aumentou com anúncios como o da PEC da Transição. Logo no primeiro anúncio de que haveria um gasto maior com os programas de distribuição de renda, a proporção da carteira foi modificada.
Atualmente, a sugestão ainda é de que os prefixados respondam pela maior parte dos investimentos, mas agora somando 50%. Ao Tesouro IPCA+ 2026, que teve a alocação sugerida elevada para 20%, se soma outro título de inflação: o Tesouro IPCA+ 2035, com uma participação de 15%. Aos prefixados, é destinada a menor alocação, de 10% no título com vencimento em 2025 e de 5% no que vence em 2029. Queiroz lembra que a previsão do banco ainda é de que a Selic pode começar a ser cortada no segundo trimestre de 2023.
Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos, reforça a opinião de que os pós-fixados são as opções mais favoráveis no momento. “Isso seja em títulos públicos, seja na parcela de crédito privado, desde que em papéis que tenham boa qualidade de crédito ou estruturas de garantia adequadas para os riscos. São as posições centrais do nosso portfólio”, afirma.
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Os papéis prefixados oferecem baixa visibilidade no momento, argumenta. “Enfrentamos uma série de dúvidas no caminho fiscal do País, o que tem impacto direto na política monetária e nas taxas de juros”, ressalta Kawa. Para ele, há “algum prêmio na curva”, principalmente por conta da elevação recente das taxas, mas “não estamos dispostos a aumentar a alocação ou fazer alocações relevantes de prefixados nesse ambiente”. Para ele, a visão precisa ser mais conservadora, até que se tenha visibilidade do que será do Brasil, em termos políticos e fiscais, em 2023.
A exposição em ativos pós-fixados, principalmente os de menor prazo, com vencimento em dois e três anos, também ganharam espaço na Blackbird Investimentos. “Faz sentido ficar com a posição mais defensiva com esse tipo de papel. Mas não temos nos desfeito dos ativos prefixados”, diz Marina Renosto, head de alocações da casa. “Estamos com taxa de juros muito alta, e uma hora ela deve cair”.
A parcela de ativos pós-fixados responde por até 45% da carteira sugerida, enquanto os papéis indexados à inflação têm por volta de 35%, dada a perspectiva de gastos maiores do governo, que devem voltar a pressionar a inflação. Os 20% restantes são reservados aos papéis prefixados.
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Há espaço para prefixados?
Nem só de pós-fixados se fazem as recomendações dos especialistas. No Santander, com a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, uma das sugestões é investir em LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio) prefixadas, além de fundos passivos que acompanham o IRF-M (Índice de Renda Fixa do Mercado).
“O banco passou a prever a Selic mais elevada por mais tempo. Por conta disso, desde novembro, optamos por diminuir a alocação em títulos prefixados em nossas carteiras recomendadas para a alocação estrutural”, afirma Arley Junior, estrategista de investimentos do Santander. “Mas, ainda que o percentual tenha diminuído, o modelo continua prevendo alguma alocação, visto que as taxas estão em patamares atrativos”.
Mesmo de olho nos impactos da PEC da Transição na trajetória da dívida no Brasil, o Santander optou por manter a sugestão de carteira na passagem de novembro para dezembro. “Já havíamos reduzido pontualmente a alocação nos prefixados e aumentamos a posição em fundos multimercados, pois os gestores têm uma maior flexibilidade na escolha dos ativos, maior velocidade para se adaptar às mudanças bruscas que podem ocorrer no mercado e, no ano, foram observados bons desempenhos nessa classe de investimentos”, completa.
Debêntures também são opção
Para o médio e longo prazo, o investimento em debêntures incentivadas continua atrativo, de acordo com a Ativa Investimentos. A carteira da corretora tem recomendações em diversos setores, como rodovias, saneamento e energia.
Para dezembro, 25% da alocação sugerida ficou concentrada em um papel da Holding do Araguaia (HARG11), empresa controlada pela Ecorodovias (ECOR3). Paranaguá Saneamento (PASN12), Usina Santa Adelia (USAS11) e Brisanet (BRST11) ficaram, cada uma, com 20%. E para a Itapoá (ITPO14) foram reservados 15%.
Todos os papéis possuem vencimento entre 2028 e 2036 e apresentam boa qualidade de crédito, com classificação de risco (rating) de pelo menos A+.
Esses segmentos, de acordo com a Ativa, são muito regulados e consistentes e trazem uma maior previsibilidade de receitas e margens, além de fluxos de caixa mais resilientes. Atualmente, no mercado, a maioria dos ativos com preços atrativos estão em emissores ligados a rodovias e portos com vencimento longo, como HARG11 e ITPO14, ou em dívidas mais curtas, como PASN12 e USAS11.
Poupança tem retorno acima da inflação após dois anos, vale a pena?
Enquanto há boas oportunidades em títulos públicos e privados, quem continua sepultada no rol dos investimentos é a poupança. Com a Selic no patamar de 13,75% ao ano, ela entrega um retorno de apenas 7,84%.
Desde 2012, sempre que a taxa básica de juros supera 8,5% ao ano, a rentabilidade passa a ser fixa, de 0,5% ao mês – ou 6,17% ao ano – mais a variação da TR (Taxa Referencial). Com a Selic em dois dígitos, é assim que seu retorno é calculado.
A poupança voltou a ter rendimento real positivo em setembro. Ou seja, a caderneta acumulou, em 12 meses, uma rentabilidade superior à inflação verificada no mesmo período.
E foi por um triz: enquanto o retorno da poupança foi de 7,19% nos 12 meses até setembro, a inflação – medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) – somou 7,17%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na prática, o investidor continua a perder dinheiro ao deixar os recursos aplicados nela na comparação com outros investimentos mais conservadores, como aplicações de renda fixa. A diferença é que agora, com a desaceleração da inflação neste ano, ficará um pouco mais fácil para quem aloca na caderneta obter retornos acima do IPCA.
No melhor dos cenários, com a Selic a 13,75% ao ano, simulações indicam que um investimento de R$ 10 mil na poupança renderia R$ 784 em um ano. Os cálculos são do InfoMoney e consideram uma TR média de 0,13% ao mês.
Outro detalhe é que enquanto a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, a remuneração de 0,5% ao mês da poupança fica estacionada, enquanto o retorno de outras aplicações pós-fixadas continua subindo.
Se o investidor destinasse o mesmo valor a um produto de renda fixa com retorno de 100% do CDI, como um CDB, teria um retorno de 11,26% em um ano, já considerando o desconto de 17,5% do Imposto de Renda. Se a rentabilidade prometida fosse maior, como 120% do CDI, o rendimento chegaria a 13,51% ao ano.
Confira simulações de retorno da taxa Selic na tabela a seguir:
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