SÃO PAULO – As negociações de títulos públicos via Tesouro Direto foram retomadas às 16h42 da tarde desta sexta-feira (22), após três suspensões. O dia é de forte aversão ao risco, o que provoca oscilações nos preços e taxas dos papéis.
Após levantar suspeitas sobre uma possível saída do governo, Paulo Guedes, ministro da Economia, negou que tivesse pedido demissão nesta sexta. Depois de uma debandada de secretários, o mercado repercute agora à tarde a confirmação do nome de Esteves Colnago para o cargo de secretário especial do Tesouro e Orçamento.
O executivo é atual chefe de relações institucionais do Ministério da Economia, e vai, oficialmente, ocupar a vaga deixada por Bruno Funchal, que abdicou ontem (21) do cargo. Colnago é visto como uma aposta para melhorar a relação da pasta com o Congresso.
Na volta das negociações, o mercado de títulos públicos negociados via Tesouro Direto opera com queda nas taxas. Às 16h42, o retorno pago pelo papel com vencimento em 2031 era de 11,99%, abaixo dos 12,73% vistos perto das 12h no período de maior estresse. Um dia antes, o mesmo papel oferecia retorno de 12,10%.
No mesmo horário, o juro pago pelo título com vencimento em 2024 era de 11,49%, o que representa um recuo em relação aos 12,22% registrados próximo do horário do almoço, mas segue acima dos 11,36% vistos na tarde de quinta. A taxa é a mais alta já entregue pelo título, disponível no Tesouro Direto desde fevereiro de 2021.
Entre os papéis atrelados à inflação, o retorno real pago pelo Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2055 e pagamento de juros semestrais era de 5,34%, frente aos 5,50%, vistos às 12h. O valor está abaixo dos 5,48% registrados ontem.
A mesma situação ocorria com os títulos atrelados à inflação com vencimento em 2026. A remuneração real oferecida por esses papéis recuava para 5,14%, às 16h42 da tarde, contra 5,34% no momento de maior estresse do dia. Um dia antes, o mesmo título oferecia retorno real de 5,25%.
Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidas na volta das negociações na tarde desta sexta-feira (22):
Saída da Economia, caminhoneiros e PEC dos precatórios
Após reuniões com o presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira, Paulo Guedes prestou esclarecimentos à imprensa. O ministro afirmou que os fundamentos fiscais não foram abalados.
Guedes reiterou que “não há nenhuma mudança no arcabouço fiscal”, em meio ao cenário de aversão ao risco maior nas últimas sessões com as mudanças no teto de gastos.
Guedes afirmou ainda que prefere tirar uma nota menor no quesito fiscal, com o déficit primário sendo um pouco maior no ano que vem, em troca de atendimento a mais frágeis, relativizando a mudança na regra do teto e defendendo que não houve mudança nos fundamentos da economia brasileira.
As declarações ocorreram após a comissão especial da Câmara dos Deputados ter aprovado na noite de ontem (22), por 23 votos a 11, o texto da PEC dos precatórios. O parecer tinha sido apresentado pelo relator Hugo Motta (Republicanos-PB).
O texto agora fica pronto para ser incluído na pauta do plenário, onde terá de ser submetido a dois turnos de votação. O substitutivo abre espaço de cerca de R$ 83 bilhões no Orçamento de 2022, com uma trava para o pagamento das dívidas judiciais do governo e uma mudança na metodologia do teto de gastos – regra fiscal que limita a evolução de boa parte das despesas públicas à inflação acumulada no ano anterior.
Além disso, o texto aprovado permite contornar a chamada regra de ouro – dispositivo constitucional que prevê que o governo não pode se endividar para bancar gastos correntes.
As mudanças em torno do teto de gastos fizeram com que o Ministério da Economia sofresse uma debandada, ontem (21). Deixaram os cargos os secretários Bruno Funchal, que era responsável pelo Tesouro e Orçamento, assim como Jeferson Bittencourt, que respondia pelo Tesouro Nacional.
Além deles, dois secretários adjuntos do Ministério optaram por sair: Gildenora Dantas, que respondia pelo Tesouro e Orçamento; e Rafael Araújo, do Tesouro Nacional. Ambos alegaram “razões pessoais” para a saída.
Cena internacional
Já no cenário externo, os índices operam com tendências mistas nas Bolsas de Nova York. Ontem, o S&P 500 renovou máxima histórica, enquanto a safra de balanços corporativos continua trazendo resultados melhores que o esperado. Entre 101 empresas do S&P 500 que já divulgaram resultados até agora, 82,6% superaram as expectativas, de acordo com dados da FactSet.
Também nos Estados Unidos, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, que é o banco central americano, admitiu hoje que a inflação no país deve durar mais do que o esperado. Powell falou ainda que se esse cenário permanecer, a autoridade monetária está preparada para agir.
Enquanto isso, na Ásia, as bolsas tiveram resultados variados entre si na sexta, após os papéis do China Evergrande Group avançarem 4,26% em Hong Kong. Reportagens informaram que a incorporadora endividada deve pagar até sábado vencimentos de títulos denominados em dólar que expiraram em 23 de setembro.
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