Tesouro Direto: juros intensificam queda, com IPCA+2029 a 5,57%; foco são decisões de Copom e Fed

Retorno do Tesouro Prefixado 2026 era de 11,47% ao ano, inferior aos 11,65% da véspera, diferença de 0,18 pontos-base

Neide Martingo

(Getty Images)
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) falou nesta quinta-feira (4), pela primeira vez, sobre a manutenção da taxa Selic em decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central nesta quarta-feira (3). “Oxalá que nossa pedra no caminho seja removida, porque realmente fiquei bastante preocupado com a decisão do Copom de manter pela terceira vez a maior taxa de juros do mundo, em uma economia que tem hoje uma das mais baixas taxas de inflação”, ressaltou. “Ainda assim, nós vamos perseverar e tentar harmonizar a política monetária”, disse o ministro da Fazenda.

O Federal Reserve (Fed, banco central americano) subiu a taxa dos Estados Unidos em 25 pontos-base. O Banco Central Europeu (BCE) também se reuniu; reduziu o ritmo de aperto de sua política monetária, optando por uma alta de 25 pontos-base em suas taxas de juros.

No Tesouro Direto, às 15h18, os juros apresentavam queda mais intensa. O Tesouro Prefixado 2029 oferecia retorno de 11,94%, menor do que os 12,12% da quarta-feira. A taxa do Tesouro Prefixado 2026, piso entre os prefixados, era de 11,47% ao ano, inferior aos 11,65% da véspera, diferença de 18 pontos-base (0,18 ponto percentual).

Entre os títulos indexados à inflação, o Tesouro IPCA+2029 entregava ganho de 5,57% ao ano, menor do que os 5,68% de ontem.

“A leitura da maior parte do mercado foi que o Fed, provavelmente, possa ter terminado o ciclo de aperto monetário nessa reunião. O mercado ontem caiu e hoje, na parte da manhã, a abertura do mercado local seguiu da mesma forma, com fechamento (queda) da taxa na curva de juros”, diz Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. Segundo ele, os dados sobre o desemprego nos Estados Unidos, acima do esperado, potencializaram esse movimento.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (4):

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Fonte: Tesouro Direto

Lula e Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, nesta quinta-feira (4), que ficou “bastante preocupado” com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano pela sétima reunião seguida.

[Eu] realmente fiquei bastante preocupado com a decisão de ontem do nosso Copom de manter pela terceira vez a maior taxa de juros do mundo numa economia que tem hoje uma das mais baixas taxas de inflação”, disse.

Haddad fez um discurso de cerca de 15 minutos na primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável, o chamado “conselhão”, que foi recriado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o Banco Central e Campos Neto, mantendo o tom de embate com a autoridade monetária, vista por sua gestão como um obstáculo para a retomada do crescimento econômico.

“É engraçado, é muito engraçado o que se pensa neste país. Todo mundo aqui pode falar de tudo, só não pode falar de juros. Todo mundo tem que ter cuidado. Ninguém fala de juros, como se um homem sozinho pudesse saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas”, disse.

Copom

O Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu nesta quarta-feira manter pela 6ª reunião consecutiva a taxa Selic em 13,75% ao ano, conservou também em sua comunicação o tom mais duro e técnico adotado após os encontros anteriores, mas mudando trechos que tanto atenuaram como reforçaram as posições anteriores. Numa análise mais geral, a maioria dos analistas acredita que as chances de um início de cortes na reunião de junho são quase nulas.

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Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, disse em live do InfoMoney que o BC optou por manter a mensagem das últimas reuniões, de que sua estratégia é persistir com a taxa de juros nesse patamar mais alto até que as expectativas de inflação, incluindo as de prazos mais longos, caiam em direção à meta.

Juros europeus

O Banco Central Europeu (BCE) decidiu nesta quinta-feira (4) reduzir o ritmo de aperto de sua política monetária, optando por uma alta de 25 pontos-base em suas taxas de juros. A taxa de refinanciamento (a principal) subiu de 3,50% para 3,75%, a taxa sobre depósitos de 3,0% para 3,25%, e a taxa sobre empréstimos marginais de 3,75% para 4,0%.

Nas últimas três reuniões, o BCE havia decidido elevar os juros em 50 pontos-base.

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A autoridade monetária atribuiu a decisão às perspectivas de que a inflação ainda ficará muito alta por muito tempo e também à luz das pressões inflacionistas elevadas em curso. “A inflação nominal diminuiu nos últimos meses, mas as pressões sobre os preços subjacentes permanecem fortes. Ao mesmo tempo, os anteriores aumentos das taxas estão sendo transmitidos de forma contundente ao financiamento da área do euro e às condições monetárias, enquanto os desfasamentos e a força da transmissão à economia real permanecem incertos”, disse o banco em seu comentário.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, disse hoje que “estamos diminuindo o ritmo, mas não pausando; não dependemos das decisões do Federal Reserve para nossas decisões de política monetária”.

Seguro-desemprego nos EUA

Os pedidos de seguro-desemprego, nos Estados Unidos, subiram a 242 mil na semana, acima da expectativa de 240 mil. A leitura da semana anterior ficou em 229 mil (revisada de 230 mil). A média das últimas quatro semanas ficou em 239,25 mil, enquanto as quatro encerradas na semana passada ficou em 235,75 mil (revisada de 236 mil).

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Demissões nos EUA

Os empregadores dos Estados Unidos anunciaram 66.995 cortes de empregos em abril, um aumento de 176% em relação aos 24.286 cortes anunciados no mesmo mês do ano passado. No entanto, houve queda de 25% em relação aos 89.703 cortes anunciados em março. Os dados são do relatório divulgado hoje pela empresa global de recolocação e negócios e coaching executivo Challenger, Gray & Christmas.

Abril marcou o quarto mês consecutivo em que os cortes de empregos foram maiores do que no mês correspondente do ano anterior.

Até agora neste ano, os empregadores anunciaram planos para cortar 337.411 empregos, um aumento de 322% em relação aos 79.982 cortes anunciados nos primeiros quatro meses de 2022.

Arcabouço fiscal

Passadas duas semanas da entrega do projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal (PLP 93/2023) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já há maior clareza no mundo político e no mercado financeiro sobre os pontos que podem sofrer modificação no texto durante sua tramitação no Congresso Nacional.

O objetivo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), é aprovar a matéria em plenário até a próxima semana, mas o texto sequer teve requerimento de urgência aprovado pelos parlamentares.

Com o prazo apertado e sem sinalizações do tom do substitutivo do relator, o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), cresce o ceticismo quanto ao cumprimento do prazo indicado.

O relator tem dito a colegas que espera concluir seu parecer até a próxima quarta-feira (10), reunindo o que ele entende ser o desejo majoritário dos membros da Câmara. Na semana passada, ele participou de uma rodada de conversas com integrantes do mercado financeiro nas quais, segundo fontes, mais ouviu do que falou e evitou assumir compromissos.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney