Tesouro Direto: por que alguns títulos valorizaram quase o dobro do Ibovespa no mês?

Tesouro Prefixado 2033 valorizou 4,78% no mês e 6,18% no ano, enquanto Tesouro Prefixado 2029 avançou 3,74% no mês e 7,18% no ano

Neide Martingo

(Unsplash)
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Abril chega ao fim marcando o início de uma possível mudança de rumo nas estratégias dos investidores. A expectativa de que um ciclo de cortes dos juros – hoje fixados em 13,75% ao ano – comece em algum momento dos próximos meses se intensificou. E por isso, os títulos públicos que mais brilharam neste mês foram os que possuem pelo menos parte do retorno prefixado.

O Tesouro Prefixado 2033 valorizou 4,78% em abril e 6,18% no acumulado do ano, enquanto o Tesouro Prefixado 2029 avançou 3,74% no mês e 7,18% no ano. Entre os ativos indexados à inflação, o que subiu foi o Tesouro IPCA+ 2045, com 5,42%.

O cenário é bem diferente do balanço do mês passado. Apenas dois títulos públicos tiveram valorização em março, marcado pela queda de braço entre governo federal e Banco Central.

A título de comparação, o Ibovespa – principal índice de ações do mercado brasileiro – subiu 2,5% ao longo do mês de abril.

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A informação mais aguardada pelo mercado chegou neste mês: os detalhes sobre o novo arcabouço fiscal. De um lado, a ansiedade dos investidores foi aliviada. Do outro, uma nova “fase” de incertezas teve início. Afinal, o projeto de lei complementar criado para substituir o regime de teto de gastos será suficiente para acalmar os ânimos? Essa agora é a dúvida dos investidores. A regra fiscal tramita no Congresso Nacional.

Abril registrou uma tentativa de aproximação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, temperada pelas duras críticas d0 presidente Luiz Inácio Lula da Silva à taxa Selic. Campos Neto tem demonstrado que não pretende ceder às pressões políticas.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial do País, subiu 0,57% em abril, mantendo a tendência de desaceleração, após ter alcançado 0,76% em fevereiro e 0,69% em março, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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O índice ficou abaixo da estimativa dos analistas do mercado financeiro, uma vez que o consenso Refinitiv apontava para inflação de 0,61%. Nos últimos 12 meses, a variação do IPCA-15 foi de 4,16%, abaixo dos 5,36% observados nos 12 meses até março. Nessa leitura, o consenso dos analistas estava em 4,20%.

“Até este momento houve o fechamento [queda] de curva de juros. No começo do mês, o mercado estava mais otimista. No fim, o tom ficou pessimista. Mas por mais que ainda exista muita dúvida com relação ao novo arcabouço fiscal, o mercado viu que o projeto não era tão ruim quanto se esperava”, afirma Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.

Isso influenciou a queda na curva de juros bastante significativa, diz o especialista. “Quando essa queda acontece, os títulos que oferecem mais risco acabam se beneficiando”.

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Komura acedita que no fim deste ano podem acontecer os cortes de juros pelo Banco Central. “Os dados têm indicado uma desaceleração da economia e da inflação, o que são subsídios para o BC cortar juros”.

Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos aponta também o arcabouço fiscal como o diferencial de abril. “O detalhamento da nova regra pode ser considerada uma boa notícia por conta, por exemplo, da vinculação das despesas à arrecadação, o que gerou uma dinâmica de percepção de risco um pouco melhor”, diz o especialista.

Há ressalvas. Segundo ele, o projeto não é o ideal, já que o governo poderia ter sido mais rígido na questão do controle de gastos, com  medidas mais claras no que se refere às punições no caso de descumprimento de metas. “Mas, de maneira geral, a regra fiscal conseguiu eliminar os piores cenários. Por isso os prêmios foram diminuindo e o movimento explica a boa performance dos juros”.

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Para ele, abril marcou uma mudança de tendência, principalmente quando há títulos mais longos, nos prefixados e nos ativos indexados à inflação, beneficiados pela descompressão de risco. “É preciso, porém, considerar também o contexto global. Houve um fechamento de juros lá fora, principalmente com relação às Treasuries [títulos públicos americanos], que cederam bastante e ajudaram na queda de juros aqui dentro”. Para Luciano Costa, o corte de juros pode acontecer em setembro.

A expectativa é de que a curva de juros ainda possa ceder na parte mais longa, porque consumiu boa parte dos prêmios. Ainda existe um juro no médio prazo bastante elevado, “mas desde que a tramitação e as mudanças que vão acontecer no Congresso com relação ao arcabouço sejam favoráveis”.

Veja os rendimentos dos títulos negociados no Tesouro Direto em abril e no acumulado do ano:

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Título Vencimento Rentabilidade em abril (%) Rentabilidade no ano (%) Taxa de compra (%) Taxa de venda (%)
Tesouro Prefixado 01/01/2026 1,29 6,55 11,83 11,95
Tesouro Prefixado 01/01/2029 3,74 7,18 12,27 12,39
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2033 4,78 6,18 12,35 12,47
Tesouro IPCA+ 15/05/2029 1,05    – 5,75 5,87
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 2,4 4,53 5,98 6,1
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 5,42 4,81 6,09 6,21
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2032 1,4 5,53 5,87 5,99
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2040 2,38 5,53 5,98 6,1
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2055 2,76 5,5 6,01 6,13

Fonte: Tesouro Direto. Dados coletados em 28/04/2023.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney