Tesouro Direto: juros de prefixados sobem a 12,62%, com novas críticas do presidente Lula à taxa de juros

Piso dos ativos atrelados à inflação, Tesouro IPCA+ 2029 tinha retorno de 5,86% hoje, superior à taxa vista nesta quarta, de 5,81%

Neide Martingo

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Apesar de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, levantar a bandeira branca e amenizar qualquer atrito com o governo federal em evento na quarta-feira (5), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quinta-feira (6), voltou a criticar o atual patamar da taxa básica de juros (a Selic, fixada em 13,75% ao ano).

Lula afirmou que o patamar é “incompreensível” e sugeriu a possibilidade de mudar a meta de inflação. Ao comentar declaração atribuída ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que, para atingir uma meta de inflação a 3%, seria necessária uma taxa de juros de 20%, Lula disse que, se o fato for verdadeiro, o objetivo estabelecido para o comportamento dos preços deveria ser modificado.

“Se a meta está errada, muda-se a meta”, afirmou.

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Também nesta véspera de feriado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deu entrevista à BandNews. “A taxa de juros hoje é indecente, mas não estou colocando a culpa em ninguém; as contas é que precisam ser arrumadas. A queda dos juros é uma consequência lógica do arcabouço fiscal e reforma tributária”, afirmou, durante a entrevista.

As declarações mexeram com o mercado. No Tesouro Direto, às 15h28, os juros dos títulos públicos apresentavam alta. O piso dos ativos atrelados à inflação, do Tesouro IPCA+ 2029, tinha retorno de 5,86% hoje, superior à taxa vista nesta quarta, de 5,81%. O Tesouro IPCA+ 2045 tinha juros de 6,26%, maiores do que os 6,24% da sessão anterior.

Entre os prefixados, o destaque era o Tesouro Prefixado 2033, com retorno de 12,62% ao ano, acima dos 12,46% da véspera, diferença de 16 pontos-base (0,16 ponto percentual).

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“Os juros estão abrindo hoje. Desde o vértice 2024 até mais longos. Isso acontece muito por conta das falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em relação à ‘descorrelação’ do arcabouço fiscal com o corte de juros. Campos Neto, porém, enfatizou que o objetivo do Banco Central é colocar a inflação no centro da meta”, afirma Ricardo Aragon, sócio-fundador e diretor de produtos e estratégia da Matriz Capital.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (06): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz estar satisfeito com os 100 dias de governo e coloca dia 10 como começo de outra fase, voltada à economia. Depois da viagem à China, o presidente pretende discutir política de crédito. Em encontro com jornalistas pela manhã, Lula comentou ainda que sobre a indicação do novo ministro do STF (em substituição a Ricardo Lewandowski) não tem data ainda definida. Presidente falou também de ministros do governo e afirmou que trocas só ocorrerão se houve “algo importante”. Lula garantiu a aprovação do arcabouço fiscal e reforma tributária no Congresso e adiantou que nenhum estatal será privatizada. “Obsessão é o crescimento da economia e geração de empregos”, disse.

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Sobre os próximos nomes indicados para o BC, Lula afirmou que serão de pessoas que defendam os interesses do governo. O presidente fez a afirmação no café da manhã com jornalistas hoje, de acordo com a comentarista de política e economia da GloboNews, Julia Duailibi, presente no evento. Lula deve indicar em breve nomes para ocupar as diretorias de Política Monetária e de Fiscalização do Banco Central. Os indicados precisarão ser aprovados pelo Senado. As informações são da Reuters.

Haddad

No começo da entrevista à Bandnews, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou o que o mercado queria ouvir, sobre melhorar contas públicas, unir social com o fiscal sempre com responsabilidade, e ampliar arrecadação. Mas foi aí que o caldo entornou. Ele disse que quer “acabar com privilégios” de “empresas bilionárias”, tirar benefícios fiscais de quem “faz lobby” no Congresso, “iludindo parlamentares de boa-fé”, e a bolsa rapidamente voltou ao negativo – também apoiada por uma Nova York no vermelho.

O ministro insistiu por toda a segunda metade da entrevista sobre a questão dos “privilégios” e chegou a pedir ajuda à imprensa para o que pode ser encarado como uma campanha “educacional” nesse sentido. Do lado ainda visto como positivo, ressaltou que não vai mexer em benefícios do Prouni, Santas Casas, Zona Franca de Manaus, nem no Simples, ou MEI, mas que tudo depende da retirada dos  “privilégios”.

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Arcabouço fiscal

Se o novo arcabouço fiscal estivesse em vigor desde 2011, o governo federal poderia ter tido uma redução de R$ 775,3 bilhões em despesas − ou R$ 64,6 bilhões ao ano, a preços constantes. Os cálculos são dos economistas Felipe Salto e Josué Pellegrini, da corretora Warren Rena, e contestam alegações de que a regra apresentada pelo Ministério da Fazenda seria frágil.

Conforme notam os especialistas, de 2011 a 2022, as despesas públicas cresceram a uma média anual de 2,5% em termos reais – o que equivale ao teto de reajuste permitido pela regra fiscal proposta pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O cálculo levou em conta os gastos extraordinários realizados em 2020, 2021 e 2022 em razão do enfrentamento à pandemia de Covid-19. No mesmo período analisado, a receita líquida avançou a uma média anual de 1,4%.

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Debate no Senado

O Senado marcou para o dia 27 de abril um debate no plenário sobre juros, inflação e crescimento econômico. Foram convidados os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A sessão foi solicitada pelo próprio presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e ocorrerá cinco dias antes do início da próxima reunião do Copom do BC. “É imperativo que dialoguemos, a fim de identificar os motivos por trás das elevadas expectativas inflacionárias e dos vultosos juros reais que predominam no Brasil. Dessa maneira, será possível direcionar nossos esforços para a construção de soluções capazes de evitar a perda do poder de compra da nossa população sem prejudicar o crescimento imediato da nossa economia”, justificou Pacheco, no requerimento apresentado para a realização do debate.

Produção Industrial

Entre dezembro e janeiro, a produção industrial do País recuou em oito de 15 locais investigados pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) Regional do IBGE. O dado oficial apontou queda de 0,3% na comparação mensal. No acumulado em 12 meses, a indústria variou -0,2%, com resultados negativos em sete locais.

As maiores quedas no período foram registradas por Rio Grande do Sul (-3,4%), São Paulo (-3,1%) e Mato Grosso (-2,0%).

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A queda da produção industrial em São Paulo veio após um recuo de 0,8% no mês anterior. Com isso, a indústria do Estado acumula retração de 3,9% nesses dois meses.

Estresse financeiro

“Há 85% de probabilidade de que o estresse financeiro continua a diminuir. Se isso acontecer, o Fed deve manter sua caminha das taxas de juros e baixar a inflação enquanto o mercado de trabalho está forte”, disse o presidente do Federal Reserve de St. Louis, Jim Bullard.

Ele “continua esperançoso” de que a inflação pode ser reduzida este ano e com o mercado de trabalho “relativamente forte”.

Seguro-desemprego EUA

Os pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos, nesta semana, caíram a 228 mil, acima da expectativa de 200 mil. A leitura da semana anterior ficou em 246 mil (revisada de 198 mil). A média das últimas quatro semanas ficou em 237,75 mil, enquanto as quatro encerradas semana passada ficou em 242 mil (revisada de 198,25 mil).

Já os anúncios de demissões nos EUA em março subiram 319%,  com relação a igual mês de 2022. Segundo a Challenger, 38% dos cortes estão concentrados no setor de tecnologia; empresas do setor anunciaram 102.391 cortes neste ano.

Payroll

O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulga nesta sexta-feira (7) o payroll de março, o principal indicador do mercado do país e um dos mais importantes para a tomada de decisão do Federal Reserve sobre a política monetária. As projeções do mercado estão entre a criação de 235 mil e 240 mil vagas fora do setor agrícola no mês, abaixo portanto das 311 mil anunciadas em fevereiro. Mas analistas alertam que o dado, se confirmado, ainda é alto e significa que o desaquecimento do mercado de trabalho continua lento.

Outros indicadores que saíram na semana sobre emprego e desemprego confirmam o cenário. O relatório Jolts, que aponta o número de vagas abertas, mostrou na terça-feira (4)  um número de 9,9 milhões de vagas no final de fevereiro, o primeiro resultado abaixo de 10 milhões de vagas abertas desde maio de 2021.

Ontem, o Relatório Nacional de Emprego, produzido pela ADP Research Institute, informou que os Estados Unidos criaram 145 mil vagas no setor privado em março, dado abaixo da estimativa do mercado de 200 mil vagas. Mas o indicador de fevereiro foi revisado para cima, passando de 242 mil para 261 mil vagas.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney