Tesouro Direto: juros de prefixados batem os 13,41%; mercado repercute payroll dos EUA e declarações de Lula

Mais cedo, títulos de inflação bateram novo recorde, de 6,57%

Neide Martingo

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A volatilidade marca a sexta-feira (3) e também uma semana recheada de acontecimentos importantes na economia e na política. No cenário interno, o destaque são as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que sinalizou que pode debater a autonomia do Banco Central (BC) após o término do mandato do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, que fica no cargo até o fim de 2024.

Lula criticou a Selic, que está em 13,75%, índice mantido na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (1) e a meta de inflação.

No cenário externo, dados de emprego dos Estados Unidos indicam que o mercado de trabalho por lá continua bastante aquecido. Isso faz com que as dúvidas sobre a trajetória monetária ganhem força.

Os Estados Unidos criaram 517 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola em janeiro, muito acima do esperado, apontam dados do payroll divulgado nesta sexta-feira (3) pelo Departamento do Trabalho. A taxa de desemprego ficou em 3,4% em janeiro.

A expectativa segundo o consenso Refinitiv era de que os empregadores criariam 185 mil vagas fora do setor agrícola no mês.

O Departamento do Trabalho informou que o número de desempregados chegou a 5,7 milhões em janeiro.

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Às 15h28, entre os títulos atrelados à inflação, o destaque era o IPCA+ 2045, com juros de 6,49% ao ano, mesmo índice visto na véspera. Na primeira atualização de hoje, o retorno chegou a 6,57%, o maior percentual já registrado pelo título desde que passou a ser negociado, em fevereiro de 2017.

Os juros dos prefixados apresentavam alta. Havia aumento de até 21 pontos-base (0,21 ponto percentual) nos retornos, caso do Tesouro Prefixado 2029 (13,41% ao ano). Nesta quinta-feira, o juro oferecido era de 13,20%.

Para Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, a alta na curva de juros hoje acontece muito por conta das declarações do presidente Lula,  e também em razão do Payroll dos Estados Unidos ter vindo muito forte. “Já de manhã o mercado estava estressado porque Lula criticou o Banco Central independente e questionou a meta da inflação. O eco fácil que o mercado faz é com a relação à ex-presidente Dilma, interferindo bastante no trabalho do ex-presidente do BC, Alexandre Tombini e a inflação ficando bem longe da meta naquela época”, detalha.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta sexta-feira (03):

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Lula

Em renovadas críticas à Selic e à meta de inflação, o petista disse, nesta quinta-feira (2) que tinha uma boa relação com Henrique Meirelles, presidente do BC nos seus dois mandatos anteriores, e argumentou que deu a ele “autonomia para fazer a política monetária” naquele período.

“O que acontece é que a gente conversava. Esse país está dando certo? Esse país está crescendo? O povo está melhorando de vida? Não. Então, eu quero saber de que serviu a independência. Eu vou esperar esse cidadão Campos Neto terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente”, disse Lula em entrevista à Rede TV e ao portal UOL.

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Lula criticou também o nível atual da Selic, de 13,75% ao ano, mantido na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (1). De acordo com o presidente, não existe razão para os juros estarem nesse patamar.

Novo PAC e reforma tributária

Além disso, Lula está preparando um plano de investimentos públicos para tentar incentivar a atividade econômica, segundo reportagem da Folha de S.Paulo. O novo PAC deverá ser lançado até os cem primeiros dias de governo.

O programa incluirá a retomada de obras paradas ou que estão em ritmo lento. Mas o governo também já quer divulgar projetos a serem contratados, como novos empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida, além de construção de cisternas e aceleração dos serviços de manutenção de rodovias.

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Outro ponto de atenção desta sexta-feira (3) é a reforma tributária, um dos projetos prioritários do governo no Congresso este ano. Após reunião com o presidente Lula nesta quinta-feira (2), o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), disse que, é possível aprovar um texto de reforma até o final deste ano.

“[A negociação] está sob comando do ministro [da Fazenda, Fernando] Haddad, os vice-líderes vão ajudar, temos aqui especialistas na área. Vamos começar a dialogar a partir de segunda-feira [6] sobre o conteúdo dela e o que podemos fazer antecipadamente para termos uma reforma tributária robusta que dê conta dos problemas”, disse.

Payroll: EUA criam 517 mil empregos em janeiro

Os Estados Unidos criaram 517 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola em janeiro, muito acima do esperado, apontam dados do payroll divulgado nesta sexta-feira (3) pelo Departamento do Trabalho. A taxa de desemprego ficou em 3,4% em janeiro.

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A expectativa segundo o consenso Refinitiv era de que os empregadores criariam 185 mil vagas fora do setor agrícola no mês.

O Departamento do Trabalho informou que o número de desempregados chegou a 5,7 milhões em janeiro.

Para o J.P.Morgan, o crescimento no mês foi generalizado, liderado pelos ganhos em lazer e hotelaria, atividades profissionais e serviços empresariais e cuidados de saúde. O emprego também aumentou no governo, parcialmente refletindo o retorno dos trabalhadores após uma greve.
“De um lado, o mercado de trabalho tem sido um robusto ponto brilhante na economia dos EUA, que tem mostrando uns poucos sinais de enfraquecimento. Do outro, o temor é que esses fortes relatórios de emprego levem o Fed a ser mais agressivo, o que colocaria em risco a atividade e poderia levar a uma recessão”, diz o J.P.Morgan.

Bolsa Família

A revisão dos benefícios do Bolsa Família tem potencial de garantir uma economia de R$ 10 bilhões, segundo previsão inicial do governo. Parte dessa redução dos gastos já pode beneficiar o Orçamento deste ano, apurou o Estadão com integrantes da área orçamentária do governo Lula.

O governo está mapeando as pressões de gastos neste início do ano para a elaboração do relatório de avaliação de despesas e receitas do Orçamento. Uma dessas pressões é o aporte que será necessário para o Fundo de Garantias de Operações (FGO), do Pronampe (linha de financiamento para pequenas empresas criada na pandemia, mas que se tornou permanente), e para o Desenrola, o programa de renegociação de dívidas que será lançado pelo governo ainda este mês e deve beneficiar quem ganha até dois salários mínimos (hoje, R$ 2.604).

Inflação

No cenário econômico, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços do Brasil continuou na região que significa de expansão da atividade em janeiro, em 50,7, mas o indicador representou uma queda em relação aos 51,0 registrados em dezembro. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (3) pela S&P Global.

O PMI composto, que agrega serviços e indústria, subiu de 49,1 em dezembro para 49,9 em janeiro e, portanto, ainda ficou abaixo do nível neutro (50,0), que separa a contração da expansão.

Os participantes da pesquisa mencionaram aumento das vendas no mês e conquistas de novos clientes, mas as empresas que citaram queda mencionaram demanda mais fraca por seus serviços

A incerteza em relação à economia e ruídos na política levaram a confiança nos negócios para o seu nível mais baixo em um ano e meio, segundo a S&P Global.

Com o resultado, a indústria brasileira encontra-se 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia da covid-19 (em fevereiro de 2020) e 18,5% abaixo do nível recorde da série, de maio de 2011.

PMI EUA, zona do Euro, China e Japão

O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços dos Estados Unidos, elaborado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), avançou de 49,2 em dezembro de 2022 para 55,2 em janeiro de 2023, o que indica expansão da atividade. O consenso Refinitiv de analistas apontava para um índice de  50,4.

O subíndice de preços pagos teve baixa de 67,8 para 67,5 entre dezembro e janeiro. O índice de atividade das empresas passou de 53,5 para 60,4 no mesmo período.

O índice também subiu na  da Zona do Euro, 1,1% em dezembro ante novembro, segundo estimativas divulgadas nesta sexta-feira (3) pelo Eurostat, o escritório de estatísticas da União Europeia. Em relação a dezembro de 2021, a inflação do produtor industrial bateu em 24,6%.

O dado veio bem mais forte que o esperado pelo mercado. O consenso Refinitiv esperava uma queda de 0,4% no mês e uma inflação anualizada de 22,5%. Em todo o bloco da União Europeia, o PPI avançou 1,2% na comparação mensal e 25,2% na anual.

O PMI da China subiu de 48,0 em dezembro para 52,9 em janeiro, conforme dados com ajustes sazonais divulgados pela S&P Global/Caixin. Isso sinalizou a primeira expansão da atividade do setor de serviços chinês em cinco meses.

O PMI composto, que agrega os índices de serviços e da indústria, avançou de 48,3 para 51,1 entre dezembro e janeiro e também atingiu o maior patamar desde agosto de 2022.

Segundo a pesquisa, as empresas no geral vincularam o aumento dos níveis de atividade à reversão das medidas de controle da pandemia em todo o país e à recuperação da demanda dos clientes.

No entanto, a pandemia continuou a trazer impactos para as operações comerciais. As ausências de pessoal devido à doença contribuíram para uma ligeira queda no número de funcionários e um aumento mais forte nos atrasos no trabalho, por exemplo.

Houve igualmente alta no índice no Japão, de 51,1 em dezembro para 52,3 em janeiro, conforme dados divulgados nesta sexta-feira (3) pela S&P Global em parceria com o Jibun Bank. Foi o quinto mês seguido com o indicador acima da faixa de 50,0, que separa a contração da expansão.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney