Tesouro Direto: na volta das negociações, juros acentuam queda com Lei das Estatais de molho no Senado e problemas com PEC

Entre os prefixados, maior retorno era entregue pelo Tesouro Prefixado 2025, no valor de 13,51%

Bruna Furlani Neide Martingo

(Dihandra Pinheiro/GettyImages)
(Dihandra Pinheiro/GettyImages)

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Fim de ano com muita volatilidade. Após ficarem paralisadas por quase uma hora, as negociações dos títulos públicos via Tesouro Direto foram retomadas. A suspensão aconteceu em função da forte volatilidade nos preços e nas taxas. Trata-se do quarto dia de paralisação nos negócios.

O dia é de ajustes após a informação de que Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, disse que não irá votar o projeto que altera a Lei das Estatais a “toque de caixa”, como se viu na Câmara dos Deputados. Segundo o jornal Valor Econômico, a ideia da cúpula do Senado é ouvir os líderes partidários “com mais tempo”. É possível que a proposta não seja incluída na pauta desta quinta-feira e fique para o ano que vem.

Investidores também monitoram votação de resolução para alterar regras de distribuição das emendas do relator-geral do Orçamento, o que pode interferir na tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição na Câmara e adiar a formação ministerial do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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Possíveis percalços na tramitação da PEC da Transição fazem com que setores do PT comecem a descartar a proposta. Não há avanço em acordos e a votação na Câmara está travada. O PT, segundo o Broadcast, diz que não cederá às chantagens de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa. Petistas argumentam ainda que Lula teria outras opções, em referência à Medida Provisória para o Bolsa Família.

Às 15h18, os retornos oferecidos pelos títulos públicos operam em queda, movimento visto desde a manhã de hoje. O recuo nos juros é maior entre papéis prefixados. Destaque para o Tesouro Prefixado 2033, com cupom semestral, que oferecia um remuneração de 13,33% ao ano, em igual horário, abaixo dos 13,64% registrados um dia antes.

Já o maior retorno era entregue pelo Tesouro Prefixado 2025, no valor de 13,51%, contra 13,80% vistos na véspera (14). Da mesma forma, a maior taxa real era oferecida pelo Tesouro IPCA+2026. Esse título oferecia um juro real de 6,37%, percentual que é inferior aos 6,45% vistos na sessão anterior.

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“A votação da Lei das Estatais foi postergada no Senado, já que a votação poderia representar um custo político alto para o governo, por conta da mudança de regras. Essa foi a primeira notícia que diminuiu a tensão no mercado” diz Luciano Costa, economista chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos. Segundo ele, outro ponto que apaziguou ânimos foi a possibilidade da PEC da Transição ser “descontinuada”. “Amanhã todo esse quadro pode se reverter. Mas hoje foi um dia mais calmo”.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na volta dos negócios na tarde desta quinta-feira (15): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Relatório de Inflação

O Banco Central do Brasil elevou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022 de 2,7% para 2,9% e manteve a estimativa de 1% para 2023, de acordo com o Relatório de Inflação divulgado nesta quinta-feira (15) pela autoridade monetária.

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Já para a inflação, o BC elevou suas projeções para 2022, 2023 e 2024, mantendo a estimativa feita em setembro para o ano de 2025. A projeção para este ano passou de 5,8% para 6%, a do ano que vem foi de 4,6% para 5% e a de 2024 avançou de 2,8% para 3%. Para 2025, estão previstos os mesmos 2,8% do Relatório anterior.

Entre os fatores que influenciaram as revisões, o BC listou a surpresa inflacionária e a revisão de projeções do curto prazo, a estimativa de hiato do produto mais fechado, a queda no preço de commodities, especialmente petróleo, a trajetória mais elevada da taxa Selic da pesquisa Focus, e o comportamento de incerteza econômica, medida pelo Índice de Incerteza em valores superiores aos considerados nas projeções.

No documento, o BC também dedicou um espaço para comentar a situação fiscal do País. Embora tenha destacado que os resultados divulgados neste ano continuaram a surpreender positivamente, há “ponto de atenção a se considerar”, disse a autoridade monetária.

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“No âmbito do Governo Central, em que pese o crescimento da arrecadação relacionada ao lucro das empresas em geral (IRPJ e CSLL), as receitas continuam bastante influenciadas pelo repasse de dividendos de empresas estatais e pelo desempenho bastante favorável do setor de exploração mineral, fluxos mais voláteis e dependentes dos preços das commodities em reais”, pondera.

Para 2023 e anos subsequentes, há incertezas relevantes na questão fiscal, diz o BC, especialmente devido a algumas medidas de discussão que podem trazer “impactos potencialmente duradouros ou permanentes”.

No lado das despesas, lembra o BC, estão sendo discutidas diversas alternativas, em especial a retirada do Auxílio Brasil do limite determinado pelo teto de gastos, o que abre espaço fiscal relevante para a expansão de despesas sob o teto, da ordem de 1% do PIB.

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“Do lado das receitas, projetos de lei que revisam a tabela do Imposto de Renda e os limites do Simples, em discussão no Congresso, representam risco de perda substancial de arrecadação. Adicionalmente, parte relevante do crescimento recente das receitas esteve ligada ao desempenho dos preços das commodities em reais, que são voláteis.”

Na avaliação da equipe de macroeconomia da XP, o documento divulgado hoje pelo BC trouxe um cenário praticamente inalterado em relação ao recente comunicado e ata do Comitê de Política Monetária (Copom).

Segundo os analistas, o texto repetiu a redação sobre o fiscal e o parafiscal e alguns parágrafos para explorar a recente deterioração das expectativas para essa métrica, com 91% dos entrevistados em sua pesquisa pré-copom afirmando que o fiscal piorou desde a reunião anterior.

Sem grandes novidades, a casa disse esperar que a Selic se mantenha estável em 13,75% até o fim de 2023.

Novos ministros

Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda, afirmou ontem (14) que já tem em mente possíveis indicações para o comando das secretarias da Receita Federal e do Tesouro, que devem ser anunciadas até a próxima sexta-feira (16). “Não está fechado…mas já mirei o cara. Está tudo mirado”, afirmou Haddad a jornalistas.

Antes disso, Haddad havia dito em entrevista à GloboNews que os economistas Pérsio Arida e André Lara Resende devem fazer parte de um conselho vinculado ao Ministério da Fazenda.

BoE e BCE elevam juros

Após a decisão de política monetária do Federal Reserve na véspera (14), hoje é a vez do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco Central da Inglaterra anunciarem suas decisões.

O Comitê de Política Monetária (MPC, na sigla em inglês) do Banco da Inglaterra (BoE) decidiu elevar sua taxa bancária em 50 pontos-base, para 3,50%. A decisão não foi unânime: dois membros do colegiado votaram por manter a taxa em 3,00% e um votou por uma alta mais elevada, de 0,75%.

Segundo o MPC, o mercado de trabalho segue apertado e há evidências de pressões inflacionárias nos preços domésticos e nos salários que podem indicar maior persistência e, assim, justificar uma resposta mais vigorosa da política monetária.

“A maioria do Comitê julga que, caso a economia evolua amplamente em linha com as projeções do Relatório de Política Monetária de novembro, novos aumentos da taxa bancária podem ser necessários para um retorno sustentável da inflação à meta”, diz o comunicado do BoE.

A exemplo do que fizeram o Federal Reserve na quarta-feira (14) e o Banco da Inglaterra (BoE) mais cedo nesta quinta-feira (15), o Banco Central Europeu (BCE) decidiu reduzir o ritmo de alta de suas taxas de juros e optou por uma elevação de 50 pontos-base em sua reunião de hoje. Em suas duas reuniões anteriores, a decisão tinha sido por uma alta de 0,75%.

A taxa de refinanciamento subiu de 2% para 2,50%; a taxa sobre depósitos de 1,5% para 2,0%; e a taxa sobre empréstimos marginais de 2,25% para 2,75%.

O BCE disse que espera aumentar as taxas significativamente ainda mais, porque a inflação continua muito alta e deve permanecer acima da meta por muito tempo.

Segundo o comunicado do BCE, “manter as taxas de juros em níveis restritivos reduzirá com o tempo a inflação ao amortecer a demanda e também protegerá contra o risco de uma mudança persistente para cima nas expectativas de inflação.”