Tesouro Direto: na volta das negociações, prefixados operam abaixo dos 13%; mercado foca nas medidas contra os atos golpistas em Brasília

Segunda-feira iniciou com a troca de quatro papéis do Tesouro Direto por títulos de prazo mais longo

Bruna Furlani Neide Martingo

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Após quase uma hora de paralisação, as negociações dos títulos públicos via Tesouro Direto foram retomadas às 15h35 desta segunda-feira (9). Quando há forte oscilação de preços e taxas, o Tesouro suspende temporariamente as vendas e compras para evitar que o investidor feche temporariamente as transações a um preço que possa ficar rapidamente defasado.

A segunda semana de janeiro começa com o horror visto na quebradeira de prédios públicos em Brasília, neste domingo (8), promovida por golpistas que não aceitam o resultado das eleições que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A gravidade das ações, como era o esperado, mexeu com o mercado, mas de uma forma mais  “contida”.

Em virtude dos atos golpistas, o presidente Lula decretou intervenção na segurança pública do Distrito Federal. “O principal para os investidores agora é a resposta institucional que será dada. É a questão das punições, que já está sendo tratada. É essa reação com a intervenção federal”, pondera Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.

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“O governo tomou as devidas providências e não acredita que haverá reincidência desse problema. Então nada do que aconteceu no fim de semana se refletiu no preço dos ativos de risco nesta segunda-feira”, afirma Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. “O mercado agora já se ajusta ou tende a se ajustar à agenda da semana”, completa.

Nesta segunda-feira, o Tesouro Direto iniciou a negociação de papéis com prazo mais longo, caso do Tesouro Prefixado 2026, o Tesouro Selic 2026, o Tesouro Selic 2029 e o Tesouro IPCA+ 2029. Eles chegam para substituir os respectivos Tesouro Prefixado 2025, Tesouro Selic 2025, Tesouro Selic 2027 e o Tesouro IPCA+ 2026.

O Tesouro Direto adota algumas referências de prazos para cada título e indexador. Quando o prazo dos títulos disponíveis na plataforma fica menor do que essa referência, o sistema “roda” o papel.

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Por volta das 15h30 horas, o Ibovespa operava em alta de 0,64%, aos 109.660 mil pontos. O dólar avançava 0,32%, cotado a R$ 5,253.

Na volta dos negócios, a maior parte dos títulos públicos opera com leve recuo ou estabilidade nas taxas. Por volta das 15h35, prefixados ofereciam remuneração abaixo dos 13% ao ano, como o Tesouro Prefixado 2026 e do Tesouro Prefixado 2029, que pagavam 12,81% e de 12,91%, nessa ordem.

Na sexta-feira (6), o papel com vencimento em 2029 oferecia uma remuneração de 12,92% ao ano. Já o Tesouro Prefixado 2026 é um dos títulos que passaram a ser negociados apenas hoje.

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O Tesouro IPCA+ 2045, por sua vez, era o papel que oferecia o maior retorno real entre os títulos atrelados à inflação. Às 15h35, o título entregava uma taxa real de 6,34% ao ano, em linha com os 6,35% vistos na sexta-feira.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (9), na volta dos negócios: 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Quebradeira em Brasília e decisão de Moraes

Na madrugada desta segunda-feira (9), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o afastamento do cargo de Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal, por um prazo inicial de 90 dias.

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Moraes também determinou a desocupação, em 24 horas, dos acampamentos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) montados nas imediações de quartéis e outras unidades militares pelo País.

De acordo com a Folha de S.Paulo, cerca de 1 mil bolsonaristas serão levados para o Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal. Eles foram presos em flagrante por suspeita de crimes de cometidos em atos de vandalismo.

Após os atos de ontem, Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, disse hoje que recebeu colaboração de dez estados para reforçar o contingente da Força Nacional.

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Segundo ele, os danos materiais serão cobrados dos golpistas; a AGU vai entrar com as ações criminais. Dino afirmou que há cerca de 1,5 mil detidos. A maioria estava em frente ao Quartel General em Brasília. “Mandatos já estão sendo expedidos a financiadores dos atos em Brasília”.

Na avaliação da equipe de política da XP, as invasões representam um “desgaste simbólico” porque atingiram prédios que abrigam o poder do Estado, mas se restringiram ao dia de domingo. Ou seja, ocorreram durante o recesso parlamentar e não provocaram interrupção de atividades, o que “minimiza suas consequências diretas imediatas”.

A casa também chama atenção para a postura condenatória unânime de atores da política institucional, incluindo o partido de Jair Bolsonaro (PL), que havia sido mais tolerante em episódios anteriores.

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Para os especialistas, a consequência imediata dos eventos é que a política deve ver um “deslocamento da pauta de discussão”, que tende a fugir das medidas econômicas do ministério de Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda, para se concentrar em uma força-tarefa dos Três Poderes para encontrar e responsabilizar os culpados pelos atos.

“O Planalto pretende exibir reação firme e enérgica para evitar que a possibilidade de repetição dos episódios de ontem seja uma sombra com a qual o governo Lula precise conviver”, resumem os analistas da XP.

Costa, da Monte Bravo Investimentos, destaca que os eventos do fim de semana são muito “ruins” e devem deteriorar a percepção externa sobre o Brasil. Apesar disso, ele acredita que os efeitos serão mais do lado político do que econômico.

“A gente acha que tem pouco impacto se olharmos no médio prazo no andamento das negociações de medidas que devem ser tomadas do lado fiscal e de olho nas reformas”, diz. “Isso [o evento] enfraquece a oposição porque ela está mais associada a esse espectro político”, completa.

Refinarias da Petrobras

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) mapeou a evolução das manifestações políticas nas unidades da Petrobras (PETR3;PETR4) por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Pelas redes sociais, o grupo convocou novos atos contra o atual governo em refinarias da empresa, com foco na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro, na segunda-feira, 9.

“Hoje não teve a presença de manifestantes na Reduc. Mas cabe destacar diversas mensagens circulando nas redes sociais convidando a presença de manifestantes na Reduc e em distribuidoras de combustíveis em Caxias. A polícia militar está no local”, informou a FUP.

O objetivo da convocação antidemocrática é bloquear o acesso de caminhões-tanque nas bases das empresas distribuidoras de combustíveis, sob o argumento de que sem combustível o Brasil vai parar.

De olho nos protestos, o Ministério de Minas e Energia (MME) afirmou que vai garantir o abastecimento nacional de combustíveis para os consumidores, segundo nota divulgada no fim da noite deste domingo (8), assinada pelo ministro Alexandre Silveira.

De acordo com a nota do ministério, “está garantido o funcionamento adequado de refinarias, terminais e bases de distribuição”.

Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro deu entrada em hospital na Flórida. Segundo informações do jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o ex-mandatário se queixava de fortes dores abdominais ao ser levado ao AdventHealth Celebration, unidade de saúde em Orlando, que conta com mais de 200 leitos.

Focus: inflação maior em 2023, 2024 e 2025

Os analistas do mercado financeiro continuaram a aumentar a expectativa para a inflação de 2023, 2024 e 2025, segundo projeções divulgadas nesta segunda-feira (9) pelo Relatório Focus, do Banco Central.

A expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 2023 (de 5,31% para 5,36%), 2024 (de 3,65% para 3,70%) e 2025 (de 3,25% para 3,30%).

A previsão da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) foi mantida em 12,25% para este ano, mas a de 2024 subiu de 9,0% para 9,25%. A de 2025 continuou em 8,0%.

Segundo as mais de 100 instituições financeiras consultadas semanalmente pelo BC, a projeção para Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 foi reduzida de 0,80% para 0,78% desde a semana passada.

A estimativa para o dólar subiu de R$ 5,27 para R$ 5,28 neste ano, e de R$ 5,26 para R$ 5,30 em 2024. Para 2025, foi mantida em R$ 5,30.

Também foi registrada projeção menor para a balança comercial nos três anos à frente: para 2023, o superávit caiu de US$ 58 bilhões há uma semana para US$ 56,61 bilhões; para 2024, foi reduzida de US$ 53 bilhões para US$ 52.40 bilhões, e, para 2025, recuou de US$ 60 bilhões para US$ 55 bilhões.