Tesouro Direto: em semana de Copom, retorno de prefixados permanece abaixo de 13% pela 2ª sessão seguida

Piso de títulos públicos atrelados à inflação recua para até 5,85% ao ano

Bruna Furlani Katherine Rivas

(Rmcarvalho/Getty Images)
(Rmcarvalho/Getty Images)

Publicidade

As taxas dos títulos públicos operam em queda na tarde desta segunda-feira (1). Nos prefixados, as taxas recuam até 11 pontos-base, enquanto nos papéis de inflação a baixa é de até 8 pontos-base.

Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, o movimento da curva de juros local estende as quedas da semana passada, apoiado pelo noticiário local e internacional, em semana marcada por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (3) e payroll (relatório de emprego dos Estados Unidos) na sexta-feira (5).

No exterior, Borsoi destaca a divulgação dos índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), que vieram fracos em várias regiões reforçando as expectativas de recessão na economia global e provocando queda nas commodities.

Continua depois da publicidade

O economista cita que o início das exportações ucranianas de grãos, após acordo intermediado pela Organização das Nações Unidas (ONU), aprofunda a queda nos preços das commodities agropecuárias. “Esse recuo nos preços reduz os temores com inflação nos próximos meses, validando a percepção de que os Bancos Centrais podem ser mais flexíveis no ciclo de alta de juros, culminando em queda nas taxas de juros globais”, avalia.

Já no cenário local, Borsoi cita outros dois fatores internos que intensificaram esse movimento de queda nas taxas. O primeiro é a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) de julho, que mostrou forte deflação, somado ao IPCA-15 (prévia da inflação de julho), divulgado na semana passada.

O economista cita também os novos cortes nos combustíveis da Petrobras, que validam a percepção de queda na inflação dos próximos meses, levando o mercado a precificar um Copom mais dovish (menos inclinado ao aperto monetário).

Continua depois da publicidade

“Além disso, a queda do dólar que voltou para faixa dos R$ 5,20, motivada pela baixa nos prêmios de risco locais, contribui também com o alívio nas taxas de juros”, destaca Borsoi.

Dentro do Tesouro Direto, todos os papéis prefixados disponíveis para compra oferecem retornos abaixo de 13% ao ano. A maior queda é nas taxas dos títulos de médio e longo prazo.

O Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, ofereciam às 15h24 um retorno anual de 12,78% e 12,88%, respectivamente, inferior aos 12,89% e 12,99%, registrados na sexta-feira (29).

Continua depois da publicidade

Já o Tesouro Prefixado 2025 entregava uma rentabilidade anual de 12,66%, abaixo dos 12,76% vistos na semana passada.

Nos títulos atrelados à inflação, o maior ganho real oferecido nesta segunda-feira (1) é de 6,20%.

A maior queda nas taxas era do título público de curto prazo. O Tesouro IPCA+ 2026 oferecia um ganho real de 5,85%, inferior aos 5,93% da sexta-feira (29).

Continua depois da publicidade

As outras taxas recuavam entre 4 e 5 pontos-base.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (1): 

Fonte: Tesouro Direto

Balanço do Tesouro em julho

A aprovação de um pacote de benesses com foco em diminuir o peso de itens considerados essenciais no orçamento dos brasileiros, juntamente com o aperto monetário mais agressivo nos Estados Unidos e recuo das commodities, trouxeram forte volatilidade ao Tesouro Direto em julho.

Continua depois da publicidade

Como reflexo disso, várias taxas atingiram valor recorde, caso do Tesouro IPCA+2045, que chegou a oferecer um retorno real de 6,29% em 27 de julho. A alta dos juros também foi acompanhada por uma desvalorização no preço do título, de quase 9% em julho – maior recuo registrado no mês passado.

Se por um lado, quem tinha dinheiro para investir em novas aplicações comemorou  as taxas elevadas, por outro lado, quem não olha com muita frequência os extratos do Tesouro Direto pode ter levado um susto.

No caso do Tesouro IPCA+2035, os preços do título recuaram quase 5% no acumulado de julho. A situação se repetiu por outros papéis atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+2055, que desvalorizou 4,38% no mês.

Já entre papéis prefixados, a desvalorização no mês passado foi menos expressiva. O título que apresentou maior queda de preço foi o Tesouro Prefixado 2025, que caiu 0,49%.

Saiba mais em:

Tesouro Direto: após forte alta dos juros, papel de inflação para 2045 desvaloriza quase 9% em julho; entenda o que provocou recuo no preço

Relatório Focus

Embora tenha mostrado piora nas projeções para a inflação e para a Selic em 2023, o Relatório Focus divulgado hoje pelo Banco Central trouxe, mais uma vez, melhora nas expectativas para a alta de preços neste ano.

A estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022 caiu de 7,30% na semana passada para 7,15% agora.

O movimento duplo é efeito de medidas aprovadas no Congresso Nacional, com apoio do governo federal, para baixar os preços dos combustíveis e da conta de luz a poucos meses da eleição.

Como os estímulos devem ocorrer até o fim deste ano, o corte nas projeções tende a ser revertido no IPCA do ano que vem. Não é à toa que as estimativas para o ano que vem estão subindo semana após semana.

Ajustes também nas projeções para a expansão da economia brasileira. A previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano subiu de 1,93% para 1,97%. Já a do próximo ano caiu de 0,49% para 0,40%.

A estimativa para o câmbio, por sua vez, não se alterou (US$ 1 = R$ 5,20 no fim deste ano e do próximo).

IPI, perdas com ICMS e caixa de 2023

Já na cena política, investidores repercutem a redução de 35% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobrado sobre produtos não fabricados na Zona Franca de Manaus.

O texto foi publicado na última sexta-feira (29), em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). O documento ainda traz redução adicional do IPI incidente sobre automóveis, de 18% para 24,75%.

Atenção também para a informação de que São Paulo e Piauí conseguiram ontem (31) liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), que permite a compensação imediata das perdas do ICMS com a redução das alíquotas de combustíveis, energia elétrica e comunicações por meio do abatimento do pagamento das prestações das dívidas com a União.

Maranhão e Alagoas já tinham obtido decisões semelhantes. O Comitê Nacional de Secretários de Fazenda dos Estados (Comsefaz) espera um efeito cascata com outros governadores conseguindo os mesmos resultados.

Após a aprovação de um pacote de medidas com foco em reduzir combustíveis, energia e outros itens essenciais, o próximo presidente da República deverá iniciar os trabalhos no ano que vem com o caixa do governo mais vazio em pelo menos R$ 178,2 bilhões.

Parte da fatura já apareceu nas contas do Tesouro Nacional, informa o jornal O Estado de S.Paulo. Segundo o veículo, a perda de recursos pode subir para R$ 281,4 bilhões, com a redução do caixa dos governadores e dos prefeitos com a desoneração permanente do ICMS dos combustíveis, energia, transporte e comunicações e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Com a inclusão de um possível reajuste no salário dos servidores federais, o valor pode chegar até R$ 306,4 bilhões, calcula o jornal.

China

Na cena internacional, agentes financeiros repercutem declaração de Yi Huiman, presidente da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China, de que o órgão regulador tornará prioridade as operações estáveis do mercado.

“Devemos sempre aderir à mentalidade do resultado final e impedir resolutamente que ‘falhas de mercado’ causem flutuações anormais”, disse Huiman.

Ao mesmo tempo, para estimular o consumo, a China estenderá uma isenção de imposto sobre compras de veículos de energias renováveis, na esteira de um corte no imposto de compra de carros, impulsionando os setores de automóveis.

Destaque também para indicadores vindos da China. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial chinês caiu de 51,7 em junho para 50,4 em julho, segundo pesquisa divulgada pela S&P Global em parceria com a Caixin Media.

O resultado acima da barreira de 50 mostra que o setor manufatureiro chinês continuou se expandindo no mês passado, ainda que em ritmo mais fraco.

Já a produção industrial oficial da China, medida pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês), fechou julho em 49, marcando queda em relação aos 50,2 da leitura do índice em junho.

Com o resultado, o índice de gerentes de compra (PMI, na sigla em inglês) ficou abaixo de 50, o que significa contração da atividade no setor.

Além disso, ficou aquém da previsão mediana de 50,3 feita pelos economistas consultados em pesquisa do The Wall Street Journal.

ACESSO GRATUITO

CARTEIRA DE BONDS