Tesouro Direto: após forte alta dos juros, papel de inflação para 2045 desvaloriza quase 9% em julho; entenda o que provocou recuo no preço

Maiores quedas foram registradas entre papéis atrelados ao IPCA

Bruna Furlani

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A aprovação de um pacote de benesses com foco em diminuir o peso de itens considerados essenciais no orçamento dos brasileiros, juntamente com o aperto monetário mais agressivo nos Estados Unidos e recuo das commodities, trouxeram forte volatilidade ao Tesouro Direto em julho.

Como reflexo disso, várias taxas atingiram valor recorde, caso do Tesouro IPCA+2045, que chegou a oferecer um retorno real de 6,29% em 27 de julho. A alta dos juros também foi acompanhada por uma desvalorização no preço do título, de quase 9% em julho – maior recuo registrado no mês passado.

Se por um lado, quem tinha dinheiro para investir em novas aplicações comemorou  as taxas elevadas, por outro lado, quem não olha com muita frequência os extratos do Tesouro Direto pode ter levado um susto.

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No caso do Tesouro IPCA+2035, os preços do título recuaram quase 5% no acumulado de julho. A situação se repetiu por outros papéis atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+2055, que desvalorizou 4,38% no mês.

Já entre papéis prefixados, a desvalorização no mês passado foi menos expressiva. O título que apresentou maior queda de preço foi o Tesouro Prefixado 2025, que caiu 0,49%.

A resposta para a pergunta em que o aumento das taxas tem como efeito o recuo nos preços dos títulos está na chamada marcação a mercado. Durante a existência de um papel, seu preço é marcado diariamente conforme as taxas que o mercado precifica naquele dia.

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As mudanças estão intimamente ligadas a alterações nas taxas de juros. Na prática, os papéis prefixados e os atrelados à inflação – especialmente os de longo prazo, que são mais sensíveis às variações – costumam desvalorizar quando as taxas de juros estão em tendência de alta.

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O contrário também é verdadeiro: os preços dos papéis normalmente sobem quando as taxas de juros caem. Por isso, até o vencimento, eles podem apresentar rentabilidade negativa em alguns momentos.

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No dia em que bateu recorde, por exemplo, o preço do Tesouro IPCA+2045 estava em R$ 997,03. Nesse dia, a taxa real do papel chegou a 6,29%. Apenas a título de comparação, no início do ano, quando o retorno real do título estava em 5,24%, o preço de compra do título estava em R$ 1.150,16.

Embora as taxas e os preços – especialmente de papéis com prazo mais alongado – costume variar muito, o investidor precisa ter em mente que ele só poderá ter prejuízo com os títulos, se resgatá-los antes do vencimento.

Se carregá-los até o fim, a remuneração vai respeitar as taxas e as condições contratadas no momento de aquisição dos títulos.

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Confira a seguir como se comportaram os títulos públicos disponíveis para novos investimentos em julho e no acumulado dos últimos 12 meses: 

Títulos disponíveis Vencimento Últimos 30 dias Mês anterior No ano 12 meses Taxa de compra Taxa de venda
Tesouro Prefixado 01/01/2025 0,49 -0,15 0,87 -1,4 12,9 13,02
Tesouro Prefixado 01/01/2029 -0,41 -2,49 13,03 13,15
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2033 -0,09 -1,89 13,13 13,25
Tesouro Selic 01/03/2025 1,1 1,04 6,71 9,98 0,09 0,1
Tesouro Selic 01/03/2027 0,99 1,06 7,03 10,15 0,17 0,18
Tesouro IPCA+ 15/08/2026 -1,54 0,13 4,11 5,7 6,03 6,15
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 -4,64 -2,25 -5,55 -10,43 6,22 6,34
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 -8,51 -4,7 -15,42 -26,73 6,22 6,34
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2032 -3,04 -0,51 6,17 6,29
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2040 -3,93 -2,03 -2,51 -5,99 6,23 6,35
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2055 -4,38 -2,85 -5,19 -11,31 6,27 6,39

Fonte: Tesouro Direto. Valores levantados até 29/07/22

Preferência por papéis de inflação

Após um mês de forte volatilidade, a expectativa é que o cenário siga incerto com o risco crescente de que o mundo seja afetado por uma recessão e sem perspectivas de acordo para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.

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Além de preocupações externas, as incertezas em torno da convergência da inflação à meta devem manter os juros elevados por mais tempo no Brasil e adicionar pressão nas curvas de juros, na avaliação de Ricardo Peretti, estrategista pessoa física do Santander.

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Nesse sentido, o especialista afirma que o investidor deve buscar proteção contra a inflação, de preferência em papéis com vencimento mais curto, como o Tesouro IPCA+2026.

O estrategista defende que nesse vencimento é onde há maior assimetria positiva entre risco e retorno, diante das incertezas. Embora indicadores de inflação tenham mostrado que as pressões inflacionárias devem recuar, Peretti avalia que há uma série de fatores que podem suscitar novas discussões sobre o comportamento da alta de preços.

Entre os motivos, ele destaca a possibilidade de que os níveis de consumo se mantenham mais aquecidos do que o esperado, em função dos cortes de impostos aprovados pelo Congresso e estímulos à demanda.

A avaliação é que os pacotes aprovados recentemente pelo governo com foco em aumentar o auxílio emergencial, oferecer auxílio a caminhoneiros e taxistas, além do projeto que ajudou a reduzir o preço dos combustíveis podem tornar o trabalho do Banco Central mais difícil.

O motivo é que, enquanto o BC realiza um ajuste duro em termos de política monetária para controlar a inflação e diminuir a demanda, o governo estaria injetando dinheiro na economia, o que poderia aquecer o consumo.

De olho em maiores pressões inflacionárias para o ano que vem, o Relatório Focus publicado nesta segunda-feira (1) pelo Banco Central trouxe nova piora nas estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023. Agora, o ponto médio das projeções indica que a inflação deve chegar a 5,33%, acima dos 5,30% da semana passada.

Na esteira de pressões inflacionárias maiores no ano que vem, economistas também recalibraram o ponto médio das projeções para a Selic de 2023, que passou de 10,75% para 11,00% nesta semana.

Por outro lado, os pacotes aprovados pelo Congresso têm ajudado a puxar para baixo as projeções para a inflação deste ano, semana após semana. Nesta segunda-feira, a mediana das estimativas dos economistas para a inflação deste ano sofreu nova melhora, passando de 7,30% para 7,15%.

Já as projeções para a Selic neste ano se mantiveram em 13,75%. Embora boa parcela do mercado acredite que o Banco Central deva encerrar o ciclo de alta dos juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (3), o Santander acredita que será preciso ir além.

Na visão da casa, a Selic deve ser elevada ainda mais uma vez em setembro, em 0,50 ponto percentual, e terminar o ano de 2022 em 14,25%. Para o Santander, a taxa básica de juros deverá seguir neste patamar até junho de 2023 e convergir, de forma mais lenta, para o nível estrutural de 7% em 2025.