SPX: Máquina do mundo descarrilhou, porém 1ª metade de 2021 deverá ser de forte crescimento, com eventuais crises

Com liquidez sem fim, mercado financeiro já não precifica claramente expectativas de inflação, solvência e crescimento econômico, aponta a gestora

Beatriz Cutait

Rogério Xavier, da SPX, durante evento da XP em novembro de 2019. Crédito: Divulgação/XP
Rogério Xavier, da SPX, durante evento da XP em novembro de 2019. Crédito: Divulgação/XP

SÃO PAULO – Em uma carta a cotistas dedicada a avaliar os processos em curso após o choque sem precedentes visto em 2020, a SPX indicou que o próximo ano tende a ser mais favorável, ainda que eventuais crises possam fazer parte do período.

Um teste extremo para os governos, a Covid-19 expôs sistemas e dirigentes incompetentes e as injustiças sociais no mundo, e “esgarçou os limites da política monetária”, diz a gestora de Rogério Xavier.

A taxa de juros básica foi levada a um nível próximo do piso efetivo na maioria dos países desenvolvidos, além de terem sido promovidas operações de liquidez em larga escala. E com efeitos sobre as expectativas dos mercados.

“Dada a necessidade premente de mais estímulo, os bancos centrais são levados a tomar mais risco e imitam decisões de outros bancos centrais, tal como juízes decidem com base em jurisprudência. Como efeito colateral, o mercado financeiro já não precifica claramente expectativas de inflação, solvência e crescimento econômico”, afirma a SPX, no comunicado referente ao mês de setembro.

Se o fim da pandemia de coronavírus acompanhar o padrão de epidemias e guerras passadas, a SPX ressalta ser possível esperar dois movimentos sociais muito fortes: fúria e euforia.

“O primeiro é a revolta contra tudo aquilo que causou o sofrimento. O caso óbvio é a vilificação [depreciação] da China, apenas uma constatação, sem juízo de valor”, indica. Nesse caso, as cadeias de produção mundiais seriam realinhadas.

Outra revolta menos óbvia, porém mais importante no longo prazo, assinala a gestora, seria contra o modelo econômico que criou as injustiças sociais expostas pela pandemia.

“Tudo indica que o Estado terá uma participação maior no ambiente regulatório, na área de saúde, em investimentos e programas sociais. Será um mundo com mais impostos, e naqueles países incapacitados de equilibrar as contas, maior incidência de crises fiscais e cambiais.”

Euforia = consumo aquecido

No que tange à euforia, a SPX menciona relatos históricos pós epidemias e guerras e indica que seria possível imaginar um momento em 2021 em que o consumo seria muito forte, especialmente diante de uma situação em que a poupança das famílias está elevada, com as políticas fiscal e monetária muito expansionistas.

Em uma análise de cunho mais social, a SPX ressaltou que, apesar de mudanças históricas após crises, a natureza humana não melhora com as experiências vividas, sendo mantidos “o egoísmo, o tribalismo e os demais vícios”.

“Ou seja, convém moderar o otimismo com os avanços na questão ambiental e de bem-estar social como resultado desta crise. A história também mostra que eventos desta magnitude acarretam mudanças geopolíticas muito relevantes e que ninguém antevê”, indicou a SPX, fazendo menção ao ataque americano ao Iraque, ao surgimento do Estado Islâmico, a uma guerra civil na Síria e à crise de refugiados na Europa, após o atentado às Torres Gêmeas do WTC em 2001.

“É razoável esperar que a Covid-19 desencadeie eventos de importância semelhante, senão maior.”

Efeitos positivos da crise

Apesar do prognóstico mais cético com relação às mudanças, a gestora também enfatizou que a crise gerou progressos tecnológicos no âmbito da informação, digitalização da saúde, big data aplicado à medicina preventiva e progressos nas relações de trabalho.

E reforçou que esse progresso independe do próximo presidente americano e poderá contrabalançar a perda de produtividade causada por um mundo com mais dívida e regulamentação.

“A máquina do mundo descarrilhou, porém tudo indica que a primeira metade de 2021 será de forte crescimento, com eventuais crises. É tempo de imaginar cenários e de focalizar nas oportunidades de investimento e de arbitragem, pois como cantou Carmen Miranda celebrando o fim da gripe espanhola: ‘Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar (…) beijei na boca de quem não devia, peguei na mão de quem não conhecia, dancei um samba em traje de maiô, e o tal do mundo não se acabou.’”

Alocação

Pressionado pelas exposições em moedas e commodities, o multimercado Nimitz registrou perda de 0,16% em setembro, diante de uma variação do CDI também de 0,16% (positiva). No ano, contudo, o fundo ainda ganha 5,50%, enquanto seu referencial tem variação de 2,29%.

A SPX começa o mês de outubro de olho no aumento dos prêmios de juros, atenta à maior fragilidade fiscal e para as discussões sobre as reformas no Brasil.

“Com o destaque para o programa Renda Cidadã, em detrimento de um avanço na equação fiscal, o mercado passou a precificar um maior risco de elevação dos juros no curto prazo. Acreditamos que a pressão pela extensão do estado de calamidade pública em 2021 ou mesmo manobras criativas para financiar o Renda Cidadã continuarão a pesar sobre o risco dos títulos públicos e sobre a curva prefixada. Por este motivo, seguimos com posições tomadas na parte curta da curva.”

Ainda na renda fixa, na parcela de crédito, a SPX seguiu com posição comprada (com aposta na alta) em títulos de empresas investment grade (grau de investimento) nos mercados desenvolvidos.

Já na América Latina, o foco permanece em nomes que devem ser menos expostos às consequências da pandemia. “Reduzimos nossos hedges para aproveitarmos essa janela pré-eleições americanas, em que vislumbramos um ambiente mais benigno para ativos de risco, com excesso de liquidez e potencial de retorno atrativo em alguns setores.”

Na parte de moedas, a gestora encerrou a posição comprada em euro e seguiu vendida em moedas de países emergentes.

Já em ações, a SPX aproveitou a queda recente de ações de tecnologia na cena externa para comprar seletivamente. De acordo com a carta, a gestora segue comprada em setores mais cíclicos, como o industrial e o de consumo discricionário. Além disso, mantém uma alocação que se beneficiaria de uma reforma tributária nos Estados Unidos.

No mercado de ações brasileiro, a SPX está comprada em empresas dos setores de utilities, telecomunicações e mineração contra o Ibovespa. A gestora ainda disse seguir comprada em metais preciosos e industriais.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.