SÃO PAULO – Em uma carta a cotistas dedicada a avaliar os processos em curso após o choque sem precedentes visto em 2020, a SPX indicou que o próximo ano tende a ser mais favorável, ainda que eventuais crises possam fazer parte do período.
Um teste extremo para os governos, a Covid-19 expôs sistemas e dirigentes incompetentes e as injustiças sociais no mundo, e “esgarçou os limites da política monetária”, diz a gestora de Rogério Xavier.
A taxa de juros básica foi levada a um nível próximo do piso efetivo na maioria dos países desenvolvidos, além de terem sido promovidas operações de liquidez em larga escala. E com efeitos sobre as expectativas dos mercados.
“Dada a necessidade premente de mais estímulo, os bancos centrais são levados a tomar mais risco e imitam decisões de outros bancos centrais, tal como juízes decidem com base em jurisprudência. Como efeito colateral, o mercado financeiro já não precifica claramente expectativas de inflação, solvência e crescimento econômico”, afirma a SPX, no comunicado referente ao mês de setembro.
Se o fim da pandemia de coronavírus acompanhar o padrão de epidemias e guerras passadas, a SPX ressalta ser possível esperar dois movimentos sociais muito fortes: fúria e euforia.
“O primeiro é a revolta contra tudo aquilo que causou o sofrimento. O caso óbvio é a vilificação [depreciação] da China, apenas uma constatação, sem juízo de valor”, indica. Nesse caso, as cadeias de produção mundiais seriam realinhadas.
Outra revolta menos óbvia, porém mais importante no longo prazo, assinala a gestora, seria contra o modelo econômico que criou as injustiças sociais expostas pela pandemia.
“Tudo indica que o Estado terá uma participação maior no ambiente regulatório, na área de saúde, em investimentos e programas sociais. Será um mundo com mais impostos, e naqueles países incapacitados de equilibrar as contas, maior incidência de crises fiscais e cambiais.”
Euforia = consumo aquecido
No que tange à euforia, a SPX menciona relatos históricos pós epidemias e guerras e indica que seria possível imaginar um momento em 2021 em que o consumo seria muito forte, especialmente diante de uma situação em que a poupança das famílias está elevada, com as políticas fiscal e monetária muito expansionistas.
Em uma análise de cunho mais social, a SPX ressaltou que, apesar de mudanças históricas após crises, a natureza humana não melhora com as experiências vividas, sendo mantidos “o egoísmo, o tribalismo e os demais vícios”.
“Ou seja, convém moderar o otimismo com os avanços na questão ambiental e de bem-estar social como resultado desta crise. A história também mostra que eventos desta magnitude acarretam mudanças geopolíticas muito relevantes e que ninguém antevê”, indicou a SPX, fazendo menção ao ataque americano ao Iraque, ao surgimento do Estado Islâmico, a uma guerra civil na Síria e à crise de refugiados na Europa, após o atentado às Torres Gêmeas do WTC em 2001.
“É razoável esperar que a Covid-19 desencadeie eventos de importância semelhante, senão maior.”
Efeitos positivos da crise
Apesar do prognóstico mais cético com relação às mudanças, a gestora também enfatizou que a crise gerou progressos tecnológicos no âmbito da informação, digitalização da saúde, big data aplicado à medicina preventiva e progressos nas relações de trabalho.
E reforçou que esse progresso independe do próximo presidente americano e poderá contrabalançar a perda de produtividade causada por um mundo com mais dívida e regulamentação.
“A máquina do mundo descarrilhou, porém tudo indica que a primeira metade de 2021 será de forte crescimento, com eventuais crises. É tempo de imaginar cenários e de focalizar nas oportunidades de investimento e de arbitragem, pois como cantou Carmen Miranda celebrando o fim da gripe espanhola: ‘Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar (…) beijei na boca de quem não devia, peguei na mão de quem não conhecia, dancei um samba em traje de maiô, e o tal do mundo não se acabou.’”
Alocação
Pressionado pelas exposições em moedas e commodities, o multimercado Nimitz registrou perda de 0,16% em setembro, diante de uma variação do CDI também de 0,16% (positiva). No ano, contudo, o fundo ainda ganha 5,50%, enquanto seu referencial tem variação de 2,29%.
A SPX começa o mês de outubro de olho no aumento dos prêmios de juros, atenta à maior fragilidade fiscal e para as discussões sobre as reformas no Brasil.
“Com o destaque para o programa Renda Cidadã, em detrimento de um avanço na equação fiscal, o mercado passou a precificar um maior risco de elevação dos juros no curto prazo. Acreditamos que a pressão pela extensão do estado de calamidade pública em 2021 ou mesmo manobras criativas para financiar o Renda Cidadã continuarão a pesar sobre o risco dos títulos públicos e sobre a curva prefixada. Por este motivo, seguimos com posições tomadas na parte curta da curva.”
Ainda na renda fixa, na parcela de crédito, a SPX seguiu com posição comprada (com aposta na alta) em títulos de empresas investment grade (grau de investimento) nos mercados desenvolvidos.
Já na América Latina, o foco permanece em nomes que devem ser menos expostos às consequências da pandemia. “Reduzimos nossos hedges para aproveitarmos essa janela pré-eleições americanas, em que vislumbramos um ambiente mais benigno para ativos de risco, com excesso de liquidez e potencial de retorno atrativo em alguns setores.”
Na parte de moedas, a gestora encerrou a posição comprada em euro e seguiu vendida em moedas de países emergentes.
Já em ações, a SPX aproveitou a queda recente de ações de tecnologia na cena externa para comprar seletivamente. De acordo com a carta, a gestora segue comprada em setores mais cíclicos, como o industrial e o de consumo discricionário. Além disso, mantém uma alocação que se beneficiaria de uma reforma tributária nos Estados Unidos.
No mercado de ações brasileiro, a SPX está comprada em empresas dos setores de utilities, telecomunicações e mineração contra o Ibovespa. A gestora ainda disse seguir comprada em metais preciosos e industriais.
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