Dividendos com small caps ou blue chips? ABC Brasil (ABCB4) se destaca diante da queda da Selic

Apesar da volatilidade, algumas small caps podem oferecer bons descontos e proventos elevados para investidores de olho no longo prazo

Katherine Rivas

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Quando um ciclo de queda nos juros inicia, um movimento natural acontece: a retomada das ações na Bolsa. Nos últimos 20 anos, em seis cortes da taxa Selic, cinco se caracterizaram pelo desempenho positivo do Ibovespa, segundo levantamento da XP. A cada 1% de corte na Selic, o principal índice da B3 teve um retorno médio de 7,5%.

Quando o assunto é valorização, as empresas mais sensíveis à queda dos juros e que apresentam um desempenho melhor são as small caps (empresas de baixo valor de mercado, inferior a R$ 10 bilhões). No entanto, se a expectativa é por mais dividendos, as nanicas conseguem superar as empresas grandes e consolidadas, conhecidas como blue chips?

Para alguns analistas, a escolha mais simples é o investimento em blue chips, por se tratar de empresas que já passaram pela fase de expansão – e, portanto, podem destinar uma parcela maior do lucro aos acionistas para o pagamento de proventos, no lugar de reinvestir no próprio negócio.

Estas empresas costumam deter uma participação de mercado relevante, o que traz maior segurança ao negócio como um todo e maior resiliência do ponto de vista da entrega de resultados.

Lucas Serra, analista da Toro Investimentos

Por outro lado, há quem acredite que o investimento em small caps, feito com uma ótica de longo prazo e comprando as ações a preços atrativos, pode favorecer o investidor que procura um dividend yield (taxa de retorno em dividendos) maior.

Esta é a visão de Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama. Para ele, no caso do investidor que está à procura de dividend yield maior, vale a pena procurar as small caps. O motivo é que este tipo de ação é menos “olhada” pelo mercado, o que já traz um desconto nos preços. “O investidor consegue achar um yield de 7%, 8% ou 10% em empresas razoavelmente estáveis, com controlador estável e que são bons papéis para carregar”, pontua.

Soares aponta que mais importante do que o dividend yield é o yield on cost – que é o dividendo em relação ao preço de compra da ação, ou seja, o rendimento no custo. Desta forma, se o preço da ação subir o investidor já terá garantido um bom ganho em proventos.

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Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, lembra ainda do retorno total com a ação – ou total return – que é a soma da valorização dos papéis com o retorno em dividendos.  Segundo ele, nas small caps o retorno total tende a ser maior. “É por isso que em momento de queda dos juros, as small caps são mais atrativas, porque o retorno total é maior”, avalia.

Nem sempre é o tamanho

Contudo, nem sempre é o tamanho da ação que determina se ela serve ou não para uma estratégia de renda passiva. Boas pagadoras de dividendos reúnem características como estar presentes em mercados estáveis, ser dominantes nos seus segmentos, possuir uma boa estrutura de capital, e ter uma situação confortável para devolver recursos aos acionistas.

“É importante observar se a companhia está entrando em um ciclo com maior volume de investimentos nos próximos anos ou se está concluindo estes, ou seja, a perspectiva de a empresa destinar sua geração de caixa em novos projetos”, afirma Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed.

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Em relação a setores, os analistas destacam que é possível encontrar oportunidades para dividendos em setores perenes, como bancos, elétricas, saneamento, seguros e telecomunicações tanto em blue chips como em small caps.

Há ainda setores cíclicos, como commodities e construção civil, que podem acabar se beneficiando pontualmente do ciclo de queda de juros e pagar dividendos interessantes nos próximos dois ou três anos. Os analistas destacam ainda companhias presentes em setores muito nichados, mas com boa geração de caixa.

Small caps com bons dividendos

Quando se trata de small caps em setores perenes, a preferida dos analistas para os próximos meses é o banco ABC Brasil (ABCB4) com dividend yield projetado de até 8%. A empresa faz parte das recomendações da Órama, Levante, Ticker Research e Toro Investimentos.

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Joao Abdouni, analista da Levante, cita que o ABC é um banco lucrativo, que apresentou bons resultados nos últimos dez anos e negocia abaixo do valor patrimonial. “O banco deve continuar remunerando bem os acionistas, com bom potencial de valorização nos próximos 12 meses”, pontua.

O banco ABC trabalha com médias e grandes empresas e é especializado na concessão de crédito. “O banco costuma ter um índice de inadimplência menor do que seus principais pares de mercado, o que faz com que tenha PDDs (provisão para devedores duvidosos) menores”, destaca Serra, da Toro.

Para Serra, com a queda de juros deve ocorrer uma maior demanda de crédito por parte das empresas para desenvolvimento de novos projetos. “Atualmente, a companhia possui um dividend yield de 8,39% e deve permanecer nesse patamar ou apresentar leve aumento em função da margem financeira”, diz Serra. O banco paga juros sobre capital próprio semestralmente.

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Ainda entre as small caps de segmentos perenes, os analistas citam empresas como Alupar (ALUP11), Irani (RANI3) e Sanepar (SAPR11), recomendações que podem vir a integrar uma carteira no longo prazo.

Segundo Piovesan, da Quantzed, a Alupar se encontra fechando um ciclo de investimentos e deve aumentar o payout (parcela do lucro destinada a dividendos) nos próximos meses. “Para 2023, a companhia deve entregar um dividend yield de 7% a 8%, mas para os próximos 12 meses o retorno em proventos deve chegar a 10%”, afirma o analista.

Para Irani, de papel e embalagens, e Sanepar, empresas de saneamento, as projeções da Levante são positivas, esperando rendimentos na casa de 7% e 8%. “Sanepar está negociando a 70% do valor patrimonial, vemos o patamar como atrativo e temos recomendação de compra pela operação resiliente, bons dividendos e valuation [preço] descontado”, cita Abdouni da Levante.

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Small caps de setores cíclicos

Small caps de setores cíclicos, como commodities, construção civil, indústria e até varejo, também podem acabar entregando dividendos maiores com a queda dos juros. No entanto, são alternativas para alocações táticas.

Neste grupo estão companhias como Mitre (MTRE3), com possibilidade de entregar um dividend yield de até 10% nos próximos 12 meses, por conta de uma forte geração de caixa com projetos que estão sendo concluídos.

Ainda na construção, Daniel Nigri, analista do Dica de Hoje Research, cita a holding JHSF (JHSF3), com capacidade de pagar dividendos de entre 7% e 8% nos próximos 12 meses.

Segundo Nigri, a JHSF reúne uma gama de produtos e serviços para alta renda que vão desde incorporação, aeroporto executivo, shoppings, hotéis da marca Fasano e restaurantes. “A companhia tem boa parte da dívida indexada ao CDI [principal indicador de renda fixa] e uma carteira de recebíveis corrigida pela inflação. A queda dos juros vai fechar o descasamento na empresa”, aponta.

Nigri lembra que a companhia vem anunciando desde dezembro de 2022 dividendos mensais, que tem variado de 0,8% a 1,2% ao mês. Ele acredita que a periodicidade dos proventos deve se manter e que a empresa terá oportunidades de ganho de capital com a venda de participação nos shoppings.

Para garantir boa rentabilidade, seria necessário comprar a ação abaixo de R$ 7,80, segundo o analista.

Ainda entre as empresas cíclicas, Duarte, da Ticker, cita Randon (RAPT4), empresa que produz reboques e semirreboques, com dividend yield projetado de 5,4% para os próximos 12 meses.

Ele também cita a fabricante de silos Kepler Weber (KEPL3) e a empresa de porcelanato Portobello (PTBL3) que podem entregar um retorno dividendos de 5,5% e 6,5%, respectivamente. No caso da Kepler, Duarte acredita que a queda dos juros deva facilitar novos financiamentos de silos enquanto na Portobello, juros mais baixos vão impulsionar as vendas.

Há ainda a Bradespar (BRAP4), holding que investe na mineradora Vale, que atualmente possui um dividend yield de 12,5% e um desconto significativo frente a investida. No entanto, Serra, acredita que o yield possa diminuir marginalmente nos próximos 12 meses se a cotação da Bradespar aumentar. A holding acaba ficando mais exposta ao preço do minério de ferro.

Estranhos no ninho

Existem ainda empresas resilientes dentro de segmentos de nicho. No caso do setor de tecnologia, Soares, da Órama, cita nomes como a CSU Digital (CSUD3), líder em fornecimento de infraestrutura para cartão de crédito para terceiros.

“A empresa é dominante, tem as finanças equilibradas e um fluxo de caixa positivo para pagar dividendos interessantes na casa dos 6% ou 7% de yield”, afirma.

Outra empresa semelhante é a Valid (VLID3), que atua nos segmentos de emissão de carteira de identidade, CNH, impressão de cartão de crédito e telecom, tendo como cliente o governo e empresas semelhantes a CSU. “O dividend yield caiu para 4% para financiar crescimento, mas já chegou a pagar 5% no passado”, observa Soares.

Ainda entre os nichos está a Wilson Sons (PORT3), que trabalha nos segmentos de porto e navio de reboques, e está mais focada no comércio internacional com containers. “É um segmento mais estável, com pouca volatilidade”, diz Soares.

Em um mercado com poucos competidores e razoavelmente oligopolizado, a expectativa da Órama é que a companhia alcance o patamar de 6% em dividend yield com a geração de caixa. “Estamos convictos de que a Wilson Sons vai ter um pagamento de dividendos muito melhor nos próximos dois anos”, pontua o analista.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.