Selic deveria subir até 3 pontos e zeramos Bolsa Brasil, diz Cordeiro, da Kapitalo

Executivo também acredita que o Fed deveria reduzir o juro em até 2 pontos percentuais nos Estados Unidos

Bruna Furlani

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A discussão sobre a magnitude da alta de juros no Brasil tem sido o principal tema nas conversas entre investidores, desde que diretores e o próprio presidente do Banco Central foram mais vocais ao colocar uma eventual elevação da Selic na mesa.

Bruno Cordeiro, gestor do K10 da Kapitalo Investimentos, avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria elevar a Selic entre 2 e 3 pontos percentuais ao longo do ciclo de alta, o que levaria a taxa básica de juros para patamares a partir de 12,50% até 13,50% ao ano.

A visão foi compartilhada pelo executivo durante entrevista exclusiva ao InfoMoney, gravada durante a Expert XP 2024, no último sábado (31). Segundo ele, as projeções da casa para a inflação do ano que vem estão bem acima de 4%. Apesar de defender que um aperto monetário mais forte seria o melhor para garantir a convergência da inflação à meta, o profissional acredita que o ciclo de puxada do BC será bem menor, entre 0,75 e 1 ponto percentual, o que poderia elevar a Selic até 11,50%.

Ao ser questionado se vê uma chance de que a autoridade monetária não realize uma alta a partir da próxima reunião, Cordeiro diz que isso é “pouco provável” diante da repercussão negativa que teria uma atitude como essa. “O mercado já tem hoje mais do que 25 pontos-base [0,25 ponto em setembro]. Se não fizer, pode ser que ele [BC] acabe tendo de fazer mais depois do que fez agora”, observou.

No dia da entrevista, Cordeiro explicou que estava apenas com pequenas posições em juros no Brasil. Para ele, o processo de transição da presidência do Banco Central e os ruídos recentes em torno das falas de membros do Comitê de política monetária elevam o receio em montar alocações maiores nessa classe de ativos.

“Quando você está fazendo uma alocação em juros curtos, você tem que ter uma visão muito clara do que o BC quer fazer. Não é o que você acha que ele deveria fazer, mas o que ele quer fazer”, diz.

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Bolsa Brasil

De olho na necessidade de um ciclo de alta de juros e nas dificuldades do Brasil em equilibrar as contas públicas, Cordeiro afirma que zerou recentemente uma posição direcional que detinha em Bolsa brasileira. O gestor explica que agora ele estaria mais inclinado a vender do que comprar ações na análise top down (quando o investidor olha primeiro para o quadro geral, observando fatores macroeconômicos, depois para as perspectivas dos setores da economia e, só então, para as empresas), ainda que a casa possua posição em papéis específicos.

O executivo conta que a resposta do governo em relação ao ajuste fiscal veio aquém do esperado por ele, embora tenha tido um esforço por parte do Ministério da Fazenda em prestar contas ao mercado. “Se tivesse um custo político e uma entrega maiores, estaríamos com preços bem acima do que estão agora, tanto na moeda quanto na renda fixa e Bolsa”, afirmou.

O executivo destaca ainda que os valuations (preços) das ações estão “bons” e que ficar com uma posição vendida (que se beneficia da queda) é “dureza”. “Se os valores fossem mais na média, eu ia querer ficar short [apostando no recuo dos preços], dada a discussão de renda fixa”.

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Olho no Fed

Já ao comentar sobre a política monetária americana, Cordeiro avalia que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deveria realizar um ciclo de corte de juros entre 1,50 ponto e 2,00 ponto, ainda que acredite que apenas uma redução de 1 ponto percentual esteja garantida, por enquanto.

Segundo ele, a autoridade monetária dos Estados Unidos deveria estar mais preocupada agora com a volta do mercado de trabalho, que passa por uma desaceleração, do que com a inflação, que apresenta melhora. “Na nossa cabeça, o Fed deveria levar o juro para próximo do neutro, que é perto de 3%”.