Selic em 10,50%: como investir enquanto taxa de juros ainda é de dois dígitos

Copom decidiu desacelerar o ritmo de cortes da Selic e reduziu a taxa em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira (8); veja recomendações para renda fixa, fundos e ações

Leonardo Guimarães Wellington Carvalho

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O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) desacelerou o ritmo de afrouxamento monetário e decidiu cortar a Selic em menor grau, em 0,25 ponto percentual. Agora, a taxa básica de juros vai a 10,50% ao ano, e deve ficar em dois dígitos por mais tempo do que se esperava no começo do ano.

Se antes analistas já viam força na renda fixa, o argumento a favor da classe ganha ainda mais peso. Na renda variável, é tempo de buscar proteção e aproveitar oportunidades pontuais, aqui e nos Estados Unidos, dizem especialistas consultados pelo InfoMoney. Veja as principais impressões e recomendações de investimento para cada classe de ativo: 

Renda fixa pública

No Tesouro Direto, houve uma mudança de perspectiva sobre os prefixados na comparação com a última reunião do Copom. Agora, os analistas enxergam prêmio nos papéis que pagam 11,50% ao ano. “Vemos o prefixado para 2035 retornando ao patamar de remuneração de 10% a 10,50% ao ano, o que daria um fechamento de 100 pontos-base ainda em 2024″, diz Caio Schettino, head de alocações da Criteria, que aponta oportunidade para investidores mais arrojados, que conseguem lidar com volatilidade, e podem lucrar com a venda antecipada do título. 

Para quem suporta menos volatilidade, o Tesouro IPCA+ também tem potencial de fechamento de taxas, diz, o que significa janela tanto para saída antes da hora quanto para carregar títulos com boa remuneração até o vencimento. Ativos indexados à inflação são preferência na XP, seja por fundos ou títulos, especialmente os com vencimentos intermediários, entre 2028 e 2030. Já a Verde zerou posição em Tesouro IPCA+.

Para Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, até os ativos indexados ao CDI seguem como boas escolhas. “Todas as curvas de juros estão em patamares altos, temos juro real significativo em todos os indexadores”, diz. 

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Renda fixa privada

Na Sparta, a preferência é por ativos de empresas de grande porte e forte geração de caixa, chamados de high grade, que pagam menos que as de empresas consideradas mais arriscadas, mas oferecem segurança ao investidor, diz o CEO da casa. “O crédito está num momento favorável, mas não necessariamente ideal para as empresas, [pois] representa custo. Então é melhor ficar no crédito privado de melhor qualidade do que se arriscar”, avalia o profissional. Schettino, da Criteria, observa de perto os setores de energia e saneamento, nos quais se destacam nomes como Sabesp, Aegea, Equatorial e Transmissão Paulista.

Ações brasileiras

Analistas concordam que a Bolsa brasileira está barata – o Preço/Lucro (indicador formado pela divisão de preço atual por lucro) do Ibovespa está em 7,9x, abaixo da média histórica. Mesmo asim, “o fluxo para Bolsa continua muito baixo”, segundo Fernando Donnay, sócio e portfolio manager da G5 Partners. “Gostamos muito da exposição a ações no momento atual, mas com tamanho reduzido em nossos portfólios”, diz o especialista. 

Nesse contexto, as empresas consideradas defensivas, como bancos, elétricas e de infraestrutura se destacam. Itaú (ITUB4), BTG Pactual (BPAC11) e Sabesp (SPSB3) estão entre as mais recomendadas por dez corretoras ouvidas pelo InfoMoney. Em relatório, a XP diz que “para exposição direta em ações, o foco deve ser nas empresas de maior qualidade”.

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Para os mais arrojados, Schettino fala sobre o setor de construção civil: “é uma forma diferente de se expor a juros, já que são empresas sensíveis aos ciclos econômicos e com endividamento alto, mas têm bom histórico e operam abaixo do valor patrimonial”, explica. A Cyrela (CYRE3) foi uma ações mais recomendadas por corretoras em maio.

Ações americanas

Após nova queda da Selic, a diferença entre juros brasileiros e americanos está ainda menor, o que tende a desvalorizar o real e, dessa forma, “quem internacionalizou seus investimentos adiciona proteção à carteira”, como explica Raphael Figueredo, CEO e estrategista-chefe da Eleven Financial. Para ele, “é importante priorizar empresas fortes em geração de caixa e com resultados previsíveis, como empresas ligadas a commodities metálicas e de energia”.

Schettino, da Criteria, ainda considera importante ter na carteira ETFs com setores que ainda não têm força no Brasil, como biotecnologia e inteligência artificial. Ele cita a Eli Lilly, produtora do remédio para diabetes Mounjaro; e a Novo Nordisk, que produz o Ozempic – mas prefere ETFs “porque naturalmente acompanham a tendência”.

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Fundos Imobiliários (FIIs)

O mercado de fundos imobiliários acendeu a luz amarela com a recente escalada dos juros futuros, e interrompeu uma sequência de cinco meses seguidos de ganhos. No entanto, o novo corte da Selic dá um fôlego a mais aos FIIs. “Estatisticamente é bem maior a correlação negativa (quando um cai o outro sobe) da Selic com os FIIs”, lembra Alessandro Vedrossi, da Valora Investimentos. “E a Selic hoje ainda está maior do que o valor esperado pelo mercado para o fim do ano, de 9,6%”, reflete o gestor, sinalizando que ainda há espaço para novas altas dos fundos imobiliários.

Vedrossi aponta que os FIIs de “tijolo” – que investem diretamente em imóveis como escritórios, galpões logísticos e shoppings – tendem a se beneficiar mais com o cenário. Mas ele pondera que há bons fundos de “papel” – focados em títulos de renda fixa – com descontos interessantes.  

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Larissa Nappo, analista do Itaú BBA, vê potencial em fundos com ativos bem localizados e que possuem viés de alta nos rendimentos através de aumento de aluguel, redução de alavancagem (endividamento) e reciclagem do portfólio (compra e venda de imóveis).

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Fundos de Investimento

Com Selic ainda acima dos 10% e perspectivas satisfatórias para a inflação e crescimento do País o crédito privado via fundos “continua sendo muito interessante, tanto com papéis atrelados à taxa do CDI como ao IPCA”, avalia Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito e multimercados da Rio Bravo, referindo-se especialmente às carteiras alocadas em títulos de dívida de empresas privadas não financeiras.

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Ele também sugere uma participação dos multimercados no portfólio do investidor pessoa física, mas recomenda cuidado com os fundos do tipo macro – que analisam a conjuntura econômica para tomar decisões –, dado o fraco desempenho nos últimos meses.