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SÃO PAULO – A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) deu início, em agosto, à publicação de uma série de alertas para os investidores em seu site educacional. O objetivo é chamar a atenção do investidor para operações ou condutas que mereçam especial observação – o primeiro deles é o Forex, que tem sido alvo de reclamações de diversos investidores.
Apesar de pouco conhecido, o Forex é um dos maiores mercados no mundo, e movimenta algo entre US$ 1 trilhão e US$ 3 trilhões diariamente. Por ser formado pelas transações de instituições financeiras que operam nesse mercado, o Forex não conta com uma estrutura física – e é chamado de mercado de balcão, já que as transações são realizadas diretamente entre as partes por telefone, sistemas eletrônicos e internet. As operações são realizadas 24 horas por dia, de forma quase ininterrupta.
Como funciona o Forex
A operação no Forex é baseada na negociação das moedas em pares – ou seja, ao investir nesse mercado, o investidor não compra dólares, reais ou euros, mas sim uma relação de troca entre duas moedas.
Como as cotações cambiais variam livremente, o investidor pode, ao observar as tendências, apostar na valorização ou na desvalorização de uma moeda frente à outra (do dólar em relação ao real, por exemplo). Assim, ele investe em uma taxa de câmbio entre duas moedas. Os ganhos – ou perdas – são contabilizados pelas diferenças entre a valorização destas moedas.
Acompanhe uma simulação desta operação, tomando como exemplo uma negociação da relação de troca entre euro e dólar:
Investimento | Cotação do par (compra/venda) | Equivalente em moeda (EURO – DÓLAR) |
|
Compra de 1 lote EUR/USD | 1,0450 / 1,0500 | +100.000 | -105.000 |
Venda de 1 lote EUR/USD | 1,0550 / 1,0600 | -100.000 | +105.500 |
Resultado bruto | — | 0 | +500 |
Custos da operação (estimativa) |
— | — | -100 |
Resultado líquido | — | — | +400 |
No exemplo acima, um investidor apostou que o euro ia se valorizar em relação ao dólar norte-americano, e comprou um lote de EUR/USD – uma compra de € 100.000 usando dólares, com a cotação inicial de US$ 1,0450 na compra e US$ 1,0500 na venda. Se o investidor estiver certo, ele pode vender o lote adquirido pela nova cotação (se desfazendo dos euros e comprando dólares), no exemplo citado de US$ 1,0550 na compra e US$ 1,0600 na venda , obtendo um lucro líquido de US$ 400 – menos de 0,5% de retorno.
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Alavancagem
Mas com retornos aparentemente pequenos para um investimento grande – US$ 105.000 – como o Forex pode ser um dos mercados mais lucrativos? A resposta é que esse mercado permite alavancagem – o que pode ser uma grande vantagem, ou um enorme problema para o investidor.
Nesse tipo de operação, o investidor precisa investir somente uma parte do valor que quer realmente aplicar – essa parcela é conhecida como margem, que é necessária somente para cobrir as variações diárias dos pares de moedas.
“No sentido figurado, a operação se assemelha a um sistema de alavanca, em que se faz a força necessária para levantar 1 kg, mas se consegue suspender 100 kg”, aponta a CVM. A margem varia – em algumas corretoras internacionais, a proporção é de 100:1 – o que permite que o investidor deposite US$ 1.000 e faça uma operação com valor de referência de US$ 100.000.
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Mas, da mesma forma que o potencial de ganhos é grande, as perdas também podem ser. Uma perda de 1% em US$ 100.000 representa perda de 100% da margem de US$ 1.000 depositada. “Assim, embora as moedas não apresentem grande variação diária, a alavancagem pode transformar uma pequena oscilação negativa em um grande prejuízo”.
Utilizando o exemplo da tabela acima, mas considerando uma operação com margem de 0,5%. Se o investidor acertou sua previsão, e o dólar se desvalorizar em relação ao euro:
Depósito | Resultado líquido | % de lucro |
US$ 500 | + US$ 400 | +80% |
Entretanto, se o investidor errou, e o euro se desvalorizar em relação ao dólar na mesma proporção anteriormente proposta, na mesma operação com margem de 0,5%:
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Depósito | Resultado líquido | % de perda |
US$ 500 | – US$ 400 | -80% |
Como investir em Forex no Brasil?
Apesar de ser um mercado internacional, as corretoras que oferecem investimentos no Forex são registradas nos órgãos governamentais dos países em que atuam – no Brasil, esse registro teria que ser feito junto à CVM, pois o Forex é considerado um tipo de derivativo. A CVM destaca que, no País, atualmente não há ainda corretoras registradas no órgão que participem na oferta de Forex.
Para investir nesse mercado é necessário enviar os recursos para uma conta na negociadora (dealer) – e, como não existem instituições autorizadas a realizar esse tipo de operação no mercado nacional, é necessário fazer uma transferência para o exterior.
“Não há ilegalidade em um brasileiro realizar um investimento no estrangeiro, que pode ser a aquisição de um instrumento financeiro ou até de uma casa, desde que sejam observadas as normas aplicáveis, inclusive as definidas pelo Banco Central do Brasil, assim como seja realizado através de instituições regularmente constituídas para o exercício da atividade”, afirma a CVM.
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Quem investe
O Forex permite também realização de estratégias de proteção (“hedge”) contra variações na taxa de câmbio, o que pode ser particularmente útil para quem possui receitas ou despesas afetadas pela cotação de determinada moeda, como exportadores. “No caso de pessoas físicas, essa necessidade pode se manifestar quando elas sabem que terão uma despesa em moeda estrangeira em data futura”.
“O Forex não se destina apenas a pessoas interessadas em realizar investimentos lucrativos – mas também a indivíduos e instituições que tenham interesse em transacionar com divisas, como importadores e exportadores”, explica a CVM. Entretanto, a predominância é de investidores, buscando lucrar ou especular.