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Após alcançar um lucro de R$ 13,3 bilhões em 2021, trabalhadores com contas vinculadas ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) receberam a notícia de que vão ter acesso a cerca de 99% do lucro líquido obtido pelo fundo, com base nos resultados de 2021.
À primeira vista, a informação pode parecer animadora, mas os números mostram que o retorno que deve ser oferecido pelo FGTS em 2021 vai ficar abaixo da inflação pela primeira vez desde 2016. Ou seja, ao deixar o dinheiro no fundo, o investidor estará perdendo poder de compra, que será corroído pelo avanço da alta de preços.
Segundo a Caixa Econômica Federal, a estimativa de rentabilidade do FGTS em 2021 deve ficar em torno de 5,83%. A título de comparação, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminou o ano passado em 10,06%.
Os números são sempre divulgados no ano seguinte ao ano exercício, que no caso é 2021, justamente porque há certa demora em apurar os resultados.
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Tradicionalmente, o FGTS remunera os recursos dos trabalhadores a uma taxa de 3% ao ano, mais a variação da Taxa Referencial (TR), que estava em zero no ano passado, acrescida de uma taxa baseada na distribuição de lucros.
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Embora o retorno tenha crescido, ele não foi suficiente para superar a alta de preços em 2021, ao contrário de anos anteriores. Em 2020, por exemplo, o ganho oferecido pelo FGTS foi de 4,92%, contra um IPCA de 4,52%. Da mesma forma, em 2018, o retorno do FGTS chegou a 6,18%, acima dos 3,75% registrados pela inflação oficial durante o período.
FGTS X IPCA |
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Ano | Retorno do FGTS | IPCA |
2021 | 5,83% | 10,06% |
2020 | 4,92% | 4,52% |
2019 | 4,90% | 4,31% |
2018 | 6,18% | 3,75% |
2017 | 5,59% | 2,95% |
2016 | 7,14% | 6,29% |
Fonte: Caixa Econômica Federal e IBGE
O levantamento leva em conta os retornos obtidos entre 2016 e 2021 porque houve uma mudança recente nos rendimentos do FGTS. No fim de 2016, o governo do então presidente Michel Temer aprovou uma medida provisória que aumentou a remuneração das contas individuais para que fosse distribuída parte do resultado obtido no exercício financeiro – com foco em incrementar os retornos do fundo.
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Logo, a primeira distribuição de lucros começou a valer a partir de 2017, com base nos resultados compilados no ano exercício anterior, que foi 2016.
Antes disso, o lucro era reaplicado no próprio FGTS, o que deixava o rendimento do fundo ainda mais minguado e fazia com que ele fosse facilmente superado pela inflação.
FGTS X Poupança X CDBs X Tesouro
Embora os retornos tenham melhorado ao longo dos últimos anos, a rentabilidade oferecida pelo fundo deve seguir abaixo dos ganhos obtidos com outros investimentos, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e títulos do Tesouro Direto, por exemplo.
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De acordo com cálculos de Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), a rentabilidade do FGTS pode chegar a 6,50% neste ano, lembrando que o número envolve uma projeção. O percentual leva em conta a taxa de 3% ao ano, acrescida da TR de 0,13% ao mês (ou 1,57% no ano), juntamente com uma taxa de 1,93%, que seria obtida com a distribuição dos lucros, se ela ocorrer em patamares próximos ao visto no ano passado.
A simulação, segundo Oliveira, é bastante conservadora, mas ajuda a dar uma ideia sobre quanto que o investidor pode obter de lucro. O especialista explica que é difícil precisar, porque parte do rendimento do FGTS dependerá do avanço da Selic neste ano, além do cenário de recessão global, juros nos Estados Unidos e etc.
Nesse sentido, nos cálculos do profissional, caso deixasse R$ 1 mil aplicados no FGTS neste ano, o investidor poderia receber R$ 1.065 após 12 meses. O rendimento é líquido de Imposto de Renda (IR) porque o FGTS possui isenção tributária.
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Já se optasse por aplicar em um título público de liquidez mais rápida como o Tesouro Selic, a pessoa receberia R$ 1.108,89 ao fim de um ano, o que seria equivalente a um retorno de 10,89%. Os cálculos têm como base simulação feita pelo Tesouro Direto e levam em conta uma Selic em 13,25%.
Da mesma forma, a rentabilidade obtida com o FGTS perderia para um CDB que oferece 100% do CDI. Segundo simulações feitas pelo InfoMoney, se deixasse R$ 1.000 aplicados ao longo de um ano em um título de dívida com esse retorno, o investidor receberia R$ 1.106,50. Ou seja, o ganho líquido seria de 10,65%. Os cálculos consideram um CDI de 13,15%.
Simulação de rendimento de R$ 1 mil aplicados por um ano |
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Tipo de investimento | Retorno | Valor recebido* |
FGTS | 6,50% | R$ 1.065,00 |
Poupança | 7,84% | R$ 1.078,40 |
CDB 100% do CDI | 10,65% | R$ 1.106,50 |
Tesouro Selic | 10,89% | R$ 1.108,89 |
*A simulação leva em conta o prazo de um ano para os investimentos e não inclui a variação da inflação. Os valores são líquidos de IR. O percentual de CDI considerado foi de 13,15% e de Selic foi de 13,25%. O valor da TR é de 0,13% ao mês, segundo cálculos feitos pela XP Investimentos. O percentual calculado para o FGTS representa uma projeção. Fonte: InfoMoney, Tesouro Direto e Miguel de Oliveira.
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Saque-aniversário: vale a pena?
Diante de ganhos cada vez menores, o investidor pode se questionar se vale a pena realizar o saque-aniversário do FGTS, modalidade que permite a retirada de parte do saldo da conta sempre no mês de aniversário do trabalhador.
Planejadoras financeiras ouvidas pelo InfoMoney afirmam que a opção pode ser interessante em alguns casos: para quem está de olho em obter retornos acima da inflação; já possui uma reserva de emergência; e tem estratégia ou objetivo em mente para o dinheiro.
“Como o FGTS foi originalmente pensado para atender o trabalhador em uma situação inesperada como uma demissão, caso o contribuinte não tenha um planejamento financeiro e uma reserva de emergência, é preciso pensar nessa hipótese”, pondera Fernanda Melo, planejadora financeira CFP.
Por outro lado, se o investidor já possuir um dinheiro com maior liquidez para o caso de imprevistos, a alocadora diz que não faz sentido manter os valores no FGTS, uma vez que o fundo tende a render menos do que a inflação, que já está 11,89% nos últimos 12 meses.
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Dessa forma, uma alternativa é buscar aplicações que garantem a manutenção do poder de compra, caso dos títulos do Tesouro Direto chamados Tesouro IPCA+, conforme sugere a planejadora financeira CFP, Myrian Lund.
Além de serem uma opção para quem deseja se proteger contra a inflação, tais papéis são emitidos pelo governo para financiar a dívida pública, o que faz com que tenham risco de crédito considerado soberano, ou seja, extremamente baixo.
Embora acredite que o saque-aniversário possa fazer sentido em alguns casos, Myrian alerta que é preciso cuidado, porque que é “temerário” que o investidor retire o valor do FGTS sem um objetivo ou uma estratégia específica.
Ela lembra que, se a pessoa não tiver conhecimento sobre mercado financeiro, pode ser que aplique o valor na poupança, o que não seria um bom investimento. A alocadora pondera que como a Selic deve permanecer acima de 8,5% até 2023, a tendência é que o FGTS renda mais do que a poupança nos próximos anos.
Desde 2012, quando a taxa básica de juros supera 8,5% ao ano, a rentabilidade deixa de ser de 70% da Selic mais TR (Taxa Referencial) e passa a ser fixa de 0,5% ao mês – ou 6,17% ao ano – mais a TR.
“Não pode olhar só a rentabilidade. É preciso olhar o objetivo. Eu acredito que pode ser uma opção boa manter o FGTS para comprar um apartamento, ter uma reserva na aposentadoria”, defende Myrian.
As preocupações da alocadora se concentram em investidores que aproveitar o saque para gastar, ou para aplicar em investimentos de renda variável em que a volatilidade é maior e que podem gerar mais sustos para um iniciante.
Entenda o saque-aniversário
Diante de retornos que devem seguir mais baixos, os trabalhadores que desejarem aderir ao saque-aniversário precisam ter atenção a alguns aspectos.
De acordo com a Caixa Econômica Federal, quem optar pelo saque-aniversário até o último dia do mês de seu aniversário poderá receber o valor da parcela no mesmo ano da opção, e os recursos ficarão disponíveis para saque até o último dia útil do segundo mês subsequente ao da aquisição do direito de saque.
Caso o trabalhador não saque o recurso até essa data, ele volta automaticamente para a sua conta no FGTS. Segundo a Caixa, quem optar por essa modalidade consegue movimentar a conta sempre que for preciso.
As exceções são em casos em que ocorrer demissão sem justa causa, rescisão por culpa recíproca ou força maior, rescisão em comum acordo entre o trabalhador e empregador, extinção do contrato de trabalho a termo e temporário, falecimento do empregador individual, falência da empresa ou nulidade de contrato e suspensão do trabalho avulso.
Nesses casos, é garantido ao trabalhador o saque da multa rescisória, quando devida.