Comprou título do Tesouro com juros prefixados? Saiba a hora certa de vender

Efeitos da marcação a mercado foram positivos na carteira do investidor de renda fixa, mas há volatilidade pela frente

Leonardo Guimarães

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Quem comprou títulos do Tesouro no ano passado com remuneração prefixada já se mexe para entender se chegou a hora de vender antes do vencimento e, assim, embolsar um lucro maior.

A renda fixa é amplamente recomendada para a construção de patrimônio a longo prazo, então especular sobre os papéis – comprar um ativo para vendê-lo antes do vencimento – não está entre as melhores práticas para o investidor comum, segundo especialistas. Porém, os ativos mais seguros do Brasil garantem rendimentos altos para quem vende na hora certa.

Um exemplo é o Tesouro Prefixado 2029. Quem comprou em novembro do ano passado – quando as taxas chegaram ao pico – e saiu da aplicação na última segunda-feira (23) teve retorno de 21,64%, bem acima dos 11,50% oferecidos pelo título atualmente.

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O cálculo, feito pelo Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, a pedido do InfoMoney, mostra que é possível ter lucro rápido na renda fixa. Nos últimos 12 meses, a rentabilidade do Tesouro Prefixado 2026 é de 14,92%, enquanto a do prefixado para 2033 é de 16,24%.

A rentabilidade robusta é possível graças à marcação a mercado, um mecanismo de reajuste diário dos preços de ativos de renda fixa. Nesse processo, taxa e preço são inversamente proporcionais: se a taxa de um ativo sobe, o preço cai e vice-versa.

Exemplo: Se um investidor compra um prefixado com taxa de 10% ao ano e esse juro cai para 8%, ele pode ter lucro ao vender o papel antecipadamente, já que tem na carteira um ativo que paga mais do que o oferecido atualmente no mercado. O contrário também é verdadeiro: se a taxa desse mesmo ativo sobe para 12% ao ano, por exemplo, vender o papel antes do vencimento traria prejuízo ao investidor.

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Por conta dessas nuances, a estratégia não é indicada para todos os investidores.

Para Ricardo Jorge, sócio da Quantzed, a especulação com ativos de renda fixa deve ficar restrita a investidores profissionais, que acompanham o mercado diariamente e conseguem calcular o momento de entrada e saída nos papéis. “Quem precisa vender (não faz por opção) um título agora é porque não fez um bom planejamento”, diz o especialista.

É uma boa hora para vender?

Quem conseguiu comprar títulos públicos com taxas altas pode estar se perguntando se é hora de vender e embolsar o lucro da operação, ou se é melhor carregar os ativos até o vencimento.

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André Alírio, analista da Nova Futura Investimentos, diz que investidores já procuram a casa para saber o que fazer. Para eles, o especialista avisa: “haverá volatilidade nos próximos meses até que os Estados Unidos comecem a reduzir juros”.

Portanto, quem tem estômago e pensa em vender antecipadamente, esperar pode ser um boa opção para tentar alcançar lucro maior, já que as taxas de juros voltaram a subir recentemente com incertezas sobre a economia americana, diz Alírio.

A recomendação vale especialmente para o investidor com perfil mais conservador: é melhor ficar com um pássaro na mão e esquecer os outros dois voando. “Vale a pena realinhar o portfólio pensando em títulos mais curtos, reduzir a exposição a IPCA e prefixados e aumentar a parcela de pós-fixados”, aconselha o analista da Nova Futura.

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E se decidir vender, o que fazer com o dinheiro?

Quem escolher sair agora dos prefixados e garantir lucros robustos pode reinvestir o dinheiro resgatado.

Para especialistas, a renda fixa americana oferece, hoje, uma boa relação entre custo e benefício. Os juros dos títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries) estão próximos às máximas em 16 anos, com alguns papéis superando os 5% ao ano.

Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, lembra que os Treasuries “podem ser uma realidade para o investidor, inclusive via corretoras brasileiras”. “As taxas contratadas ao final de 2022 são acima da média histórica no Brasil, faria sentido manter a aplicação”.

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Fonseca recomenda, no entanto, que o investidor também avalie os custos de oportunidade em outras classes de ativo, os potenciais de valorização e riscos envolvidos. A análise é individual e depende do perfil do investidor, seu momento de vida, as apostas que tem para o futuro do mercado financeiro e outros fatores, explica.

Olho nos Estados Unidos

Para tomar uma decisão consciente, é importante considerar os fatores macroeconômicos que devem influenciar os preços nos próximos meses e, consequentemente, a rentabilidade da carteira do investidor no curto prazo.

Os Estados Unidos devem seguir no centro das atenções, já que há muita incerteza sobre a trajetória da inflação e dos juros por lá. Investidores ainda estão preocupados com a dívida dos EUA, que bateu recorde e chegou a US$ 33 trilhões em setembro.

O conflito entre Israel e Hamas também deve ficar no radar dos investidores. “Enquanto o conflito estiver restrito entre às duas forças, talvez não tenhamos um grande problema global, mas há o risco de envolvimento do Irã, o que pode causar uma escalada na tensão e impactar de maneira significativa o câmbio”, diz Ricardo Jorge.

Entre os fatores que podem ser positivos para a carteira de quem tem títulos públicos e quer lucrar com a marcação a mercado está a melhora na percepção de risco fiscal no Brasil. “É preciso uma sinalização do governo em relação a corte de gastos e aumento da arrecadação, um governo que emite menos dívida”, afirma Fonseca.

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