Renda fixa mais atraente leva empresas como Mercado Livre a recorrer aos CDBs para levantar recursos

Entre janeiro e maio deste ano, emissões somaram R$ 5,1 bilhões – valor próximo ao verificado entre março e dezembro de 2021

Bruna Furlani

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Quem andou espiando as prateleiras de renda fixa das corretoras e plataformas de investimentos nos últimos meses deve ter percebido que elas estão mais cheias e mais diversas. Os juros mais altos têm atraído os investidores para aplicações como os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) – uma demanda que foi notada não apenas pelos bancos tradicionais, mas também por empresas antes focadas em outros segmentos.

É o caso do Mercado Livre, que tem apostado fortemente nos CDBs para captar recursos e financiar suas atividades.

Apenas entre janeiro e maio, as emissões de CDBs pela empresa somaram R$ 5,1 bilhões – quase tanto quanto os R$ 5,5 bilhões verificados entre março de 2021 (quando deu início a esse tipo de captação) e dezembro. O emissor dos papéis é a Mercado Crédito SCFI, financeira da empresa.

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“É uma maneira inteligente de levantar dinheiro rápido. Há mais empresas descobrindo essa forma de financiamento”, diz Catherine Menezes, head de alocação da Braúna Investimentos, para quem o movimento – que já vinha sendo realizado por redes de varejo, como a Pernambucanas – parece ser uma tendência. “As empresas tomam esse empréstimo via CDBs a taxas menores do que se emitissem debêntures, porque neles há a garantia do FGC [Fundo Garantidor de Crédito]”.

Tiago Azevedo, CFO do Mercado Livre no Brasil, explica que o principal objetivo de levantar recursos com CDBs é oferecer capital de giro para os vendedores da plataforma. O executivo observa que em caso de vendas parceladas, por exemplo, o Mercado Livre consegue adiantar os recursos ao lojista em um ou dois dias úteis por meio dessas captações.

As emissões também servem para conceder crédito aos usuários da plataforma, especialmente no cartão de crédito do Mercado Pago, fintech do Mercado Livre. Nos últimos três meses, a captação média foi de cerca de R$ 1,1 bilhão por mês.

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Entre CDBs e outros produtos, como Letras Financeiras e operações de mesa interbancária, o Mercado Livre possui uma posição de R$ 5,3 bilhões atualmente, valor que, segundo Azevedo, a empresa espera dobrar até o fim do ano.

CDBs atrelados à inflação e de curto prazo

A empresa também têm adaptado as condições ao gosto dos investidores. O CFO Tiago Azevedo lembra que as primeiras emissões ofereciam a taxa do CDI (referência da renda fixa) acrescida de um spread, ou uma taxa adicional como remuneração. Mas com o aumento do interesse por produtos que oferecem proteção contra a inflação, o Mercado Livre passou a emitir também papéis indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

“Vamos manter as duas modalidades. O que vimos foi um interesse grande por CDBs atrelados ao IPCA, mas a demanda por CDI mais spread também segue alta”, diz Azevedo.

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O Mercado Livre também tem priorizado CDBs de prazo mais curto, de três a seis meses – tanto pelo custo (que é menor) quanto pelo uso que faz dos recursos que levanta. As operações têm como foco financiar os negócios fechados na plataforma e o uso do cartão do crédito.

“Não faz sentido ter CDBs muito longos. Pela dinâmica de mercado, a liquidez de curto prazo e os spreads de ativos de liquidez diária são mais baratos. Há uma flexibilidade maior e as taxas não costumam ser tão altas”, afirma o Azevedo.

Quais são os riscos?

Para os especialistas ouvidos pelo InfoMoney, é importante que o investidor seja cauteloso e opte por diversificar os emissores ao investir em um CDB para reduzir os riscos.

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Embora a empresa tenha o e-commerce como atividade fim, o emissor, lembra a planejadora financeira Myrian Lund, é uma financeira, com patrimônio separado do comércio eletrônico.

Myriam também chama a atenção para o fato de os CDBs possuírem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que devolve até R$ 250 mil por investidor (CPF) e por instituição financeira, até o teto de R$ 1 milhão renovado a quatro anos, em caso de problemas como uma intervenção do Banco Central na instituição.

Mas faz um alerta: em caso de quebra do emissor, o dinheiro fica retido por um período e não há recebimento de rendimentos na aplicação durante esse tempo. “O ideal é mesmo diversificar os emissores”, diz.

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De olho no rating

A classificação de risco de crédito da instituição (rating) também deve ser monitorada de perto. O ideal, diz a planejadora, é que o investidor procure instituições com rating AAA, AA, A e BBB, já que produtos a partir de BB possuem grau especulativo e costumam ser mais arriscados.

O Mercado Crédito SCFI, emissor dos CDBs do Mercado Livre, possui rating AAA pela Fitch Ratings, que é considerado o nível de maior qualidade. “Mesmo estando no varejo, o Mercado Livre consegue fazer um tracking [monitoramento] de crédito e, por isso, é mais fácil medir seu risco de crédito”, afirma Catherine, da Braúna Investimentos.

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Tipo de remuneração: como escolher?

Além de olhar para a classificação de risco dos emissores, o investidor deve verificar se o CDB pretendido é prefixado, pós-fixado ou atrelado à inflação.

Em um cenário de inflação elevada e juros mais altos, Camilla Dolle, da XP Investimentos, observa que há espaço para os três tipos de indexadores na carteira dos investidores. “O ponto é a dose”, diz.

A preferência da especialista da XP é pelos títulos atrelados à inflação e ao CDI, que devem responder pela maior parte da alocação. O primeiro garante proteção do poder de compra e do patrimônio, enquanto o segundo está indexado a uma taxa, que deve seguir elevada no curto prazo.

Camilla, no entanto, chama a atenção para o fato de que a curva de juros está invertida. Logo, os juros mais curtos estão mais elevados do que os mais longos. Nesse caso, diz, o melhor é fazer o cálculo do Imposto de Renda para verificar se vale a pena mesmo optar por um título de menor prazo.

Outro detalhe está no risco do reinvestimento. Camilla afirma que se o investidor comprar papéis muito curtos, à medida em que os CDBs vencerem, pode ser difícil encontrar outros títulos que ofereçam a mesma taxa.

Nas projeções da XP, a Selic deve finalizar 2022 em 13,75% ao ano e recuar para 8,75% em 2023. Logo, o ideal é que o investidor aplique o dinheiro com um objetivo claro em mente para não sofrer depois com o risco do reinvestimento.

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