Renda fixa global: títulos de curto prazo dão mais segurança a investidor do que longos, diz Janus Henderson

Análise da gestora britânica sugere que papéis de longo prazo "permanecem vulneráveis a surtos adicionais de volatilidade" com cenário internacional incerto

Neide Martingo

(Shutterstock)
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São muitas as variáveis que os investidores têm que levar em conta na hora de escolher o melhor ativo, que respeite seu perfil e suas necessidades. E mesmo os que optam pela segurança da renda fixa, precisam ficar com as antenas ligadas, em busca de “blindagens” que minimizem a possibilidade de perdas.

Olhando para o mercado global de renda fixa, a gestora britânica Janus Henderson Investors avalia que, no momento atual, os papéis de curto prazo levam vantagem sobre os de longo prazo, que “permanecem vulneráveis a surtos adicionais de volatilidade”.

De acordo com a análise dos gerentes de portfólio Jason England e Daniel Siluk, à qual o Infomoney teve acesso com exclusividade, é provável que a inflação nas alturas nos países desenvolvidos e a incerteza econômica continuem a causar níveis elevados de oscilação nos vencimentos mais longos da curva de juros. Os papéis de prazo mais curto, portanto, seriam o caminho mais seguro para os investidores.

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Esses papéis, segundo aponta a análise da Janus, foram os que registraram as menores perdas ao longo deste ano. Índices compostos por papéis de renda fixa dos Estados Unidos – tanto títulos do governo (as chamadas Treasuries) quanto aqueles emitidos por empresas (corporate) – com prazo de até três anos registram desvalorização de até 4,8% acumulada em 2022. Já os que reúnem títulos com vencimento entre sete e dez anos desvalorizaram até 19%.

Trata-se de um efeito da chamada marcação a mercado. Até o vencimento de um papel de renda fixa, seu preço varia de acordo com as condições de mercado e das taxas de juros. Quando o mercado passa a precificar uma alta na curva de juros, a tendência é de que as taxas oferecidas pelos papéis suba – e, como consequência, o seu preço recua.

É o que vem acontecendo nos mercados internacionais nos últimos meses. Os juros básicos da economia dos Estados Unidos, que ficaram estacionados por anos na faixa entre zero e 0,25% ao ano, foram elevados ao patamar atual de 3% a 3,25% anuais numa tentativa de combater a inflação – o que penalizou os papéis de renda fixa que já circulavam no mercado.

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O relatório da Janus ressalta que, embora os investidores não tenham encontrado “lugar para se esconder” neste ano, dado que todo tipo de renda fixa desvalorizou, os papéis de prazos mais longos tiveram uma situação pior, dado que são mais suscetíveis às oscilações da inflação e às expectativas de taxas de juros.

E a volatilidade na renda fixa global, ao que tudo indica, não deve parar por aí. Enquanto o ciclo de alta dos juros já está chegando ao fim no Brasil, Estados Unidos e Europa ainda estão no meio deste movimento. Os analistas citam a alta inflação, os deslocamentos da cadeia de suprimentos relacionados à pandemia, a escassez de mão-de-obra e a guerra na Ucrânia como fatores que assolam a economia global.

“Quanto à política monetária, acreditamos que o mercado ainda possa estar subestimando o desafio de reduzir a inflação para níveis mais palatáveis. Com 8,3%, a inflação anual nos Estados Unidos ainda está 3,1 pontos percentuais acima do ganho anual em salários por hora. Isto se traduz em um crescimento negativo dos salários reais para as famílias norte-americanas e é, provavelmente, um impulso por trás do crescente foco do Federal Reserve no componente de estabilidade de preços de seu duplo mandato”, mostra a análise.

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Cenário econômico

A Janus ressalta que a primeira metade de 2022 foi uma das piores para o retorno dos investimentos. Os ativos mais antigos foram os primeiros a ser vendidos, já que os investidores temiam que os bancos centrais endurecessem as medidas para segurar a inflação.

Até o dia 19 de setembro, o rendimento das notas do Tesouro dos Estados Unidos de dois anos subiu 3,21 pontos percentuais, para 3,94%. Os rendimentos canadenses e australianos de dois anos subiram 2,85 e 2,57 pontos percentuais, respectivamente, com o rendimento anterior bem acima de 3,50%. Destaque ainda para o rendimento dos papéis de dois anos da Alemanha, cujas taxas saíram do território negativo para mais de 1,60%.

Os especialistas acreditam que a inflação será mais difícil de domar do que o esperado, especialmente em regiões em que as pressões salariais estão a todo vapor. “Com a inflação em alta, os bancos centrais têm pouca escolha, a não ser aumentar as taxas em uma economia global já em desaceleração, com os 75 pontos de base (bps) do Banco Central Europeu sendo o exemplo mais recente. Estas ações aumentam a probabilidade de um ambiente estagflacionário, no qual o crescimento atinge níveis próximos à recessão,  enquanto a inflação continua a persistir”, detalham.

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Diante de um mercado global tão volátil, cautela é a palavra de ordem. Ao determinar como fortificar a alocação de renda fixa, dois fatores são fundamentais: os resultados econômicos e a curva de juros. Globalmente, espera-se uma inflação média de 4,6% em 2023.

Nos Estados Unidos, segundo o documento da Janus, a inflação poderá chegar a 3,7%, e no Reino Unido, a 6,6%, o que se considera preocupante. Caso a espiral de preços e salários se consolide ou as cadeias de suprimentos permaneçam prejudicadas, a inflação – e os rendimentos dos títulos – podem entrar novamente em movimento.

“Todos os países desceram com o mesmo elevador durante a pandemia. Reaberturas escalonadas os levaram a pegar diferentes escadas rolantes para cima”, compara o relatório. Na esteira da inflação, alguns embarcarão na escada rolante para baixo, enquanto outros continuarão subindo, mas a um ritmo mais lento, e ainda outros poderão sair e esperar.

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“Acreditamos que isto apresenta aos investidores uma oportunidade de capitalizar a dispersão de políticas, selecionando mercados – e segmentos da curva – que geram atrativos de longo prazo, oferecem o potencial de diversificação por meio da valorização dos preços e exibem os níveis mais modestos de volatilidade que os investidores de renda fixa esperam. Em cada um desses barômetros, os títulos com prazos mais curtos aparecem bem posicionados”.

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Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney