Renda extra? Taxas de aluguel de 31 ações superam o retorno da Selic; confira lista completa

Empréstimo de ativos pode render até 59% ao ano e beneficia principalmente investidores com foco no longo prazo

Wellington Carvalho

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Em períodos de elevação da taxa básica de juros da economia, a Selic, as aplicações de renda fixa – cujo rendimento acompanha o indicador – tornam-se mais rentáveis e acabam atraindo os investidores. No entanto, instrumentos dentro do mercado de renda variável podem oferecer retornos até acima da Selic.

É o caso do aluguel de ações. Um levantamento mostra que, para um conjunto de papéis, esse tipo de operação pode oferecer uma renda adicional superior à própria Selic. Há casos de retorno de até 59% ao ano, segundo os dados apurados pelo TradeMap, plataforma de dados sobre o mercado financeiro.

Gerenciada pela B3, a operação – também chamada de empréstimo de ativos – oferece ao investidor que possui ações de empresas ou também cotas de fundos imobiliários a possibilidade de “emprestar” os papéis para outros investidores, mediante a cobrança de uma “taxa de aluguel”.

O “doador” das cotas costuma ter estratégia de longo prazo, pouco interessado na venda dos papéis de imediato. Já o “tomador” vende as ações emprestadas para, mais tarde, recomprá-las por um preço menor. Neste caso, o ganho dele está condicionado à queda no valor do papel.

Jader Lazarini, analista CNPI do TradeMap, concorda que, em muitas situações, o retorno nominal recebido pelo doador não é tão relevante, especialmente no caso do empréstimo das ações mais negociadas na Bolsa.

Um exemplo: as taxas médias de aluguel de ações da Petrobras (PETR4) estavam em 0,04% ao ano na última terça-feira (29), considerado bastante baixo. O percentual costuma ser dividido pelo número de dias em que a ação permaneceu alugada.

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Outras ações, no entanto, permitem obter uma remuneração bem maior com o aluguel. De acordo com dados do TradeMap, um total de 31 papéis apresentam taxas de empréstimo acima da Selic, que atualmente está em 11,75% ao ano.

O destaque da lista são os papéis do Traders Club (TRAD3), com um percentual de quase 60%. Confira a relação completa:

Ticker  Ações Alugadas  Taxa de Aluguel (% ao ano)  Volume financeiro (R$ milhões) 
TRAD3            174.302 59,59  R$        746.013
BIDI4            272.497 39,98  R$     1.951.079
FHER3                2.548 34,92  R$          43.877
SHOW3            180.650 30  R$        821.958
NINJ3                3.711 22,98  R$          15.104
VIVT3         1.754.054 22,59  R$   93.438.457
CYRE3         3.655.188 22,1  R$   67.182.355
AZUL4            294.833 19,94  R$     7.294.168
BBRK3            165.702 19,87  R$        198.842
MATD3            150.253 19,37  R$     2.555.804
DMMO3            583.331 18,91  R$        758.330
GOLL4            281.179 18,66  R$     4.791.290
BPAN4            318.793 18,37  R$     3.264.440
RCSL3              34.920 16,9  R$        119.077
BLUT4              36.737 15,92  R$          24.246
AMAR3            290.105 15,92  R$        919.633
SANB11         2.003.399 15,26  R$   72.723.384
SOJA3              27.818 15  R$        390.843
LUPA3            105.326 15  R$        570.867
RCSL4                2.267 14,9  R$            2.267
MTRE3                4.264 14,57  R$          25.200
TEND3            501.079 14,26  R$     4.594.894
MGLU3       20.426.487 13,38  R$ 133.180.695
SANB4                3.408 12,95  R$          64.513
CRFB3            588.577 12,4  R$   13.101.724
BEES3                   400 12  R$            2.004
DMVF3                    27 12  R$              129
AGXY3                1.500 12  R$          15.705
TAEE3                2.430 12  R$          36.207
DXCO3            195.146 11,97  R$     2.741.801
VIVR3              66.036 11,8  R$          86.507

Fonte: Relatório TradeMap Aluguel de ações rende mais que Selic?

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Data de referência: 29/03/2022

De acordo com Lazarini, quanto mais pessoas buscam o aluguel de uma ação – apostando na desvalorização do papel – mais alta será a taxa. O doador, explica o analista, vai oferecer o ativo para quem está pagando mais, elevando a taxa no mercado no famoso movimento de oferta e demanda.

O Traders Club, que encabeça a lista das maiores taxas, é um exemplo do movimento citado acima. Popular nas redes sociais, a empresa acumula queda de mais de 30% em 2022. O cenário reflete a sinalização, apresentada pelo balanço do quarto trimestre de 2021, de que a empresa está com dificuldades de manter o crescimento no número de assinantes, aponta Lazarini.

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“A expectativa do tomador é de que a ação caia para o eventual valor justo”, explica. “Naturalmente, o volume de ações alugadas cresce conforme a demanda de investidores que enxergam a possibilidade de desvalorização do ativo”.

Em meados de fevereiro, as ações do Traders Club chegaram a pagar uma taxa de aluguel de 73% ao ano, mas o percentual arrefeceu ao longo das últimas semanas.

Ações do setor imobiliário também oferecem boas taxas

Lazarini, do TradeMap, chama atenção também para as taxas de empréstimos das ações de empresas do setor imobiliário que, segundo ele, enfrentam um momento adverso.

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“O setor imobiliário passa por ciclos e, atualmente, está em uma fase de contração monetária”, pontua. “Neste período, a demanda por imóveis tende a cair já que que o incentivo ao consumo é restrito”.

O analista lembra que companhias do segmento também sinalizaram preocupação no quarto trimestre, o que reforçaria a aposta na queda das cotações.

Para ele, o cenário atual é desafiador para o setor, especialmente por conta da inflação da construção civil, medida pelo INCC, que acumula alta 11,95% em 12 meses.

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No caso do investidor de longo prazo – que tenha ações do setor e não pretende vendê-las – o aluguel de ações como as da Cyrela (CYRE3) seria uma alternativa para remunerar, de forma relevante, uma posição em renda variável, afirma Lazarini.

Custos da operação de empréstimo de ações

O investidor que deseja doar as ações da carteira não pagará nada pela oferta. Eventuais taxas – como imposto de renda e comissão para a B3 – serão descontadas do valor recebido pelo empréstimo, na conclusão do contrato. Já o tomador precisa ficar atento aos custos da operação:

Outro ponto que merece atenção é a característica do contrato, que pode ser reversível para o tomador ou para o doador. No geral, os riscos da operação para o doador são bem limitados, de acordo com Lazarini.

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Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.