Quanto tempo é preciso para juntar R$ 100 mil na renda fixa? Juros altos encurtam prazo; veja simulação

Com disciplina e de olho no mercado, o investidor consegue cumprir metas e realizar sonhos

Neide Martingo

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A renda fixa, que reúne os ativos considerados mais seguros e voltados para um perfil de investidor que não gosta de sustos, pode ser uma ferramenta para realizar os sonhos de muita gente. Que tal usá-la para acumular na carteira R$ 100 mil ou – por que não – R$ 1 milhão?

O momento é favorável para a renda fixa. A taxa básica de juros, ao que tudo indica, “estacionou” em 13,75% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne na próxima semana para definir os rumos da Selic – mas no mercado, a probabilidade de que tudo continue como está é calculada em mais de 90%, segundo as opções de Copom negociadas na B3.

É fato que em algum momento a “taxa mãe” vai começar a cair. Mas espera-se que a Selic permaneça em um patamar alto por muitos meses ainda. Portanto, para quem tem recursos disponíveis para investir, a hora é agora.

Mas de que forma os juros mais altos se refletem sobre o esforço para juntar dinheiro? Simulações da Casa do Investidor, feitas a pedido do InfoMoney, mostram que um efeito prático é encurtar o caminho para atingir um determinado patrimônio.

Por exemplo:  por quanto tempo é preciso investir R$ 500 todos os meses, em produtos de renda fixa, para alcançar um patrimônio de R$ 100 mil? Michael Viriato, estrategista da Casa do Investidor, calcula que, atualmente, o prazo é de nove anos. A conta considera que o investidor consiga aplicar o valor sempre com uma remuneração de 100% da taxa do CDI (indicador de referência para a renda fixa) – que ele estimou em 13,65% ao ano atualmente. Se o aporte for maior, de R$ 1 mil, o tempo necessário será de 5,7 anos.

É preciso ressaltar que a taxa do CDI considerada, de 13,65% ao ano, é apontada como excelente para a rentabilidade da renda fixa – mas ela não é estática. A taxa Selic, em algum momento, vai começar a cair – e junto com ela, a rentabilidade de produtos como os CDBs também vai diminuir. E se quanto maiores são os juros, menor é o tempo de investimento para que a meta seja alcançada, o contrário também é verdadeiro.

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Até poucos anos atrás, o CDI era bem menor do que o atual. Em 2019, por exemplo, o indicador foi de 5,96% no acumulado do ano. Com essa remuneração, para chegar ao mesmo patrimônio de R$ 100 mil investindo R$ 500 por mês em ativos que pagam 100% do CDI, o investidor precisaria de 11,7 anos (no lugar de nove). Já quem conseguisse reservar R$ 1 mil por mês, precisaria poupar por 6,8 anos (no lugar de 5,7 anos).

@infomoney

É possível juntar R$ 100 mil? A resposta é sim! E você pode aproveitar a taxa básica de juros, a Selic, para alcançar esse objetivo. Entenda como no vídeo e simule outros investimentos no link 👇 #TikTokNotícias #finançaspessoais #investimento #mercadofinanceiro #Selic #ondeinvestir

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Rentabilidade mais alta X isenção de Imposto de Renda

O tipo de investimento de renda fixa também pode ajudar a acelerar o tempo necessário para juntar uma determinada quantia. Muito comuns no mercado, os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), por exemplo, oferecem diferentes remunerações, a depender do prazo da aplicação ou do nível de risco do banco emissor.

Uma segunda simulação elaborada por Viriato estima o tempo necessário para acumular R$ 100 mil investindo a uma remuneração de 110% da taxa do CDI (o que, considerando o CDI de 13,65% ao ano, corresponderia a juros de aproximadamente 15% anuais).

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No caso de depósitos mensais de R$ 500, seriam necessários 8,6 anos para obter os R$ 100 mil. Com investimento de R$ 1 mil por mês, o período seria de 5,5 anos.

Confira os detalhes da simulação no quadro abaixo:

Valor investido por mês Remuneração obtida Tempo necessário para acumular R$ 100 mil Tempo necessário para acumular R$ 1 milhão
R$ 500 100% do CDI (aprox. 13,65% ao ano) 9 anos 24,3 anos
R$ 1.000 100% do CDI (aprox. 13,65% ao ano) 5,7 anos 19,2 anos
R$ 500 110% do CDI (aprox. 15,02% ao ano) 8,6 anos 22,9 anos
R$ 1.000 110% do CDI (aprox. 15,02% ao ano) 5,5 anos  18,2 anos
R$ 500 117% do CDI (aprox. 16,77% ao ano) 8,3 anos 21,3 anos
R$ 1.000 117% do CDI (aprox. 16,77% ao ano) 5,4 anos 17 anos

Fonte: Michael Viriato (Casa do Investidor). Obs: os cálculos são brutos (não excluem o Imposto de Renda)

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Em todos os casos até aqui, Viriato considerou a rentabilidade bruta – sem descontar o Imposto de Renda incidente sobre o rendimento da renda fixa. Existem, no entanto, investimentos isentos do tributo, que amplificam o potencial de ganho.

É o caso das letras de crédito, seja imobiliário ou do agronegócio – as famosas LCIs e LCAs. Por ser isenta de Imposto de Renda, a remuneração de uma LCI que oferece 110% do CDI equivale à de um CDB que paga 117% do CDI, calcula Viriato. Estamos pensando no longo prazo”, afirma.

Se investisse R$ 500 por mês num produto com essas características, o investidor teria os R$ 100 mil em 8,3 anos. Quem pudesse dobrar o investimento para R$ 1.000 mensais, teria que esperar 5,4 anos para alcançar o mesmo patrimônio.

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Para Gabriel Romanini, assessor de investimentos da SVN, é importante que o investidor, sempre que possível, junto ao seu assessor, entenda seu momento de vida, objetivos e trace um planejamento personalizado. A partir disso, é possível estipular prazos, metas e apetite ao risco em relação ao momento da economia e suas projeções. E o perfil deve ser levado em conta nos investimentos de renda fixa.

“É indicado ao investidor conservador buscar títulos do governo, como Tesouro Direto, bancários pós-fixados e de empresas de rating AAA, atrelados ao IPCA, com um bom histórico e um prazo mais curto”, afirma o especialista.

Ao investidor moderado, Romanini sugere os títulos do governo com prazos médios e longos, atrelados ao IPCA, bancários pós-fixados e empresas de rating AAA, com prazos médios ou longos. Já o agressivo pode optar por títulos do governo longos, sejam eles prefixados ou atrelados ao IPCA, e de empresas com taxas elevadas e prazos longos, analisando históricos.

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Se a Selic cair, o investidor deve seguir seu perfil. Se for conservador, terá que aceitar ter uma rentabilidade menor, já que não possui apetite ao risco. “Mudar a estratégia começa em como ele lida com a volatilidade e os riscos da operação; caso seja moderado, é bom buscar ações de forma que crie uma estrutura de defesa, e limite suas perdas e procure uma melhor rentabilidade”, detalha.

E, por fim, se for agressivo, a Selic é apenas uma forma de aplicar o caixa de oportunidade ou reserva de emergência. O indicado é buscar um fundo de investimento com liquidez diária, que esteja com desempenho melhor com riscos parecidos.

O efeito dos juros

Para quem acha que os prazos são muito longos, aqui vai um detalhe importante. Considerando o primeiro cenário, em que o investimento de R$ 500 resulta em um patrimônio de R$ 100 mil após nove anos, apenas R$ 54 mil desse montante são fruto do esforço de poupar do investidor. Os R$ 46 mil restantes vêm do mercado financeiro, ou seja, do efeito dos juros.

Isso tudo é positivo, mas o investidor precisa estar preparado para a volatilidade do mercado – para que a reserva não vire um problema. Há um plano B para enfrentar os altos e baixos da economia brasileira.

De acordo com o educador financeiro Thiago Martello, a inflação é uma variável que deve ser priorizada. Em 15 anos, o poder de compra de R$ 1 milhão não será mais o mesmo, lembra ele.  “Há 20 anos, um carro popular valia R$ 15 mil. O preço hoje é de R$ 100 mil. No meio do caminho, a inflação pode corroer o poder de compra desse dinheiro”, diz.

Para se proteger, o investidor deve tomar algumas medidas. Ao fim de cada ano, Martello sugere que o investidor verifique qual foi o índice da inflação do período – segundo ele, pode ficar entre 7% e 10% neste ano. De acordo com o Boletim Focus, a expectativa é de que a inflação fique na faixa de 6%. A partir de 2023, portanto, o investidor poderia poupar R$ 500 ou R$ 1.000 por mês, mais a taxa da inflação do ano anterior. Se a inflação deste ano fechar em 6%, por exemplo, a pessoa teria que reservar R$ 500 mais os 6% – ou seja, R$ 530 todo mês.

Outra alternativa é já escolher uma opção de investimento que inclua a correção da inflação na sua remuneração. É o caso de alguns títulos públicos disponíveis no Tesouro Direto, que rendem o IPCA (índice oficial de inflação no Brasil) mais uma taxa de juros fixa, detalha Martello.

Fora isso, sempre é uma decisão bem-vinda aumentar os aportes mensais, independentemente da inflação. “A pessoa, com a realidade dela de hoje, pode achar que R$ 100 mil resolvem tudo o que precisa fazer. Mas, quando somos mais jovens, queremos um quarto exclusivo. Depois, queremos comprar um apartamento e, mais adiante, uma grande casa. As expectativas vão aumentando, e o investimento precisa acompanhar a nossa evolução”.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney