A guinada da taxa Selic para patamares próximos dos dois dígitos provocou um efeito em cadeia nos juros oferecidos por ativos de renda fixa. Com papéis do Tesouro Direto pagando juros reais (descontada a inflação) a partir de 5,40% ao ano e prefixados beirando os 11,60% ao ano, a rentabilidade dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) também ficou mais atraente nos últimos tempos.
Um levantamento feito com base em dados extraídos na manhã desta segunda-feira (10) na plataforma Yubb, que compila informações de investimentos de diversas corretoras, aponta que entre os 200 CDBs pós-fixados disponíveis, apenas 24 possuem rentabilidade bruta entre 110% e 125% ao ano para prazos de até 12 meses. Todos apresentam liquidez no vencimento.
Na lista, há emissores como o Agibank, Will Financeira, Original entre outros. Desses, um CDB oferece uma taxa bruta de 120% do CDI e outro, de 125%, com aplicação mínima de R$ 50 e prazo de 12 meses. Ambos são emitidos pelo Banco Bari (antigo Banco Barigui).
Os CDBs pós-fixados de prazos mais longos ofereciam, na maior parte das vezes, taxas menores do que as de vencimentos mais curtos, segundo o levantamento. Para vencimentos de até dois anos, por exemplo, havia apenas um CDB que oferecia retorno bruto de até 130% do CDI.
Leia também: Retorno dos títulos públicos recua após 4 dias seguidos de alta
É importante destacar que a plataforma da Yubb pode selecionar também ofertas secundárias de CDBs. Logo, pode ser que quando o investidor olhar o aplicativo da corretora, a oferta já não esteja mais disponível e as taxas estejam diferentes, justamente porque ambos dependem da demanda por aquele tipo de produto no dia em questão.
Prefixados têm retorno de até 14% ao ano
Entre os CDBs prefixados, o retorno oferecido pode chegar até 14% ao ano, segundo dados disponíveis na plataforma da Yubb. Isso levando em conta prazos de até 12 meses. É o caso, por exemplo, de um CDB do Banco XP, com investimento mínimo de R$ 500. A liquidez dele, no entanto, também é apenas no vencimento.
Para prazos maiores do que 12 meses, os CDBs prefixados disponíveis oferecem taxas de juros menores, de até 13,57% ao ano com vencimento em 2024, como é o caso do produto da Will Financeira, com aplicação inicial de R$ 1 mil.
Já entre os CDBs com remuneração atrelada à inflação, as taxas mais altas oferecidas para prazos de até 12 meses podem chegar até 5,96% ao ano, mais a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), como é o caso do CDB do Banco ABC Brasil.
Para prazos superiores, a rentabilidade bruta real de CDBs atrelados à inflação oferecida pode alcançar no máximo 6,2% ao ano. Como exemplo, há o CDB com vencimento em 2026 do Banco Pine.
Vale a pena investir em CDB hoje?
Embora os retornos estejam um pouco mais atrativos para prazos mais curtos, especialistas ouvidos pelo InfoMoney alertam que é preciso cuidado na hora de selecionar os CDBs. Isso porque o risco de crédito pode ser grande e a liquidez tende a ser apenas no vencimento em boa parte dos papéis.
A planejadora financeira CFP Letícia Camargo afirma que ao investir em títulos de crédito é preciso ter atenção porque quanto maior a taxa, maior tende a ser o risco do emissor.
No caso de alguns dos CDBs do estudo da Yubb, os juros estão mais elevados porque as casas possuem rating (classificação de risco de crédito) mais baixo e não são títulos de primeira linha.
A planejadora destaca que uma vantagem dos CDBs é a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), espécie de “seguro” que devolve até R$ 250 mil por investidor (CPF) e por instituição financeira, até o teto de R$ 1 milhão e que pode ser renovado a quatro anos, em caso de problemas como uma intervenção do Banco Central.
Ainda assim, diz ela, é preciso cuidado. Letícia relembra que, em caso de falência, o ressarcimento do valor que há na conta não é imediato. Por essa razão, afirma, o ideal é que os investidores diversifiquem também os emissores de CDBs.
Uni, duni, tê: CDB prefixado, CDB pós-fixados ou CDB atrelado ao IPCA?
Diante da aproximação das eleições e da perspectiva de que a taxa de juros siga mais alta e por mais tempo, CDBs pós-fixados estão entre os mais recomendados por especialistas para investir neste momento.
Dois fatores explicam a preferência: a possibilidade de obter retornos maiores com a Selic alcançando os 11,75% ao ano até o fim de 2022, segundo Relatório Focus do Banco Central divulgado; e a maior liquidez que costuma ser oferecida em opções pós-fixadas.
Leia mais:
• Mercado financeiro eleva projeção para a Selic em 2022 e vê taxa de 11,75% em dezembro
Nesse contexto, a opção prefixada deve ser deixada de lado, especialmente para perfis mais conservadores. Letícia explica que as taxas oferecidas por esses CDBs podem ficar defasadas se os juros subirem mais, como é esperado pelos economistas consultados pelo Banco Central semanalmente para a elaboração do Relatório Focus.
A planejadora cita como exemplo o que ocorreu com a Selic no ano passado. “No início de 2021, os juros estavam em 2% e havia CDB prefixado oferecendo 6,95%. Depois, a Selic disparou e a pessoa que adquiriu esse papel seguiu com a taxa de 6,95% ao ano”.
Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, compartilha da visão e acrescenta que a opção prefixada deve ser voltada apenas para quem tem perfil mais agressivo.
Segundo ele, a razão é que o investidor vai “travar” uma taxa entre 12% e 14% ao ano. “Ele deve fazer isso se acreditar que os juros não vão romper esse patamar e que, no ano que vem, eles podem diminuir para uns 7% a 8% ao ano. Nesse caso, pode ser interessante aplicar em um CDB prefixado”, avalia.
O problema, diz Franchini, é que se o vencedor das eleições presidenciais não for um candidato pró-mercado, a Selic pode permanecer elevada por mais tempo. Isso sem contar a maior dificuldade de vender o papel prefixado antes do vencimento.
Ainda que não seja a opção preferida em um cenário de alta de juros, especialistas não descartam o investimento em CDBs com o retorno atrelado à inflação. Isso porque, em meio a um cenário de inflação mais pressionada, esses produtos podem ajudar a manter o poder de compra dos investidores.
A recomendação, diz Franchini, é que o investidor sempre verifique qual é o spread, ou seja, os juros extras que o investidor recebe por aplicar nos CDBs (e não em opções mais conservadoras, como os títulos públicos).
No caso de um CDB com a remuneração atrelada ao IPCA, a comparação deve ser feita com os títulos públicos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA+.
A razão é que os papéis do Tesouro Direto são considerados os de o menor risco de crédito disponíveis no mercado, já que são emitidos pelo governo federal. Por isso, o investimento em ativos mais arriscados precisa vir acompanhado de retornos mais atrativos.
Embora o momento seja bom para investir em CDBs, Franchini pondera que o investidor pode optar também por papéis com isenção tributária. Nesse caso, a preferência dele é por títulos de crédito corporativo, como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRAs), além de debêntures incentivadas.
A questão é que assim como os títulos do Tesouro Direto, os CDBs estão sujeitos à tabela regressiva de Imposto de Renda, com alíquotas que variam de 22,5% a 15%, a depender do prazo do investimento. Já os CRAs, CRIs e debêntures incentivadas são isentos.
“Tem investidor que deseja ter o FGC garantido. Mas se ele estiver disposto a abrir mão disso, há opções interessantes em crédito corporativo. A isenção pode ser muito vantajosa em alguns casos”, conclui Franchini.