Quanto investir para ter uma renda anual de R$ 10 mil com dividendos? Veja simulação

Seleção criteriosa de ações e constância nos aportes são chave para o sucesso da estratégia, sugerem especialistas

Luciana Del Caro

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A estratégia de investir em ações que pagam bons dividendos é muito buscada por investidores que desejam complementar a aposentadoria ou mesmo atingir a chamada liberdade financeira e viver sem depender do rendimento do trabalho. Mas quanto uma carteira de empresas que pagam bons proventos poderia render atualmente? E qual montante de renda poderia gerar?

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Para exemplificar o quanto essa estratégia pode render nas condições atuais do mercado, o InfoMoney pediu a Vicente Guimarães, sócio da VG Research, para montar  uma carteira de empresas com bons rendimentos de dividendos (dividend yield) e uma simulação sobre quanto um investidor teria de guardar para conseguir uma renda anual de dividendos de R$ 10 mil.

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Guimarães montou uma carteira com sete ações e com dividend yield médio esperado de 7,14% ao ano (veja tabela abaixo). Com esse retorno, ele calcula que, se o investidor aplicasse R$ 140 mil nessa carteira, ou seja, R$ 20 mil em cada um dos ativos, receberia os R$ 10 mil por ano de dividendos. Vale lembrar que se trata de uma simulação que parte da premissa de que as empresas continuarão pagando dividendos e que o dividend yield se manterá. Confira a simulação:

EmpresaSetorTickerDividend yield médio esperado (5 anos)
BB SeguridadeSegurosBBSE37%
Banco do BrasilBancosBBSA38%
ItaúBancosITUB46%
Engie ElétricaEGIE36%
TaesaElétricaTAEE118%
PetrobrásPetróleoPETR48%
Vale MineraçãoVALE37%
  Média7,14%
Fonte: VG Research

O ano de 2024 não tem sido favorável para a bolsa brasileira: o Índice Bovespa (Ibovespa) acumulava queda de 4,21% até o último dia 9 de julho. No entanto, a baixa pode ser propícia para os investidores interessados na estratégia de dividendos. É o que considera, por exemplo, Fabricio Voigt, economista e analista sênior da Aware Investments. A médio e longo prazos, Voigt acredita que dificilmente se verá um cenário de uma bolsa tão desvalorizada (a não ser que sobrevenha uma grande crise inesperada). Ele nota que Ibovespa está estacionado em termos reais (descontada a inflação) há dez anos, e que a reversão desse movimento poderá ser dada pela baixa dos juros nos mercados desenvolvidos. 

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Embora Voigt considere que o potencial de valorização das ações não é o mais importante ao se montar uma carteira de dividendos, o preço é uma variável importante porque impacta no dividend yield (já que este é calculado pela divisão entre os dividendos e a cotação da ação). Quanto menor a cotação, maior o rendimento de dividendos. 

Guimarães, da VG Research, afirma que, mesmo que as ações da carteira não se valorizem, é possível obter a independência financeira contando só com a distribuição dos dividendos, que geram renda. “O patrimônio cresce como consequência das boas escolhas, mas o melhor indicador de desempenho da carteira é o crescimento dos dividendos e não a valorização da carteira. São os dividendos que pagam as contas”, afirma. No curto prazo, as cotações das ações acabam variando por vários outros fatores que não o lucro das empresas, diz. 

Outra alternativa para obter renda passiva de dividendos é o investidor montar a carteira aos poucos. “Na verdade, o segredo para uma excelente renda passiva está no longo prazo, na consistência dos aportes e no reinvestimento dos dividendos.” Em outra simulação, Guimarães leva em conta não um investimento de R$ 140 mil reais em sete ações que pagam bons dividendos, mas aportes mensais nessas mesmas ações. Na projeção abaixo, ele considerou que as ações vão valorizar 5% ao ano acima da inflação, e que o investidor irá reinvestir os dividendos que receber (dividend yield da carteira de 7,14%). 

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TEMPO DE ACUMULAÇÃO ATÉ OBTER RENDA MENSAL DE DIVIDENDOS DE R$ 10 MIL*

Capital inicialAporte mensalTempo até uma renda anual de R$ 10 mil em dividendos (em anos)
20.0005009
20.0001.0006
20.0002.0004
50.0005006
50.0001.0004
50.0002.0003
50.0005.0001,5
Fonte: VG Research
*Considera dividend yield médio de 7,14% da carteira

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O reinvestimento dos dividendos potencializa os resultados. “Quanto mais o tempo passa, mais o reinvestimento faz diferença na carteira”, diz o sócio da VG Research. Considerando uma carteira por 30 anos, por exemplo, o resultado do reinvestimento dos dividendos costuma responder por algo entre 70 e 80% do patrimônio acumulado, segundo Guimarães. A questão é que ao reinvestir o dividendo, o investidor passa a deter número maior de ações, o que vai gerar mais dividendo, e assim por diante – o crescimento é exponencial.

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“A renda em dividendos tem algo de especial porque ela tende a ser crescente ao longo do tempo. E quanto mais o tempo passa, mais exponencial é o seu crescimento. Além disso é uma renda vitalícia e multigeracional pois as ações são deixadas em herança para seus filhos ou parentes”, diz Guimarães. Ele recomenda que o investidor acompanhe sua carteira pelo menos a cada trimestre para avaliar os resultados das empresas, e lembra que vendas também fazem parte da vida. Nesses momentos de avaliação, pode ser interessante realizar lucros e usar os recursos para a compra de ações de empresas com perspectivas de boa distribuição de proventos. “Buscar as melhores oportunidades de cada momento faz parte do processo de acumulação”. 

Voigt, da Aware Investments, considera que a diversificação é chave para quem quer viver de renda. O ideal, em sua visão, é que o investidor comece com uma carteira com poucas ações e, à medida que o volume investido crescer, aumente o número de papéis para reduzir o risco. Ele cita, por exemplo, o impacto na renda esperada pelo investidor quando uma empresa reduz o dividendo – a Petrobras, por exemplo, iria reter lucros neste ano, e situações como esta podem frustrar a expectativa do investidor que precisa dos proventos para viver. “O ideal seria contar com uma carteira de pelo menos dez ações para garantir uma renda mínima”.

O economista ressalta que a diversificação não deve ser buscada apenas dentro da carteira de ações, mas também em outras classes de ativos:  “O investidor que quer viver de renda passiva precisa de segurança e previsibilidade. Compor uma carteira de ações, renda fixa e fundos imobiliários vai gerar mais segurança. Quanto mais diversificada for a carteira, menos o investidor será afetado pela queda de renda de um ativo.” 

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Ao comparar o retorno das NTN-Bs – títulos que pagam a correção pela inflação mais uma taxa prefixada – ele diz que essas têm a vantagem de oferecer previsibilidade ao investidor, que já sabe o quanto irá receber. No entanto, Voigt pondera que o rendimento de dividendos pode superar o dos títulos públicos, além de ainda serem isentos do pagamento do Imposto de Renda.

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Luciana Del Caro

Jornalista colaboradora do InfoMoney