Quanto investir para receber um salário mínimo em dividendos de small caps da B3?

Dividendos pagos por empresas de baixa capitalização podem ser atraentes e complementar renda

Luciana Del Caro

(Shutterstock)
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Quando os investidores pensam em ações que pagam bons dividendos, geralmente têm em mente papeis das empresas com maior capitalização da bolsa, as chamadas large caps. Mas a mesma estratégia pode ser replicada com as empresas menores, ou seja, de baixa capitalização de mercado (small caps). Até mesmo porque, no Brasil, por conta da elevada volatilidade da renda variável, mesmo grandes empresas podem ser consideradas como de baixa capitalização.

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O intervalo do valor de mercado das empresas de baixa capitalização é grande e a definição varia conforme a ótica, mas geralmente vai desde companhias com valor de mercado de R$ 300 milhões até aquelas de R$ 9 bilhões. Podem ser assim consideradas, por exemplo, empresas como Taesa (TAEE11), que é uma das maiores transmissoras de energia do Brasil, e a siderúrgica Gerdau (GOAU4). Em momentos de queda na Bolsa, o número de small caps pode aumentar, refletindo a queda na capitalização ou valor de mercado das companhias.

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De olho em ações do tipo que podem gerar uma renda de um salário mínimo nacional por mês (R$ 1.412,00), o InfoMoney pediu um levantamento para Flávio Conde, analista da Levante Investimentos. Conde selecionou cinco small caps que pagaram bons dividendos – assim definidas aquelas que costumam ter retorno de dividendos (dividend yield) acima de 8% ao ano. O levantamento levou em consideração os resultados das empresas nos últimos 12 meses e parte da premissa que os números se repetirão, assim como que as companhias continuarão distribuindo o mesmo percentual do lucro (payout) na forma de dividendos. Embora os lucros das empresas nunca sejam constantes, o levantamento ilustra como os valores que os investidores teriam de aplicar para ter a mesma renda, o salário mínimo, variam – quanto maior o retorno com os dividendos, menos seria necessário investir.    

No topo da lista, aparecem os papeis da Metal Leve (LEVE3), com dividend yield de 25,3% nos últimos doze meses. O investidor precisaria comprar R$ 66,8 mil nessas ações para obter um rendimento de um salário mínimo por mês. Na ponta oposta, aparecem as ações da Irani (RANI3), com dividend yield de 8,7% – o investidor teria de acumular R$ 194,4 mil em ações da empresa para obter o rendimento de um salário mínimo mensal. Conde lembra que small caps bastante conhecidas por pagar bons dividendos – como a Taurus (TASA4) e a Ferbasa (FESA4) – não entraram no levantamento porque tiveram queda de lucro de 70% e 64% em 2023, razão pela qual a distribuição dos dividendos vai cair. “O investidor precisa levar em consideração que o dividendo sempre segue o lucro da empresa”, afirma.

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Fonte: Flávio Conde, analista da Levante Investimentos

*Os cálculos foram feitos com base nas cotações de 31/5/24 e levaram em conta os resultados passados das empresas.

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“Complementar a renda por meio de small caps faz todo o sentido. Mas o investidor alcançará o objetivo logo amanhã. A carteira é uma construção ao longo do tempo”, afirma Thiago Pedroso, responsável pela mesa de renda variável da Criteria Investimentos.  Ele ressalta a importância de o investidor acompanhar os ativos com um olhar de longo prazo, pois muitas variáveis podem impactar o recebimento dos dividendos. Mas, para aqueles que, além de acompanhar o mercado, contam com o tempo a seu favor e reinvestem os dividendos, Pedroso considera que o fluxo de renda pode ser superior ao salário mínimo.

A questão de encontrar small caps com um bom fluxo de dividendos, no entanto, não é simples. “O investidor não pode cair na armadilha de encontrar uma empresa que paga bons dividendos, mas não os mantêm ao longo do tempo”, considera. Pedrosa lembra que até mesmo a Petrobras ficou sem distribuir proventos por cerca de cinco anos, e que a Vale e a Gerdau também passaram períodos sem distribuir os lucros. Enquanto os setores cíclicos, ligados a commodities, podem não ter recorrência na distribuição, o de utilities (saneamento e energia elétrica, por exemplo) tendem a ter distribuição mais linear.

Na hora de montar a carteira, Pedroso considera que o investidor deve pensar tanto na cotação quanto no fluxo de dividendos. Isso porque quanto mais previsível o retorno da empresa, melhor precificados tendem a ser seus papeis. Então o investidor corre o risco de pagar caro pelas ações e, eventualmente, de a companhia não manter o nível de pagamento de dividendos que o investidor esperava. O ideal, portanto, é encontrar as ações descontadas e que vão distribuir mais no futuro ou manter os patamares de proventos.

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Para a estratégia dar certo, também é importante “validar a tese ao longo do tempo”, segundo Pedroso, que recomenda que o investidor reavalie a carteira a cada três meses, acompanhando o resultado das empresas. No caso da Taesa, por exemplo, o mercado projeta que o dividend yield irá cair para 8%. Também se espera uma queda no retorno de dividendos da Metal Leve. Já com relação a Brasil Agro e Gerdau, Pedroso sugere que o investidor preste atenção ao fato de as empresas atuarem em setores cíclicos, pois produzem commodities cujos valores são ditados pelo mercado internacional.

Já Conde faz a ressalva de que as empresas costumam pagar dividendos trimestrais, semestrais ou anuais, mas que para a simulação foram considerados pagamentos mensais. “Como a maioria das empresas costuma pagar os dividendos trimestralmente, o investidor precisa se programar”, afirma.

Geralmente, as empresas que pagam dividendos mensais são justamente as large caps, como ações de bancos. Conde considera, aliás, que as demais empresas deveriam seguir boas práticas do Banco do Brasil, Itaú e Bradesco na distribuição dos dividendos – que são pagos mensalmente (os papeis dos bancos não entraram na lista de bons pagadores porque são large caps). “Quanto mais previsível para o investidor for a data da distribuição dos proventos, melhor”, afirma.

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Algumas empresas – como Sanepar – por exemplo, demoram mais de um ano entre o anúncio da distribuição do dividendo e o efetivo pagamento do mesmo. Por isso, ele recomenda que, além do rendimento com dividendos, os investidores prestem atenção às políticas das empresas com relação aos proventos. 

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Luciana Del Caro

Jornalista colaboradora do InfoMoney