Quais empresas sofrerão mais com juros, dólar e inflação altos em 2025?

Para diretor da Moody’s, há desafios, mas “fundamento de crédito continua sólido” no mercado privado

Leonardo Guimarães

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Selic chegando a 15%, dólar alto e preços subindo são fatores que preocupam os investidores que emprestaram dinheiro a companhias não financeiras via mercado de capitais. Mas algumas características ajudam a identificar empresas que podem sofrer ainda mais com o cenário macroeconômico projetado para o fim de 2025. “As mais alavancadas, com dívidas atreladas à Selic e empresas com receitas em reais, mas custos em dólar” são as mais afetadas, diz Marcos Schmidt, diretor da Moody’s, em entrevista ao InfoMoney

Segundo relatório da agência de classificação de risco, o real fraco, a Selic alta e a inflação impõem riscos para a rentabilidade das empresas brasileiras, fator que deve gerar mais cautela nos investidores do crédito privado, já que o cenário dificulta o cumprimento das obrigações financeiras ao longo de 2025. No entanto, ainda há diversos fatores positivos que devem ajudar as empresas a atravessar o choque de juros. 

Cenário desafiador

Um dos destaques da Moody’s sobre o cenário desafiador do crédito é a virada nas expectativas de juros no ano passado. O mercado começou 2024 projetando Selic em queda para até 9%, mas o ano terminou na contramão das expectativas, com novo movimento de aperto monetário que ainda não terminou. O choque entre expectativa e realidade pegou empresas que assumiram dívidas atreladas ao CDI de surpresa, já que elas esperavam custos mais baixos neste ano. 

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Para a maioria das empresas sob cobertura da agência, a depreciação do real tem impacto limitado nas métricas de liquidez e alavancagem, mas a exposição a dívidas atreladas aos juros básicos “é mais difícil para as empresas compensarem”, diz a Moody’s. 

Outro ponto de preocupação é a rentabilidade das empresas brasileiras em 2025. Com câmbio ainda enfraquecido e expectativas crescentes de inflação, a confiança do consumidor caiu no fim do ano passado, o que coloca dúvidas sobre o faturamento das companhias, já que o consumo interno vem ajudando a sustentar o crescimento do Brasil. A alta dos juros também impacta o crédito ao consumidor, que terá menos recursos para investir realizar compras maiores neste ano. 

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Quem sofre mais

Entre as empresas acompanhadas pela Moody’s, uma das mais afetadas deve ser a Azul (AZUL4), que tem custos operacionais e dívidas em dólar. Segundo a agência, a companhia aérea “corre o risco de sofrer duplo impacto em sua já apertada liquidez”. A aviação tem grande parte da receita em reais, mas custos como combustível e manutenção das aeronaves são pagos em dólar. Mesmo assim, “não é possível generalizar e dizer que todas do setor são arriscadas”, diz Schmidt. 

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Sempre presente no mercado de capitais, a Usina Coruripe Açúcar e Etanol também tem “exposição elevada” a dívidas em dólar, principalmente para capital de giro de curto prazo, e “exposição média” a dívidas locais atreladas aos juros. 

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O relatório também cita Marfrig (MRFG3) – excluindo BRF (BRFS3) -, CSN (CSNA3) e Grupo OHI por enfrentarem “desempenho operacional mais difícil” e apresentarem métricas de crédito mais fracas, apesar da baixa exposição às taxas de juros e câmbio. 

Já a Raízen tem um risco “relativamente alto em consequência de um enfraquecimento do real ou de taxas mais altas, mas ainda tem uma ampla liquidez para suportar esse período”. 

Ainda compõem o grupo das mais afetadas empresas de setores com alta alavancagem, como o imobiliário, serviços públicos e telecomunicações, “porque geralmente dependem de financiamento significativo baseado em dívida local para manter suas operações e gastos de capital”. 

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Soluções

Apesar de um cenário desafiador, as empresas ainda têm ferramentas para limitar os impactos. Uma das alternativas, segundo Schmidt, é adiar investimentos e usar o caixa excedente para pagar as dívidas mais curtas. “Quando diminui o Capex, pode aumentar a geração de caixa para as dívidas e os balanços continuam limpos e favoráveis para enfrentar essa crise”. 

Outro fator de alívio é que o câmbio, apesar de ainda desvalorizado, já melhorou em relação ao fechamento de 2024. O dólar terminou o ano passado cotado a R$ 6,18 e hoje está na casa dos R$ 5,76. 

O mercado de capitais, que vem batendo recorde de emissões e conta com apetite dos investidores que migraram para a renda fixa, também deve funcionar como uma válvula de escape. O relatório da Moody’s diz que o mercado “continuará a contrabalancear os riscos dos ativos, estimulará a liquidez das grandes empresas e manterá sua inadimplência baixa”. 

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Ao comparar com outro cenário desafiador para o crédito no Brasil, em 2016, Schmidt diz que, hoje, os balanços das empresas estão melhores, o crescimento do País mais estável, o perfil de amortização das dívidas mais favorável e a gestão das companhias é melhor. Portanto, no balanço do cenário para este ano, o diretor da Moody’s diz que o “há exceções, mas, no geral, o fundamento de crédito continua sólido e robusto para aguentar o choque de juros e câmbio”.