“Próxima fronteira das finanças são as stablecoins”, diz executivo da S&P Global

Companhia lançou ranking de stablecoins e planeja classificação de risco desse tipo de criptomoeda, de olho em mudanças regulatórias nos EUA

Paulo Barros

Chuck Mounts, Chief DeFi Officer da S&P Global (Foto: Divulgação)
Chuck Mounts, Chief DeFi Officer da S&P Global (Foto: Divulgação)

Publicidade

A S&P Global, empresa por trás do principal índice de ações do mundo, o S&P 500, está colocando um dos pés no que considera ser a próxima fronteira para a oferta de serviços financeiros, dado seu potencial de inovação: as stablecoins, criptomoedas indexadas a outros ativos, principalmente o dólar. 

“A vanguarda na avaliação de risco está em produtos estruturados e risco de contraparte, e nosso primeiro produto nesse sentido é a avaliação de estabilidade de stablecoins”, disse Chuck Mounts, Chief DeFi Officer da S&P Global, em entrevista ao InfoMoney.

A avaliação de estabilidade de stablecoins (ou stablecoin stability assessment, em inglês) é um ranking que classifica stablecoins disponíveis no mercado segundo o risco que têm de perderem sua indexação com o dólar –  ou seja, de uma unidade passar a valer menos de US$ 1. 

Continua depois da publicidade

Levando em conta questões operacionais, regulatórias e de governança, nenhuma stablecoin ganhou a nota máxima 1, mas três chegaram perto: Gemini USD (GUSD), Pax Dollar (USDP) e USD Coin (USDC), as mais reguladas do mundo, atingiram nota 2. A Tether (USDT), criptomoeda mais usada no Brasil, obteve nota 4.

“O que queremos fazer é ter uma referência de risco de cada stablecoin. É uma probabilidade de desindexação, não de inadimplência”, explica Mounts, que vê como “inevitável” o lançamento de uma classificação de risco oficial para stablecoins, incorporando informações públicas e privadas sobre os ativos.

Os planos da S&P Global voltados para o setor cripto estão a passos acelerados em meio à expectativa de que os Estados Unidos aprovem, ainda este ano, o marco regulatório das stablecoins no país. “Passamos um bom tempo em Washington e estamos cautelosamente otimistas de que os EUA possam aprovar a regulação de stablecoins ainda nesta legislação”, falou o executivo.

Continua depois da publicidade

O mês de maio foi marcado por avanços regulatórios para os criptoativos nos EUA. Em poucos dias, um projeto de lei de regulação dos ativos digitais passou com amplo apoio bipartidário na Câmara dos Representantes, e os primeiros ETFs de Ethereum (ETH), rede onde “moram” várias stablecoins, receberam aval da Securities and Exchange Comission (SEC). 

Durante a Consensus 2024, a gestora Cathie Wood e o congressista americano “pai” do projeto de regulação do setor disseram que o próximo passo natural no país deverá ser o avanço da lei de stablecoins. O executivo da S&P Global concorda: “Houve muita melhoria desde o ano passado em termos de bipartidarismo. Eles parecem ter resolvido muitas das questões que estavam restringindo o andamento do projeto de lei. Agora parecem estar bem alinhados”.

Para além da questão regulatória, a aposta da companhia nas stablecoins vem também da expectativa de que elas ganhem um papel cada vez mais relevante globalmente, impulsionando – e não ameaçando – a adoção do dólar. “As stablecoins são um veículo para a preservação do domínio do dólar. A grande questão é com que rapidez os EUA irão realmente adotá-las. Se os EUA realmente incentivarem o uso de stablecoins é porque sabem que, na verdade, estão se beneficiando disso”, falou.

Continua depois da publicidade

A companhia também busca se posicionar no que aponta como uma transformação profunda em curso no mercado financeiro: a tokenização. O executivo ressalta que, até pouco tempo, diria que uma moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês) – ou seja, um dólar digital oficial – seria necessária para que a tokenização de ativos pudesse avançar no país, mas que tudo mudou com a evolução das stablecoins.

Para o executivo, o ponto de partida da tokenização deverá ser ativos altamente líquidos e de alta qualidade, como os títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries), seguidos por ativos ilíquidos, como crédito privado e mercado imobiliário. Por fim, viriam ativos intangíveis e derivativos. “Todos os ativos serão tokenizados, o destino é termos a tokenização de tudo”, prevê Mounts.

Paulo Barros

Editor de Investimentos