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O anúncio da Vale de que pagará mais de R$ 10 bilhões em proventos no dia 1º de dezembro foi uma bem-vinda surpresa para o mercado na última quinta-feira (26). Os dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) de R$ 2,33 por ação que cada investidor receberá são uma antecipação dos resultados do ano inteiro.
Mas quando a esmola é demais, os investidores começam a desconfiar – distribuições desse tamanho ainda podem se repetir nos próximos anos? Ainda mais considerando que os valores recém-anunciados são dividendos extraordinários.
Para analistas consultados pelo InfoMoney, os papéis da mineradora – que há meses figuram na lista de mais recomendados para carteiras de dividendos – devem ser uma das principais apostas dos investidores interessados em ter renda com proventos.
“Guidance [projeção de resultado] mantido, ativo barato, com prêmio de risco. Com certeza é uma ‘must have’ para dividendos no cenário local”, diz Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, que tem recomendação de compra para os papéis.
E a distribuição extraordinária parece ter reforçado essa visão, no lugar de provocar dúvida.
“São dividendos extraordinários, mas entendemos que a estrutura de capital da companhia e a geração de caixa permitem a continuidade desses pagamentos”, diz Luan Alves, head de ações da VG Research. “Esperamos em torno de 10% ao ano de retorno com dividendos e recompra de ações”.
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Junto com a distribuição de proventos, a Vale anunciou também um novo programa de recompra, que prevê a aquisição de até 150 milhões de ações, representando cerca de 3,5% do total em circulação atualmente.
Recompras são vistas como um benefício para o investidor, já que aumentam o número de papéis mantidos em tesouraria e diminui os que estão nas mãos de investidores. Por tabela, o volume total de dividendos pagos é compartilhado entre menos ações, aumentando o valor individual recebido pelos acionistas.
Resultado morno, custo de produção é diferencial
Via de regra, os analistas do mercado consideraram o resultado da Vale no terceiro trimestre “morno”, na melhor das hipóteses. A mineradora teve lucro líquido de US$ 2,8 bilhões, um recuo de 36% sobre igual período do ano passado, mas 218% acima do segundo trimestre de 2023.
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A receita líquida de vendas somou US$ 10,6 bilhões no terceiro trimestre, avanço de 7% ante o mesmo período do ano anterior e 9,8% maior na comparação com os três meses imediatamente anteriores.
Para o Itaú BBA, a geração operacional de fluxo de caixa livre, de US$ 1,1 bilhão, foi “decente” e os custos de entrega para a China, o “ponto mais baixo” do trimestre.
Para Gabriel Guimarães Bassotto, analista-chefe de ações da Simpla Club, o diferencial da Vale segue concentrado no seu custo de produção. “A Vale gasta ao redor de US$ 58 por tonelada de minério de ferro, enquanto o preço da commodity estabilizou acima de US$ 110 por tonelada. É uma diferença muito boa, que basicamente se converte em geração de caixa”, avalia.
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O “risco China” – país que compra boa parte da produção da Vale – não está descartado, pondera Bassotto. A economia chinesa está em desaceleração, que pesa principalmente sobre o setor imobiliário, motor de consumo de matérias-primas. Uma “sobra” de minério no mundo, em função de uma menor demanda pelo país, poderia pressionar os preços para baixo, afetando os resultados da mineradora.
É um risco sob monitoramento, mas não suficiente para estragar o humor dos analistas com a empresa. “No momento, as ações são negociadas a um preço muito baixo diante da qualidade da companhia. Nossa visão é positiva”, diz o analista, projetando retorno com dividendos (dividend yield) acima de 9% nos próximos anos.
Não há expectativas de que, neste ano, a Vale repita resultados semelhantes aos de 2021, quando a produção de minério atingiu recorde – exatamente em função da crise no setor imobiliário chinês, diz Guilherme Gentile, head de análise da Dividendos.me.
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“Mas a empresa ainda gera um bom fluxo de caixa com o preço atual do minério e está constantemente trabalhando para reduzir os custos de produção. Portanto, ainda pode ser uma boa opção para quem procura ações de dividendos e de valor”, afirma.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, reforça que, embora seu carro-chefe seja o minério de ferro, a Vale também atua em outros mercados – como o de cobre, que está em alta em função da eletrificação de vários setores da economia (como o automobilístico). “O Brasil tem boas reservas, e isso passa pela Vale, que pode ser uma grande ganhadora nesse segmento no futuro”, afirma. A produção de outras commodities, ressalta Cruz, ajuda nas vendas quando a demanda por minério diminui.