Produtor suspende pagamento de título e afeta mais um Fiagro na Bolsa

Fiagro RURA11 tem 3,3% de exposição a um CRA com atraso nos repasses; gestora Itaú Asset diz estar em contato com o emissor para buscar uma solução

Paulo Barros

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A crise no agronegócio que desencadeou recuperações judiciais de AgroGalaxy (AGXY3) e Portal Agro nas últimas semanas não parece ter terminado. A bola da vez é o megaprodutor rural João Batista Consentini, que conseguiu na Justiça do Tocantins uma proteção contra credores, o que na prática suspende pagamentos devidos – entre eles, os referentes a um Certificado de Recebível do Agronegócio (CRA) detido por fundos investidos por pessoas físicas.

Um deles é o RURA11, um Fiagro da Itaú Asset que tem 3,3% do patrimônio líquido em crédito privado devido por Cosentini. A gestora não informou o valor exato investido no papel. Segundo último relatório gerencial, o fundo tinha PL de R$ 1,6 bilhão, o que significaria que cerca de R$ 52,8 milhões estariam aplicados nos recebíveis problemáticos do produtor do Tocantins.

O episódio ocorre no seio de uma crise que abala o setor agro como um todo, e que deve levar tempo para se esvair. Segundo analistas, os pedidos de recuperação judicial de AgroGalaxy e Portal Agro devem causar um efeito cascata na indústria, ameaçando fluxos de pagamento de CRAs já emitidos, e freando o ritmo de novas emissões diante de um cenário de clima adverso e Selic alta que espreme ainda mais as finanças dos produtores.

Como fica o RURA11

O RURA11 é um fundo conhecido por ter um portfólio bem diversificado. Segundo a Itaú Asset, o produto está exposto atualmente a 62 devedores em diferentes culturas e regiões do Brasil, o que, aliado a garantias previstas em contrato, “oferecem uma importante proteção neste momento mais adverso do mercado Agro”.

No entanto, a diversificação do fundo não parece ter impedido uma forte depreciação nas cotas, que chegaram a recuar 8,5% nesta semana. Após sessão de recuperação nesta quinta-feira (3), o ativo registra perdas de 6,39% desde a última sexta-feira, a R$ 9,09, segundo dados da B3.

Segundo o site AgriBiz, Consentini tem um faturamento de cerca de R$ 500 milhões por safra, mas acumula dívidas da ordem de R$ 700 milhões, poucos meses após ter levantado R$ 104 milhões com a emissão de dois CRAs entre março e maio deste ano. Ainda de acordo com o AgriBiz, a Justiça do Tocantins concedeu 60 dias para que o produtor busque uma solução para a dívida, que envolvem os CRAs.

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O maior deles, de R$ 77 milhões e investido pelo RURA11, teve assembleia realizada no dia 15 de agosto que aprovou mudança no cronograma de pagamentos. Questionada sobre os motivos que levaram à medida, a securitizadora Canal não respondeu até a publicação. O emissor não foi localizado pela reportagem.

A Itaú Asset diz estar buscando junto ao devedor uma solução para a liquidez financeira e, consequentemente, pagamento da operação ao fundo. A casa também esclarece que o RURA11 tem garantias que cobrem cerca de 130% do crédito devido pelo produtor. Dessa forma, pela natureza da operação, o fundo não estaria exposto aos efeitos de uma eventual recuperação judicial.

“A gestora tem boas expectativas para o caso, tendo em vista ainda o histórico do RURA11 em outras situações como essa”, diz a Itaú Asset, citando o exemplo de uma dívida da Agrocin que representava 1% do patrimônio líquido do fundo, e que teve o principal e parte “relevante” dos juros recuperados na última segunda-feira (30), mesmo após pedido de recuperação judicial do emissor.

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas