SÃO PAULO – Guardar dinheiro é o primeiro passo a ser dado por quem pretende ter uma aposentadoria tranquila. Tão importante quanto isso, porém, é montar uma carteira de investimentos rentável e adequada ao seu perfil.
“O brasileiro hoje tem de olhar para a previdência para não perder anos de aposentadoria. A melhor estratégia é aliar o longo prazo com uma estratégia diversificada”, diz Sergio Prates, diretor regional da seguradora Icatu.
A boa notícia é que o crescimento da oferta de produtos, especialmente com o lançamento mais frequente de fundos de previdência por gestoras independentes (desvinculadas de grandes bancos), e a disseminação da portabilidade atuam a favor dos investidores. Mas o maior leque de opções também precisa ser acompanhado de um processo de seleção mais criterioso.
Com os juros tão baixos, faz sentido escolher aplicações de renda fixa para o longo prazo? Quanto vale a pena investir em ações? Como escolher bons fundos?
O InfoMoney fez essas e outras perguntas a duas das principais seguradoras de previdência do mercado brasileiro, Icatu e SulAmérica, e também à XP, que lançou neste mês três carteiras sugeridas para que os clientes possam ter maior diversificação em seus portfólios previdenciários, com diferentes níveis de risco assumidos.
A SulAmérica recomenda que mesmo investidores conservadores corram algum risco ao se planejar para a aposentadoria. Segundo Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos, vida e previdência da seguradora, os investidores já estão buscando produtos de maior risco, especialmente fundos multimercado (a procura por ações ainda é tímida). A queda dos juros está entre os motivos principais da mudança.
“É a primeira indicação de que o mercado está mudando de forma acelerada. O cliente está buscando produtos mais sofisticados, muito impulsionados pela taxa de juros mais baixa”, diz Mello.
Já a XP indica hoje apenas fundos de renda fixa para quem é conservador. A carteira de perfil moderado, por sua vez, tem maior equilíbrio entre a tolerância para tomada de risco e a busca por maiores retornos, com nove fundos recomendados para este mês, de renda fixa, multimercado e renda variável.
Por fim, a carteira agressiva busca maiores retornos, ainda que a seleção de ativos também vise a preservação de capital no longo prazo. A seleção de setembro tem oito fundos, também de renda fixa, multimercados e renda variável.
Alocação por estratégia | Conservadora | Moderada | Agressiva |
Pós-Fixado | 90% | 35% | 7,50% |
Juros Ativo | 10% | 12,50% | 15% |
Multimercado | 0% | 35% | 50% |
Renda Variável | 0% | 17,50% | 27,50% |
“Além de ter uma carteira diversificada, o investidor tem a possibilidade de investir em gestores com fundos que não estão abertos para captação”, diz Henrique Pocai, head de produtos da XP Corretora de Seguros, em referência a fundos de previdência com estratégia semelhante aos fundos de investimento de grandes gestoras, como Verde, Adam e SPX.
A XP programa lançar ainda neste semestre fundos que repliquem as indicações de cada carteira, para que o investidor não precise fazer a gestão de seu portfólio sozinho. “A previdência é apenas o primeiro passo. A diversificação é o segundo”, assinala Pocai.
Em sua avaliação, o ideal é que um investidor tenha em sua previdência de sete a dez fundos para capturar os benefícios da diversificação, número que vai variar conforme o tamanho do patrimônio.
Mais idade, menos risco
É importante ressaltar que o perfil do investidor deve mudar à medida que ele se aproxima da aposentadoria. Quanto mais perto de usar os recursos da previdência, mais conservador ele deve ficar, considerando o risco de perda e o tempo mais limitado para recuperar um eventual prejuízo.
Com R$ 32 bilhões em ativos nas modalidades PGBL e VGBL, a Icatu vê nos chamados fundos “data-alvo” (versão brasileira dos fundos americanos do tipo life cycle) uma alternativa para quem quer contar com uma carteira diversificada, com a possibilidade de buscar maior conservadorismo a medida que a idade de aposentadoria se aproxima.
A Susep (Superintendência de Seguros Privados) define esses fundos como aqueles com objetivo buscar retorno num prazo referencial, por meio de investimentos em diversas classes de ativos e uma estratégia de rebalanceamento periódico. Os fundos data-alvo têm o compromisso de reduzir a exposição ao risco à medida que o prazo para a respectiva data-alvo se aproxima.
Prates explica que, na Icatu, o fundo compra cotas de mais de 10 fundos diferentes, com a cobrança de uma única taxa, e a alocação fica 100% em renda fixa pouco antes do ano “final”. Um fundo com foco em 2040 tem hoje, por exemplo, cerca de 35% de exposição em ações.
“Essa é uma classe de fundos que cresce muito devagar, porque há uma falta de conhecimento e um pouco mais de risco, mas acho que, daqui para frente, o fundo tende a ter uma relevância significativa”, diz Prates.
Com uma plataforma aberta, a Icatu tem hoje 259 fundos diferentes de 77 gestores. Os mais de 260 mil clientes de previdência dividem suas carteiras entre 53% em renda fixa, e 47%, em fundos multimercados. Em 2019, a Icatu sequer colocou fundos de renda fixa na sua grade.
Com captação líquida de R$ 5,5 bilhões da Icatu no primeiro semestre, um crescimento de 155% em relação ao mesmo período de 2018, Prates assinala que o mercado como um todo só começou a crescer de fato em junho. “Até então era mais rouba monte entre clientes.”
Da renda fixa para os multimercados
A SulAmérica tem portfólios sugeridos de acordo com o perfil de risco do participante, com uma exposição atual de 70% à renda fixa e 30% em multimercado, no caso do cliente conservador; 45% em renda fixa, 40% em multimercado e 15% em fundos balanceados para o moderado; e 30% em renda fixa, 45% em multimercado e 25% em balanceados, para o perfil agressivo. O número de fundos oscila hoje de cinco a sete.
Alocação por fundo | Conservador | Moderado | Agressivo |
Fundos Renda Fixa | 70% | 45% | 30% |
Fundos Multimercado | 30% | 40% | 45% |
Fundos Balanceados | 0% | 15% | 25% |
“O cliente de previdência quer estar na renda variável, mas ainda com alguma proteção”, observa Mello, ressaltando a demanda que começa a ser vista por fundos multimercado do tipo “long biased”.
Além da queda da Selic, a modernização do arcabouço regulatório, com a flexibilização das alocações, está por trás da evolução do setor, nota o vice-presidente, que ainda menciona o ambiente mais competitivo, com o crescimento nas distribuições digitais via plataformas de arquitetura aberta, além do fomento gerado pelas discussões sobre a reforma da Previdência.
“Essa é uma indústria que vem, nos últimos 24 meses, com uma dinâmica completamente diferente do que a gente viu nos últimos 15 anos”, observa Mello. Ainda assim, destaca, há um longo caminho pela frente, dado que 94% do mercado está nas mãos de seguradores de varejo, isto é, dos grandes bancos.
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