Por que investidores de Bitcoin ignoraram ofensiva dos EUA contra Binance e 12 criptomoedas?

Além de não ter impactado muito o Bitcoin, para Fuse Capital, investidora da Hashdex, imbróglio nos EUA pode inclusive beneficiar o Brasil; entenda

Paulo Barros

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A Binance e a Coinbase foram processadas pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (a SEC), que também apontou que 12 criptomoedas, incluindo nomes famosos como BNB e Cardano (ADA), são títulos não registrados — ainda assim, o Bitcoin (BTC) pouco se mexeu.

Apesar de ter recuado 5% na segunda-feira (5), quando a SEC ingressou com ação contra a Binance, a criptomoeda retomou movimento de alta e praticamente zerou as perdas nos dias seguintes.

Por que os investidores de cripto parecem ter ignorado o episódio? Para João Zecchin, cofundador da Fuse Capital, a situação não causa surpresa.

“Nossa leitura é que isso já estava precificado, todo mundo já estava esperando um aperto de regulação mais para o final do ano”, contou o executivo ao Cripto+, programa semanal do InfoMoney sobre o universo dos ativos digitais (assista à íntegra no vídeo acima).

Em um processo ingressado na Justiça americana nesta semana, a SEC acusou a Binance e seu fundador, Changpeng ‘CZ’ Zhao, de manipular fundos de clientes, enganar investidores e reguladores e violar regras de valores mobiliários. A agência também tenta congelar os ativos da Binance.US e proteger os fundos dos clientes, inclusive por meio da repatriação de investimentos de usuários mantidos no exterior.

O órgão americano ainda processou a Coinbase pela oferta irregular de tokens considerados títulos não registrados, em acusação também imposta à Binance (confira a lista de ativos na mira do regulador).

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De lado, mas com potencial

Na avaliação de Zecchin, o mercado deve se manter lateralizado até que a a batalha entre regulador e empresas do setor cheguem a um desfecho nos EUA, algo que não deverá acontecer em 2023.

Por outro lado, o executivo aposta alto no futuro da tecnologia como um todo por sua capacidade de inovação veloz alimentada por uma cultura que acelera a criação de soluções financeiras ao passo — e, por isso, anda muito à frente dos reguladores.

Especializado em negócios no setor cripto e Web 3.0, a Fuse Capital é uma das investidoras da gestora Hashdex, assim como da Credix, uma empresa cofundada por um brasileiro na Bélgica que tem objetivo de desintermediar o financiamento de negócios no Brasil, e que vem participando das discussões em torno do real digital.

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“A gente investe muito em blockchain e na tecnologia dos rails (trilhos), no que essa infraestrutura descentralizada permite fazer e que não permitia
antes. Esses rails vão mudar a forma como o mundo funciona e como opera e transaciona”, explica. “É um mundo open source (de código aberto) que é super interessante para inovação, porque é muito mais rápida em um mundo ainda é pouco regulado.

Oportunidade para o Brasil

Outro fator que compõe a análise do cofundador da Fuse é uma possível consequência da crise instalada nos EUA é a fuga de investidores do país por conta da incerteza regulatória, inevitavelmente empurrando empreendedores para novos mercados, como o Brasil.

“São mais de 200 milhões de pessoas que são super pró inovação, o Brasil tem a base de adoção de cripto bem alta desde o início. Os empreendedores de fora olham para isso e combinam com um regulador pró-business, um banco central que está buscando usar os rails de cripto cada vez mais para inovar no sistema monetário, você tem um mercado perfeito para lançar qualquer produto”, avalia.

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas