Por que as taxas dos títulos públicos de inflação voltaram a bater recorde no Tesouro Direto?

Às 15h20 de hoje, o Tesouro IPCA + 2040 e o 2055 com pagamento de cupom, por exemplo, ofereciam retornos reais de 5,71% e de 5,74%, respectivamente

Bruna Furlani

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Investidores que entraram nesta terça-feira (18) na plataforma do Tesouro Direto se depararam com juros reais mais elevados entre papéis atrelados à inflação, mais conhecidos como Tesouro IPCA+. As taxas de alguns títulos, inclusive, voltaram a se aproximar de patamares recordes, especialmente os de prazo mais longo.

Na segunda atualização da tarde desta terça-feira, o Tesouro IPCA+ 2040 e o Tesouro IPCA+ 2055 com pagamento de cupom semestral, por exemplo, ofereciam retornos reais de 5,71% ao ano e de 5,74% ao ano, respectivamente. Ambas são as maiores taxas já oferecidos por esses títulos desde que começaram a ser negociados, em fevereiro de 2020.

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Segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney, a elevação dos juros reais, especialmente de papéis com prazo mais longo, está ligada ao aumento do risco País. Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos, ressalta que quanto mais longo é o prazo do título, maior costuma ser o impacto do risco País. Além disso, tem pesado na conta a aproximação das eleições, acompanhadas por uma série de incertezas e riscos. “É bastante justificável que tenhamos esses preços hoje, principalmente na parte longa da curva”, afirma Morelli.

As discussões em torno de reajustes salariais de servidores federais também vêm causando impacto sobre os juros, levando o mercado a exigir cada vez mais prêmio. “O risco fiscal embutido nas curvas de juros advém também dos pedidos em torno de salários. Isso impacta nas curvas curtas e se espalha pelos títulos mais longos”, observa Ariane Benedito, economista da CM Capital.

Outro fator que ajuda a provocar uma alta mais expressiva das taxas é o preço do petróleo, que não para de subir em meio ao aumento das tensões geopolíticas, explica Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos.

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Esse cenário, na visão do executivo, preocupa porque pode intensificar as pressões pela redução no preço dos combustíveis. O problema, segundo ele, é que qualquer subsídio que for oferecido pelo governo pode estourar o teto de gastos, gerar mais ruídos fiscais – e portanto,  aumentar o prêmio de risco.

Também do lado internacional, os retornos mais elevados dos títulos públicos refletem as notícias de que os Estados Unidos estão cada vez mais próximos de aumentar seus juros. Declarações recentes de dirigentes do Federal Reserve (Fed), que é o banco central americano, apontaram que a primeira alta pode ocorrer já em março, antes do que era esperado previamente.

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Morelli, da Davos, afirma que a curva de juros americana é referência para todo o mundo. Logo, se há uma alta por lá, isso provoca alterações no resto dos países e uma consequente elevação da curva de juros brasileira, por exemplo.

“Num cenário de juros mais altos [nos EUA], podemos ter um dólar mais forte e um cenário mais adverso para mercados emergentes, o que piora a visão de risco. Localmente, temos ainda pressão negativa das eleições, o que aumenta os riscos e as incertezas”, observa o estrategista-chefe da Davos.

Vale a pena investir?

Quando o assunto é investimento, Marcatti afirma que vale a pena investir nos títulos atrelados à inflação porque eles continuam protegendo o investidor de surpresas inflacionárias. “Uma coisa é a inflação realizada, outra coisa é a inflação esperada. Se tivermos persistência nos indicadores inflacionários por mais tempo, esse tipo de papel pode proteger o investidor e entregar cupons interessantes”, afirma.

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Isso sem contar, diz o CEO da Veedha Investimentos, que a expectativa é de que quanto mais rápido o Banco Central elevar a Selic e conseguir controlar a inflação, mais rápido deve começar o novo ciclo de corte de juros. Logo, isso deve trazer menos pressão para as curvas longas.

Nesse caso, o investidor que adquiriu os títulos a taxas mais altas poderia tentar realizar a venda antecipada deles e obter ganhos de capital, já que a tendência é de que as taxas voltem a cair. A razão é a chamada marcação a mercado.

A taxa de juros oferecida por um título de renda fixa tem uma relação inversa com o seu valor de negociação no mercado. Quando as taxas aumentam, como tem sido o caso do último mês, seu preço tende a cair. Mas o contrário também é verdadeiro.

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Porém, há quem prefira não arriscar em títulos de prazo mais longo. Ariane, da CM Capital, explica que as carteiras recomendadas de títulos públicos da casa estão considerando apenas prazos máximos de dez anos. Nesse caso, as opções disponíveis hoje são o Tesouro IPCA+ 2026, além do papel com vencimento em 2030 e que oferece cupom.

Morelli também prefere ser mais cauteloso. Para ele, ainda não é o momento de alongar os prazos dos títulos. “Eu não vejo uma solução ou calmaria de curto prazo. Ainda preferimos a parte curta ou intermediária porque os juros estão atrativos e não há tanta exposição ao risco. Também não acho que é o momento de vender ou sair de uma posição agora”, afirma.

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