Pirâmide cripto da Paraíba promete 12% ao mês, interrompe resgates e desvia dinheiro para Ilhas Virgens

Fiji Solutions, com sede em Campinha Grande (PB), é acusada de aplicar golpe de R$ 600 milhões com uso de ativo digitais

Lucas Gabriel Marins

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A Fiji Solutions, suposta pirâmide financeira de Campina Grande (PB) acusada de aplicar um golpe de US$ 600 milhões em investidores, abriu uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas em fevereiro deste ano, logo após parar de pagar os clientes.

A informação consta em um documento da Financial Services Comission (FSC, a Comissão de Valores Mobiliários da Ilhas Virgens), ao qual a reportagem do InfoMoney teve acesso. O número de registro do negócio no exterior é 2118357.

Golpistas do mercado cripto costumam recorrer a paraísos fiscais porque esses locais oferecem vantagens tributárias e isenção de impostos em muitos casos, além de terem regras rígidas de sigilo. A falida exchange FTX, por exemplo, tinha sede nas Bahamas.

O braço internacional da suposta pirâmide financeira brasileira foi nomeada de Fiji Tech Holdings Limited e tem como sócios Buenos Aires Jose Soares de Souza e o casal Emilene Marilia Lima do Nascimento e Breno de Vasconcelos Azevedo, donos do esquema aqui no Brasil.

Emilene e Azevedo foram presos na semana passada no âmbito da Operação Ilha da Fantasia da Polícia Federal (PF), na Paraíba. Souza também foi detido, mas em uma operação da Polícia Civil no Rio de Janeiro, acusado de abuso sexual infantil. Os agentes da PF também cumpriram oito mandados de buscas e apreensão em endereços ligados ao negócio.

“A empresa foi aberta (nas Ilhas Virgens) cerca de duas semanas antes dos problemas. Desde então, são sucessivas datas (de pagamento) que são repassadas aos investidores, sem qualquer êxito, o que nos leva a ter que demandar judicialmente para tentar reaver os valores dos clientes”, disse Artêmio Picanço, advogado do escritório Picanço F. Braga Advogados, especializado em criptomoedas. Foi ele que descobriu a empresa aberta nas Ilhas Virgens.

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Cadê o dinheiro

No pedido de busca e apreensão criminal, a que a reportagem teve acesso, o juiz federal Vinícius Costa Vidor, que autorizou a ação, disse que os valores transferidos pelas pessoas para a Fiji sumiram e foram desviados pelos acusados.

“Observou-se que os contratos celebrados com as vítimas indicam uma carteira de destino da rede Tether (USDT) inexistente, que não apresenta mais registro na blockchain respectiva e que não há registros formais do destino atual dos valores”, escreveu.

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“Da mesma forma, não foram localizadas carteiras virtuais que contenham todos os criptoativos supostamente na posse da empresa, a indicar que os valores captados foram desviados em proveito próprio ou para o pagamentos de antigos investidores, de modo a conferir aparência de legitimidade ao esquema de pirâmide”, completou.

Para evitar uma possível fuga dos acusados, a Justiça também determinou a retenção dos passaportes deles.

4% a 12% ao mês

A Fiji, fundada pelos três acusados presos na semana passada, organizava, geria, divulgava, distribuía e intermediava supostas operações com criptomoedas, em um dito negócio de contrato de aluguel de moedas digitais.

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O esquema funcionava de forma semelhante a outros golpes nacionais que usaram ativos digitais para atrair vítimas, como Braiscompany, também de Campina Grande; GAS Consultoria, de Cabo Frio (RJ); e Rental Coins, de Curitiba (PR). Golpes com criptomoedas causaram perdas de R$ 40 bilhões a 4 milhões de brasileiros em 5 anos.

“As evidências de que se trata de um esquema de pirâmide financeira com criptomoeda é robusta, uma vez que os contratos de locação de criptoativos supostamente adquiridos indicam lucros irreais de (4% a 12% ao mês), típicos dessa modalidade de fraude”, disse o magistrado.

Em abril, o Ministério Público da Paraíba (MPPB) entrou com uma ação civil pública contra a Fiji Solutions e pediu o bloqueio de quase R$ 400 milhões do negócio, o que foi acatado pela Justiça.