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Quanto mais escassas as commodities, melhor. Essa é uma das estratégias de João Landau, fundador e gestor macro da Vista Capital, para lidar com a inflação. “O ativo mais inflacionário no mundo é petróleo”, explica.
Mas, enquanto o mercado de modo geral acredita que o menor nível de oferta do combustível esteja acontecendo agora, Landau pensa diferente. “O maior momento de falta de petróleo é seis meses na frente, e não hoje”, diz. Por isso, as alocações da gestora no bem estão focadas em dezembro de 2022 e em 2023.
“Parte dos resultados deste ano veio porque, em vez de tomados em juros, estamos comprados em petróleo. Queremos ativos finitos. E buscamos as commodities mais escassas”, revela.
Landau é o convidado do 40º episódio do podcast “Outliers”, apresentado por Samuel Ponsoni, gestor de fundos da família Selection na XP, acompanhado de Carol Oliveira, coordenadora de análise de fundos da XP, e Lucas Collazo, analista de fundos e estrategista de alocação da Rico Investimentos.
Uma das características dos fundos multimercado – que se assemelham aos hedge funds internacionais – é buscar a proteção das apostas que fazem. Cada posição comprada tem outra oposta, de “segurança”. E como os gestores da Vista “protegem” as alocações em petróleo? Não o fazem.
“Eu deveria estar aplicando em juros. Porém, tenho medo de uma inflação mais forte no mundo, então acaba que o petróleo e o ouro são proteções que se protegem por si só”, detalha.
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Durante a entrevista, Landau relembrou os passos até a abertura da empresa, explicou os pilares que compõem a gestora, como administra e quais são os desafios de se lidar com hedge, bem como os riscos de mercado aos quais estão atentos.
Medo da sombra
Como um bom hedge fund, é preciso estar atento e forte às ameaças, mesmo que elas não se concretizem. Em janeiro de 2020, a Vista elencou três potenciais riscos: vírus na China, eleições americanas e uma guerra entre Turquia e Rússia.
“O mesmo peso da Covid foi dado a uma guerra em que não aconteceu nada. Então a gente está sempre com muito medo da sombra. E a proteção para Covid acabou funcionando muito bem”, conta Landau.
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Para o gestor, o maior receio atual não é da sombra. É de algo que o mercado todo vê, mas tem dificuldade de precisar: a inflação. Inicialmente, ele e os outros executivos da Vista pensavam ser algo transitório, um choque de oferta, mas agora entendem que o problema é de demanda.
“O ativo mais perene é o mercado de trabalho. Nosso medo é faltar mão de obra nos Estados Unidos, e o processo inflacionário perder essa grande proteção dos Bancos Centrais”, explica.
Em relação a commodities, a Vista não enxerga um grande risco no petróleo, mas está de olhos abertos para combustíveis alternativos. Na prática, entraram na carteira investimentos em hidrogênio e urânio, e há um acompanhamento de conferências de tecnologia em busca de informações sobre os avanços nesse setor.
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Entre as ameaças menores, Landau cita o conflito da China com Taiwan, uma piora institucional americana e uma possível perda da capacidade produtiva chinesa. Mas a gestora não dedica uma posição direcional com relação a esses temas.
Investimentos “fora da caixa”
Após cantar algumas bolas de alocações alternativas em urânio e criptoativos, as posições inusitadas da Vista agora se concentram no mercado nacional.
“É raro para a gente estar posicionado em Brasil. O governo e o País testam nossa convicção todos os dias. Mas hoje ficou tudo barato: o câmbio está barato, juros altos demais, bolsa barata demais”, diz.
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Os riscos, a seu ver, são do país continuar em um caminho de estagflação e “demonização” do setor privado. O gestor cita como os juros altos dificultam a abertura de pequenos negócios, enquanto as grandes corporações conseguem manter seus subsídios e captar empréstimos mais atrativos.
“O Brasil é formador de oligopólio: juro alto destrói sonhos. E, quando você faz isso, beneficia as [grandes] empresas. A ‘não’ Reforma Tributária é concentradora de renda, então a Bolsa facilita estar exposto a esse cenário macro triste do Brasil. Mas que é muito bom para essas empresas que estão baratas”, explica.
Entre as posições da carteira estão Petrobras, Natura, BR Properties, Lojas Renner, Bradesco, Intermédica, Rumo e Unibanco. “Tirando os bancos, nossa carteira não muda. Quero empresas que cheguem do outro lado do túnel, que vão estar lá em 2030, 2040. Boas empresas capitalizadas nesse momento nadam de braçada”.
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Esperar as coisas acontecerem
A mira da Vista é a longo prazo. Quando a empresa começou, essa era uma característica criticada, conta Landau. “Não tem certo e errado, é a forma que a gente sabe fazer. Essa paciência dói, porque você perde oportunidades. Felizmente a gente conseguiu construir essa tranquilidade interna e externa de esperar as coisas acontecerem”, compartilha.
No episódio, Landau dá três conselhos para os investidores, e o primeiro deles é uma prática que o ajuda a manter o racional de longo prazo: a cada escolha, registrar a linha de pensamento por trás da alocação, aonde pretendia chegar com esse investimento.
“Porque depois você não pode deixar seu psicológico te atropelar. Então, você volta naquele momento: o que eu fiz de errado? Ainda estou acreditando naquilo? Mudou alguma coisa? Se mudou, você sai dessa posição. Se não mudou, você persevera”, diz.
A segunda dica é fugir do consenso, principalmente em reuniões com outros analistas do mercado. “Esquece as respostas. Foca nas perguntas. Se todo mundo sabe a resposta, já está no preço”, diz.
O terceiro ponto é ter humildade. “Quando você começa a acertar muito e a achar que é melhor que os outros, pare, pense e esteja sempre alerta. Porque o mercado é muito cruel com todos”.
A entrevista completa e os episódios anteriores podem ser conferidos pelo Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcasts.
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