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A Petrobras paga, nesta terça-feira (20), a primeira parcela dos proventos de R$ 43,7 bilhões, referentes ao balanço do terceiro trimestre. O valor equivale a R$ 1,67 por ação.
Embora os investidores ainda tenham mais uma parcela para receber, de igual valor, em janeiro de 2023, o clima no mercado financeiro já é de saudosismo. Na visão dos analistas, este pode ser o último dividendo farto pago pela companhia nos próximos anos.
Corretoras e casas de análise consultadas pelo InfoMoney projetam um dividend yield (taxa retorno em dividendos) para Petrobras de 6% a 22% em 2023 – já precificando possíveis cortes no payout (parcela do lucro líquido destinada a distribuição de proventos). Embora o rendimento não seja baixo, a Petrobras deixou de ser a preferida dos analistas, que já têm potenciais substitutas para o papel.
A estatal foi a maior pagadora de dividendos da B3 em 2022, distribuindo R$ 16,74 por ação, com um dividend yield de 58,84%. Em valores brutos, foi responsável por mais da metade dos proventos pagos pelas companhias listadas na Bolsa – foram R$ 173,415 bilhões distribuídos pela Petrobras até setembro, contra R$ 127,822 bilhões por outras 314 companhias.
No segundo trimestre, chegou a figurar como a maior pagadora de dividendos do mundo, e foi a terceira no terceiro trimestre, segundo ranking da gestora Janus Henderson. É possível que encerre o ano como a segunda maior pagadora global, atrás apenas da BHP (BHPG34).
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Convenhamos: é difícil desapegar daquilo que, aparentemente, está dando certo. Não haveria razões para manter as ações da Petrobras na carteira em 2023?
O InfoMoney conversou com sete analistas e especialistas que acompanharam Petrobras para estratégias de dividendos neste ano, de casas como Levante, XP, Guide, VG Research, Benndorf Research, Top Gain e MMBarsi Investimentos. Confira o que considerar antes de decidir comprar ou vender as ações da empresa:
• Petróleo internacional e combustíveis
• Investimentos e endividamento
• Novo governo e lei das estatais
• Petrobras na carteira: manter ou tirar?
• Qual será a nova Petrobras?
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Preço internacional do petróleo e dos combustíveis
Um dos motivos que fortaleceram os dividendos da Petrobras foram os preços internacionais do petróleo. A política de preços da companhia estabelece que os preços dos combustíveis no Brasil devem variar de acordo com as cotações nos principais mercados globais, além do câmbio e dos custos de importação.
O petróleo dos tipos Brent e WTI negociam atualmente a US$ 80 e US$ 75 o barril, respectivamente. Mas chegaram a superar US$ 100 o barril.
A maioria dos analistas ainda enxerga a continuidade dos preços do petróleo em patamar elevado em 2023, beneficiando o lucro da Petrobras – desde que a empresa mantenha a mesma política de preços.
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Para Flávio Conde, analista da Levante, os preços do petróleo devem seguir entre US$ 70 (WTI) e US$ 80 (Brent), de 10% a 20% abaixo do preço médio de 2022. “Os lucros da Petrobras devem cair na mesma proporção”, destaca. Já Luan Alves, head de equity da VG Research, diz que qualquer cotação acima de US$ 40 o barril seria suficiente para a Petrobras se manter lucrativa, mas prevê preços na faixa dos US$ 70 o barril em 2023.
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No curto prazo, Mateus Haag, analista de equity da Guide, espera que o petróleo caia para a faixa dos US$ 65 por conta da recessão prevista para países desenvolvidos. Uma recuperação aconteceria a partir de 2024, acompanhando a diminuição da oferta e o aumento da demanda por fatores ESG (ambiental, social, governança).
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Haag não acredita em mudanças na política de preços da Petrobras no próximo ano, já que, segundo o analista, seu estatuto social prevê ressarcimento pela União caso a Petrobras tenha perdas por praticar preços desalinhados com o mercado. “Seria mais inteligente remover primeiro esse parágrafo do estatuto, e isso deve levar um tempo”.
Investimentos e endividamento
Para Conde, o endividamento da Petrobras deve continuar baixo em 2023, já que sua geração de caixa supera os investimentos já programados. “A dúvida é em 2024, quando um plano de investimentos englobando novas refinarias e energia renovável deve entrar em vigor”, destaca.
Haag acredita que o desinvestimento em alguns ativos, iniciado ainda no governo Dilma Rousseff (PT), deve se manter – em campos maduros, extração on-shore (em terra) e ativos do pós-sal. Por outro lado, a venda de refinarias e plantas de biocombustíveis deve ser encerrada. São ativos pouco rentáveis, na visão do analista, que podem ser priorizados no novo governo.
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Lei das Estatais e novo comando
Embora as ações da Petrobras já tenham recuado de R$ 37 para R$ 23 nas últimas semanas, é possível que caiam ainda mais, dadas as incertezas envolvendo a Lei das Estatais e quem será o novo CEO da companhia.
Segundo Júlio Borba, analista da Benndorf Research, mudanças na Lei das Estatais poderiam abrir caminho para pessoas com potencial interesse político assumirem cargos importantes na empresa. “Isso pode trazer risco de desvalorização adicional”, aponta.
Para Andre Vidal, Guilherme Nippes e Helena Kelm, analistas de óleo e gás da XP, é justamente essa incerteza sobre o arcabouço legal e institucional que dificulta projetar o futuro da Petrobras e seus dividendos.
“Uma possível alteração prevista na Lei das Estatais, em projeto aprovado pela Câmara, seria o aumento do limite de despesas com publicidade e patrocínio por empresa pública dos atuais 0,5% para até 2% da receita bruta operacional, além de alterações em ano eleitoral”, explicam. Eles calculam que 1,5% de receita bruta da estatal equivale a até R$ 11 bilhões por ano. “Se fosse uma perda de margem permanente, implicaria em uma redução no nosso preço-alvo ao redor dos R$ 3,50 para PETR4“.
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Já em relação ao novo comando da estatal, dois nomes são ventilados pelo mercado: o senador Jean Paul Prates (PT-RN) e Magda Chambriard, ex-diretora-geral da ANP (Agência Nacional de Petróleo). Recentemente, o nome de Maurício Muniz Barretto de Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria de Portos, também foi citado. Seria uma indicação de Dilma.
Para Sidney Lima, analista da Top Gain, são nomes políticos, e não técnicos. “Esse perfil acaba assustando o mercado, porque são pessoas que podem ter a tendência de utilizar a Petrobras para políticas populistas. Seria um grande problema para a empresa”, afirma.
Para Conde, Magda seria provavelmente melhor aceita pelo mercado do que Prates, por ser funcionária de carreira da Petrobras. A estabilidade da companhia, contudo, está condicionada à liberdade de sua futura gestão para determinar a política de preços, de investimentos e o payout. “Apenas nesse cenário, pouco provável, as ações da Petrobras poderiam valorizar na direção dos R$ 30”, diz.
Petrobras na carteira de dividendos: manter ou tirar?
Muitos analistas já retiraram ou pretendem retirar a Petrobras das carteiras recomendadas de dividendos para 2023.
A XP, por exemplo, fez esse movimento ainda em dezembro. Destacou que, apesar do desconto das ações e de acreditar no potencial de crescimento da empresa nos próximos anos, as incertezas políticas e possíveis interferências pesam mais. Recentemente, a corretora projetava um dividend yield de 49% para as ações PETR4 e PETR3 em 2023.
Outra que deve retirar a Petrobras da carteira recomendada em 2023 é a Guide. “Não vale a pena ser sócio de uma empresa que não tem como objetivo gerar valor ao acionista”, destaca Haag. A projeção é de um dividend yield de 22% no próximo ano.
Considerando que a Petrobras pode ter um payout de 25% do lucro líquido em 2023, Borba, da Benndorf, espera um dividend yield de 10% para a Petrobras, com destaque para as ações preferenciais. Contudo, não recomenda para uma carteira de renda passiva. “Os dividendos devem cair consideravelmente nos próximos quatro anos. Mas acho que o preço está suficientemente atrativo para quem busca valorização no longuíssimo prazo”.
A Levante passa longe da Petrobras há tempos. Conde projeta que caso o lucro líquido da petrolífera recue 10%, os dividendos somariam R$ 2,64 por ação em 2023, um dividend yield de 11,8%. Num cenário de queda de 20% no lucro, o retorno seria de 7,7%, ou R$ 1,73 por ação.
O único otimista entre os analistas ouvidos pelo InfoMoney é Alves, da VG Research. A casa recomenda compra de Petrobras desde 2020, e manteve o papel mesmo quando superou o preço-teto e o valor justo. “Temos ainda uma boa perspectiva para os dividendos da Petrobras em 2023. Após a queda de mais de 40% desde o pico recente, ela voltou ao radar”, destaca. Ele projeta dividend yield de 11% no próximo ano – desde que a política de preços e os níveis do câmbio e da cotação do petróleo se mantenham.
“Os avanços feitos na gestão da companhia entre 2017 e 2022 a tornaram uma empresa de alta lucratividade e rentabilidade. Por isso, por pior que seja a próxima gestão, parte destes avanços permanecerão. De todo modo, nossa visão é de longo prazo. Para 20 a 30 anos a empresa continua e continuará a ser um bom negócio”, destaca Alves.
Nenhum dos analistas acredita que a Petrobras tenha capacidade de se manter entre as maiores pagadoras de dividendos do mundo ou mesmo da B3 em 2023.
Qual será a “nova” Petrobras nas carteiras de dividendos?
Os analistas enxergam duas outras estatais com risco moderado como fortes candidatas a substituir a Petrobras nas carteiras de dividendos: Copel (CPLE6) e Banco do Brasil (BBAS3).
Entre os que preferem a Copel está a VG Research e a MMBarsi Investimentos. Alves projeta um dividend yield de pelo menos 8,3% no próximo ano. “Em cenários alternativos, a companhia pode chegar a distribuir mais de 20%”, destaca. A Copel é uma empresa híbrida – que atua na geração, transmissão e distribuição de energia no estado de Paraná, um estado com baixo índice de inadimplência e furtos. “É um negócio relativamente perene que tem crescido acima do PIB”, aponta.
Além disso, a empresa tem feito investimentos em energia renovável para se proteger durante períodos de crise hídrica, além de contar com geração térmica. Os dividendos podem superar as expectativas se a empresa vender ativos, como sua operação de distribuição de gás, uma prática que tem sido considerada recentemente. “Ela também tem uma usina hídrica com uma empresa privada, da qual poderia vender uma participação caso não seja privatizada”, avalia.
A privatização é outro fator de potencial valorização e dividendos crescentes para a Copel, destaca Barsi Neto, que projeta dividend yield de 12% em 2023. Conde, da Levante, acredita que a ação pode avançar de 50% a 70% em caso de privatização. Ele projeta dividend yield de 9% no próximo ano.
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O Banco do Brasil, no entanto, ainda é o preferido de Conde. “Se o investidor quer correr o risco de ter estatal na carteira, que seja com Banco do Brasil”, destaca. Os dividendos, em sua visão, devem continuar elevados, e o mercado já precificou um cenário ruim que pode não se concretizar. “O governo já tem o BNDES se precisar de empréstimo para pequenas e médias empresas, já tem a Caixa Econômica, se quiser turbinar o Minha Casa Minha Vida. Se ele tem esses bancos para fazer o que quiser, para que vai mexer no Banco do Brasil?” avalia. O dividend yield esperado em 2023 é de 10,6%.
Borba também prefere trocar Petrobras por Banco do Brasil e projeta um dividend yield para o banco de 13% em 2023. “Governança mais sólida e rentabilidade difícil de piorar significativamente”, avalia. No setor privado, Borba cita a Ferbasa (FESA4) como potencial substituta, com um dividend yield de até 15% nos próximos anos.
Haag, da Guide, acredita que se a China se recuperar da crise imobiliária e os preços do minério subirem, a CSN Mineração (CMIN3) tem forte potencial de entregar dividendos elevados em 2023. Outra mineradora que pode surfar a mesma onda é a Vale (VALE3), com dividendos de 9,5% no próximo ano, segundo Conde.
Fora estas companhias, Alves cita CPFL Energia (CPLE3), Caixa Seguridade (CXSE3) e Wiz (WIZS3). “São empresas que vão fornecer segurança ao investidor e entregar dividendos entre 8% e 12% em 2023”, aponta.