Pesquisa com cerca de 80 fundos de ações e multimercados mostra que perdas de quarta-feira chegaram a 9%

Prejuízos de 39 fundos de ações oscilaram de 3,3% a 9,3% no dia 26, enquanto 43 multimercados registraram queda de 4% a ganho de 0,62%

Beatriz Cutait

Ações em queda (Crédito: Shutterstock)
Ações em queda (Crédito: Shutterstock)

SÃO PAULO – As fortes perdas dos mercados brasileiros registradas na quarta-feira (26), no retorno do feriado, recaíram naturalmente sobre o desempenho de fundos de investimentos mais expostos a riscos. Uma pesquisa elaborada pela equipe de análise de fundos da XP revela que 39 fundos de ações tiveram uma perda média de 3,3% a 9,3% no dia 26, enquanto 43 multimercados registraram desvalorização de 4% a ganho de 0,62%.

O Ibovespa caiu 7,0% na quarta-feira, para 105.718 pontos, e teve seu pior pregão desde o “Joesley Day”, em 18 de maio de 2017, quando desabou 8,8%.

Samuel Ponsoni, coordenador da área de análise de fundos da XP, explica que os resultados são uma prévia de retorno de fundos disponíveis na plataforma da XP. Os fundos multimercado são majoritariamente de estratégia macro, enquanto os de ações são da categoria long only e long biased.

Ainda que o resultado assuste o investidor à primeira vista, ele não chega a ser considerado surpreendente. “Já vínhamos monitorando que, na sua grande maioria, os gestores estavam com carteiras muito otimistas. No caso dos multimercados estratégia macro, é muito comum ver a expressão desse otimismo com Brasil com posições compradas em Bolsa, apesar de não serem focados em ações”, diz Ponsoni. “Como os juros diminuíram bastante e a perspectiva para uma nova queda é próxima de zero, como surfar a continuidade da melhora do Brasil? A resposta para grande parte do mercado era a Bolsa.”

Sua expectativa é que, ao longo dos próximos dias, diversos fundos multimercado macro sigam sofrendo, entregando grande parte ou a totalidade dos bons resultados do ano.

De toda forma, Ponsoni ressalta que o problema dos gestores não está em seu grau de otimismo por si só, mas, sim, na baixa diversidade de classes de ativos para expressar essa visão.

Leia também:
Comprar, vender ou manter: como gestores estão se posicionando na Bolsa nesta volta de feriado
Fundos imobiliários: maioria dos gestores prevê novas quedas no curto prazo, mas vê fundamentos intactos

O segundo ponto destacado por ele diz respeito ao alto grau de correlação entre os gestores. “A maioria é dependente de muitos ativos locais, são poucas as estruturas olhando para o mercado externo de maneira mais aprofundada.”

Por isso, o coordenador da área de análise de fundos da XP chama atenção para o desempenho na quarta-feira de fundos de casas que estavam com visões mais pessimistas e com maior posição internacional, como Adam, Ibiuna e Gávea.

Orientações para o investidor

Ainda que o estresse tome conta dos mercados neste primeiro momento, especialmente quando pouco se sabe sobre a extensão dos danos, Ponsoni destaca que é fundamental ter em mente o horizonte de investimentos de ao menos três anos, no caso de fundos de maior risco.

Além disso, ele destaca a relevância de ter uma parte do patrimônio permanentemente em posições mais defensivas, como atreladas ao dólar e ao ouro. “A premissa de ter um portfólio balanceado tem que ser aplicada sempre”, afirma.

Por ora, as tensões relativas aos efeitos do coronavírus no mundo estão mantendo os gestores sob cautela, de acordo com outras duas pesquisas realizadas pelo time de análise de fundos da XP.

Gestores de fundos multimercado

Um total de 41% de cerca de 30 gestores de fundos multimercados de estratégia macro respondeu que estaria reduzindo as posições mais otimistas, isto é, que se beneficiem caso o mercado como um todo melhore (como exposição vendida em dólar, aposta na queda dos juros futuros no Brasil e alta da Bolsa), até que o cenário fique mais claro.

Outros 30% disseram que manteriam a alocação mais otimista, mas adicionaram proteção à carteira. Só 7% dos consultados pretendiam aumentar as posições para aproveitar os preços mais descontados e outros 7% fariam o oposto, diminuindo a parte mais otimista do portfólio, com adição de hedge.

Fonte: XP

Para 78% dos entrevistados, a Bolsa brasileira deve ter um impacto levemente negativo, mas a posição continua atrativa.

Fonte: XP

Em relação ao impacto do coronavírus sobre os mercados, a pesquisa apontou que o grande vetor de incerteza são as possíveis medidas adotadas pelas autoridades mundiais para conter a propagação do vírus e os efeitos de contração de atividade econômica no mundo.

Nesse ambiente, os gestores têm adicionado às carteiras dos fundos, como proteções mais comuns, posição vendida em índice global de ações (como S&P 500) e compra de dólar contra outras moedas (incluindo o real).

Embora seja cedo para avaliar o contexto, 59% dos gestores consultados disseram esperar um impacto levemente negativo para a economia brasileira; 30%, por sua vez, destacaram que o impacto é imprevisível e assumiram estar preocupados.

Gestores de fundos de ações

No caso de fundos de renda variável (entre long only e long biased), a pesquisa da XP com cerca de 40 participantes assinala que, no geral, os gestores continuam otimistas com a Bolsa e ainda não acreditam que, com o cenário atual do coronavírus, as empresas serão “fortemente afetadas”.

“Boa parte deles nos disse que planeja reduzir o caixa e aumentar a exposição em ações (ou seja, vão às compras, dados os preços mais baixos). Ainda assim, podemos dizer que estão cautelosamente otimistas, pois muitos deles possuem proteção em seus portfólios, principalmente através de opções de venda de empresas específicas ou de índices acionários (estruturas que ganham com a queda do mercado)”, destaca a equipe de análise da XP, em relatório.

Apesar de seguirem otimistas, mais de 70% dos gestores têm algum tipo de proteção nas carteiras.

Como recomendação aos investidores, a maior parte dos gestores acredita que o melhor a se fazer no momento é aguardar: 38% sugerem que não se faça nada em um momento de incertezas como o atual e 32,6% consideram necessário aguardar um pouco mais, pois o cenário pode piorar ainda mais.

Fonte: XP

Os próprios gestores admitiram que não pretendem alterar, em sua maioria (57% dos consultados), suas carteiras por enquanto. Uma fatia de 38%, por sua vez, disse que pretende diminuir o caixa para comprar mais ações.

Fonte: XP

Invista nos melhores fundos e ações com a ajuda da melhor assessoria: abra uma conta gratuita na XP

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.