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SÃO PAULO – Após o protagonismo na recuperação dos mercados ao longo da pandemia, as ações das maiores empresas de tecnologia em escala global têm atravessado um período de maior volatilidade nas últimas semanas.
Em junho, até o dia 22, o índice da bolsa americana Nasdaq, que reúne as principais empresas do setor, operava próximo da estabilidade, com uma leve queda de 0,1% acumulada no período, após já ter tido desvalorização de 1,5% em maio. Em 12 meses, contudo, os ganhos ainda são de 36,6%.
A piora recente de resultado apresentada pelas gigantes de tecnologia reflete os temores do mercado quanto à pressão inflacionária nos Estados Unidos que leve a um consequente aperto das condições monetárias por parte do Federal Reserve (Fed), o banco central americano.
Para Márcio Appel, gestor da Adam Capital, tanto a queda recente dos papéis de tecnologia nas bolsas americanas, bem como o receio dos investidores quanto a uma alta de juros pelo Fed, não faz o menor sentido.
“Movimentos de alta de juros normalmente são bons para a bolsa nos Estados Unidos, e não o contrário, porque refletem uma economia muito saudável”, afirmou Appel, durante live realizada na noite de terça-feira pelo escritório Guelt Investimentos.
Frente a uma atividade em franca expansão, o gestor espera que o Fed inicie o ciclo de aumento dos juros já em meados de 2022, sem nenhum prejuízo, contudo, às perspectivas bastante positivas que enxerga para o mercado americano. “Esse medo da alta dos juros nos Estados Unidos é infundado.”
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Segundo ele, o otimismo que tem hoje em relação ao desempenho da bolsa americana é o maior desde meados de 2017, sustentado pela expectativa de que a economia dos Estados Unidos cresça em um ritmo acelerado sem riscos de pressão inflacionária mais permanente por pelo menos dois anos.
Facebook, Amazon e criptos
Entre as maiores convicções para surfar o cenário global promissor traçado à frente, o gestor exaltou as oportunidades que enxerga hoje nas ações das big techs americanas
“Alguns papéis que temos do setor parecem em preços inexplicáveis de tão baratos, totalmente incompatíveis com a taxa de crescimento que as empresas têm tido”, disse Appel, que citou Facebook e Amazon entre as posições que carrega no portfólio.
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Para ele, uma hipótese que pode ajudar a explicar o tamanho da atratividade é o fato de as ações estarem sendo negociadas próximas das máximas históricas. Isso, na visão do gestor, é algo que gera certa insegurança entre os investidores de manter o papel, a despeito do desenvolvimento esperado para os próximos anos de negócios que já vinham em forte crescimento, em um movimento ainda mais acelerado pela pandemia.
Ao falar sobre a gigante de e-commerce de Jeff Bezos, o gestor da Adam afirmou que vê hoje a ação até mais barata do que há quatro anos, tendo em vista que as oportunidades de crescimento e consolidação de mercado à frente estão agora muito mais evidentes.
“É uma alegria ter essas oportunidades, porque não é sempre que isso acontece”, afirmou Appel, que disse não enxergar boas oportunidades no mercado europeu, região que nos últimos meses entrou no radar de investidores em busca de nomes descontados mais relacionados à economia tradicional.
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O gestor da Adam afirmou que “nenhuma das teses seculares que tanto gostamos é bem espelhada na bolsa europeia”. Ele disse ainda ver com ressalvas movimentos no mercado global como de forte aumento na procura por ações do setor automobilístico, impulsionado pelas apostas no avanço dos carros elétricos. “É uma euforia despropositada”, disse Appel, que aproveitou o gancho para também tecer críticas severas aos criptoativos.
O preço do Bitcoin tem estado sob forte volatilidade nas últimas semanas, entre outras razões, por declarações públicas, a favor e contra as criptomoedas, feitas pelo CEO da Tesla, Elon Musk.
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“Se você não precisa pagar um sequestro, acho que [as criptomoedas] não têm muito uso”, alfinetou o gestor. Ele lembrou que, mais recentemente, o risco ambiental relativo ao negócio levantado por Musk foi outro fator que passou a pesar contra o avanço dos criptoativos, uma vez que confronta a agenda verde apregoada pelo mercado.
Ele avalia que, tanto os ativos digitais, bem como o ouro ao qual eles chegaram a ser comparados, tendem a perder valor em um ambiente de alta dos juros. “É mais fácil comprar algo que não tem nenhum fluxo quando o custo de oportunidade é zero.”
Papo de bar
Partindo do cenário global para os riscos e as oportunidades no mercado local, o gestor da Adam disse seguir sem grande entusiasmo pela Bolsa brasileira como um todo, com apostas pontuais que já carrega há um bom tempo em Petrobras e Vale, mais relacionadas ao contexto internacional.
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Assim como as big techs americanas, Appel enxerga os papéis das exportadoras de commodities em níveis bastante atraentes, frente ao crescimento esperado para os lucros por conta da acelerada retomada global.
Diante desse cenário, ele disse considerar as duas ações “extremamente baratas”, enquanto acompanha à distância o boom de IPOs na Bolsa brasileira.
“Talvez ter Petrobras e Vale não seja ‘cool’, sexta-feira no bar se você falar que tem essas ações o pessoal te olha estranho. Como não vou, não me incomoda. Mas para a galera talvez o IPO seja mais legal de participar, um negócio diferente, mas o valuation, na maioria dos casos, não faz o menor sentido.”
No mercado de juros, o gestor contou carregar posições que ganham com o fechamento das taxas nos títulos públicos indexados à inflação de mais longo prazo, com vencimentos em 2050 e 2055.
O aperto monetário em curso pelo Banco Central (BC), disse Appel, deve derrubar os prêmios desses papéis, hoje ao redor dos 4,3%, para uma faixa mais próxima dos 3%.
Por fim, em relação ao câmbio, a expectativa é que a alta da Selic e os resultados positivos de conta corrente que o país tem apresentado sigam fortalecendo o real.
O gestor disse que não se surpreenderia se a moeda brasileira recuasse para a casa dos R$ 4. “Os movimentos no câmbio são sempre muito maiores do que a gente imagina.”
Apesar disso, ele afirmou também que não carrega apostas na moeda brasileira neste momento, pela preferência em alocar a maior parte do risco nas oportunidades globais que parecem oferecer retornos mais atraentes.
“Estamos com o nível de risco mais alto nos fundos desde o início de 2018, e a intenção é continuar aumentando”, disse Appel, ao destacar novamente a predileção pelas oportunidades globais neste momento.
O Adam Macro, principal multimercado da casa, acumula rentabilidade positiva de 0,42% em 2021, até maio, contra o retorno de 0,97% do CDI no período. Desde o início, em abril de 2016, o multimercado rende 56,63%, contra 40,50% do benchmark.
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