Para Kinea, após queda de 21%, ação da Petrobras parece mais oportunidade de compra do que de venda

Para Marco Freire, sócio da gestora, ainda que o governo congele os preços dos combustíveis no nível atual, empresa segue atrativa

Lucas Bombana

Painel de ações e gráfico (Crédito: Shutterstock)
Painel de ações e gráfico (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – Apesar do aumento da insegurança dos investidores quanto ao rumo a ser tomado pela Petrobras sob uma nova gestão do general Joaquim Silva e Luna, após a queda de 21% das ações da na sessão passada, já há grandes gestores que começam a avaliar uma potencial janela de oportunidade com os preços atuais.

Entre eles está Marco Aurelio Freire, sócio responsável pela gestão dos fundos de ações e multimercados da Kinea, gestora controlada pelo Itaú com cerca de R$ 55,4 bilhões em ativos sob gestão.

Em entrevista ao InfoMoney, o gestor destaca que, mesmo que o governo congele os preços dos combustíveis no patamar atual, o retorno aos acionistas pela geração de caixa esperada para a Petrobras continua a ser bastante atrativo.

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Além disso, o valor da empresa no mercado no fim desta segunda-feira (22), considerado o preço das ações mais o tamanho da dívida, já estava ligeiramente abaixo do patamar visto ao fim do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, sendo que a saúde financeira da empresa hoje está muito mais equilibrada, assinala Freire.

“O mercado já corrigiu bem e, nesse nível de preço, tendo a achar mais como uma oportunidade [de comprar] do que o momento de vender”, afirma o gestor da Kinea, acrescentando que ainda não fez o movimento de aumentar a posição que carrega na carteira em ações da Petrobras por entender já estar em tamanho adequado, ainda que avalie “ser esse o caminho”.

Nesta segunda-feira, as ações da companhia se recuperam do tombo da véspera com uma alta por volta das 14h30 de aproximadamente 9,5% das preferenciais (PETR4), e de 7,5% das ordinárias (PETR3), que caíram 20% na segunda-feira.

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O setor de commodities está entre as preferências do gestor da Kinea na Bolsa local, junto com os shoppings centers. Com a vacinação, os hábitos de consumo devem gradualmente ser retomados, prevê Freire, que entende que as ações das administradoras dos centros comerciais estão em preços atrativos.

Oportunidade nos juros no Brasil…

De todo modo, o gestor da Kinea ressalta que não vê na Bolsa a melhor relação entre risco e retorno em termos locais, mas, sim, no mercado de juros, com prêmios na curva de juros ao redor de 8%.

Embora a Selic na mínima de 2% ao ano tenha levado muitos investidores a aumentar o risco das carteiras com ações, a análise não deveria levar em conta os juros de curto, mas, sim, de longo prazo, afirma Freire.

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E a curva de juros futuros, que reflete a expectativa dos investidores para a taxa básica nos próximos meses e anos, aponta hoje para uma taxa Selic ao redor de 8% ao fim de 2022, o que abre espaço para oportunidades na renda fixa.

Com o nível de desemprego do país perto de 14% e uma retomada da atividade econômica aquém da desejada, Freire entende que a taxa de juros sobe para esse patamar só se houver uma completa ruptura do governo com a busca pelo equilíbrio fiscal, o que ele não considera como o cenário-base.

Os juros no fim do ano que vem devem estar mais próximos de 5% pelos cálculos do especialista, que tem posições tanto nas NTN-Bs (papéis com retornos indexados à inflação, ou Tesouro IPCA+) de prazo intermediário, até 2025, como em títulos prefixados de até dois anos, que devem proporcionar retornos polpudos com o ajuste para baixo das taxas esperado pelo gestor da Kinea, com consequente aumento dos preços.

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…e nos Estados Unidos

Entre os maiores riscos no radar, Freire cita, além da guinada populista do governo no âmbito doméstico, uma alta mais forte do que a esperada pelo mercado da inflação nos Estados Unidos, o que pode levar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a subir os juros antes do projetado.

O pacote de estímulos preparado pelo governo democrata, em uma economia que já dá sinais de recuperação e com um nível baixo de desemprego, ao redor de 5%, tende a gerar mais inflação sem tanta demora, e levar o Fed a sinalizar mudanças na política monetária, prevê Freire, que antes da Kinea foi CIO de renda fixa e multimercados da Franklin Templeton no Brasil.

“Parece que o esforço de reconstrução está excessivo”, afirma o especialista, que, devido a essa visão, tem entre as maiores apostas dos multimercados da Kinea posições tomadas (que ganham com a alta das taxas) nos juros dos títulos soberanos dos Estados Unidos, como proteção contra esse cenário de aceleração da inflação americana.

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“Tem muito pouca alta precificada dos juros nos Estados Unidos no fim de 2022 e início de 2023, e acho que o mercado deveria colocar uma chance maior de o Fed ter que subir os juros antes do esperado”, diz Freire.

Cíclicos x defensivos

A aposta na alta dos juros nos Estados Unidos, explica o gestor da Kinea, embute a expectativa de que o pacote de estímulo fiscal do governo Biden tende a beneficiar no curto prazo os ativos de caráter mais cíclico em detrimento àqueles tipicamente mais defensivos.

Por esse motivo, diz, a exposição internacional dos multimercados da casa contempla também operações de valor relativo nas bolsas globais, compradas nos setores de commodities, bancos e turismo, além de moedas como o rublo russo e a libra, contra papéis de saúde, consumo discricionário, mercado imobiliário e o euro.

No ano passado, as operações de valor relativo, que ganham com a arbitragem entre pares de ações e não com os movimentos direcionais do mercado, foram as principais responsáveis pelo desempenho abaixo do CDI dos multimercados da casa, como o fundo Atlas.

Após três anos seguidos de retornos expressivos, a partir de 15%, o multimercado Atlas ficou praticamente empatado com o CDI em 2020, com ganhos de 2,6%, contra 2,7% do benchmark.

Para 2021, Freire se mostra confiante que as posições de valor relativo voltem a ter uma boa performance na carteira do Atlas, que reabre para captação na próxima quinta-feira (25).

“Na bolsa brasileira, estamos com um viés mais micro do que macro, e lá fora temos muito mais posições relativas do que só direcionais”, afirma Freire, que diz concentrar as apostas vendidas (que preveem a queda dos preços) do portfólio em grandes índices globais, até para evitar nomes que correm o risco de gerar perdas agudas em movimentos de “short squeeze” no mercado, como no episódio da GameStop.

O InfoMoney premia, nos dias 23 e 24 de fevereiro, os gestores de fundos de ações, multimercados, renda fixa e de fundos imobiliários que conseguiram entregar aos investidores retornos com consistência nos últimos três anos.

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