SÃO PAULO – Ninguém sabe ainda ao certo como será o novo cotidiano que se seguirá após o coronavírus ser debelado. Alguns preveem que as diferenças serão ínfimas, enquanto outros apostam em mudanças mais estruturais, despertadas ou aceleradas pela pandemia, como o home office em larga escala.
Para os gestores Henrique Bredda, da Alaska Asset, e Cesar Paiva, da Real Investor, os preços no mercado indicam um cenário de alterações extremas nos hábitos de consumo, que ambos não acreditam que irá se concretizar.
“Poucas coisas mudam para sempre por causa de uma crise, as pessoas tendem a superestimar”, afirmou Bredda, durante live promovida pelo portal Eu Quero Investir, nesta quarta-feira. “O mercado exagerou um pouco nessa mudança da rotina das pessoas nos próximos anos”, disse Paiva.
O gestor da Real Investor citou como exemplo a ação da administradora de shoppings Aliansce Sonae, que não fazia parte do portfólio até março, quando a queda brusca de quase 60% o fez enxergar uma oportunidade de compra do ativo.
“Não estou vendo as pessoas vendendo um apartamento ou uma casa com 50% de desconto, mas na Bolsa estão fazendo.” Paiva explicou que não espera grandes resultados para a empresa no curto prazo, mas prevê bons frutos mais à frente.
Ano perdido
“Não gastamos tempo olhando para os próximos trimestres, já damos como um ano perdido”, disse Paiva em referência a 2020, que inovou na sopa de letrinhas ao dizer esperar por uma recuperação da economia no formato do símbolo da Nike.
Baseado em Londrina, no Paraná, o gestor citou o Banco do Brasil como um ativo que, apesar dos desafios frente à concorrência crescente, ganhou espaço na carteira por conta do preço da ação. “Acho barato demais para ignorar.”
Já Bredda afirmou que reforçou recentemente as posições dos fundos da Alaska em dois investimentos conhecidos da casa, Magazine Luiza e Cogna. “Em momentos de dúvida, o melhor é voltar aos planos originais.”
O gestor disse que está em processo de compra de duas ações para o portfólio dos fundos, do setor de varejo e de locação de veículos.
Para o gestor da Alaska, o investimento precisa ser feito com base nos preços de mercado, mas se valendo das projeções para as companhias nos próximos anos.
“Se depender só das estimativas para esse ano, fica extremamente difícil”, disse o especialista, que afirmou ser mais fácil traçar projeções para o longo do que para o curto prazo.
Transferência de riqueza
Ao comentar sobre um possível descasamento entre o patamar dos mercados frente à situação financeira das empresas, o gestor da Alaska disse que, historicamente, os preços e os lucros dificilmente se distanciam muito por um período relevante.
“Mas é preciso tomar cuidado, porque a ação não reage trimestre a trimestre”, afirmou Bredda. Ele observou também que a recuperação da economia deve ser mais lenta do que entre as empresas da Bolsa. “Na Bolsa está a elite, a nata das empresas, então a recuperação é mais rápida.”
Por outro lado, o gestor da Alaska disse esperar por uma inflação no preço dos ativos no mercado local como reflexo das medidas extraordinárias para enfrentar a crise, nos moldes do que já ocorreu nos mercados desenvolvidos na crise do “subprime” em 2008.
“Vai ter inflação de ativos no mundo de novo, e dessa vez o Brasil vai junto”, afirmou Bredda, lembrando que, em 2008, a Selic em 13,75% impediu esse movimento no mercado local.
Em um ambiente de liquidez abundante, com perspectiva de valorização dos preços dos ativos reais, o grande perdedor será o investidor alocado em fundos de curto prazo, pontuou o gestor. “Esse cara está sendo diluído e vai pagar a conta, é dele que a riqueza está sendo transferida para quem tem ativos.”
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