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Em um mês em que o sentimento de mercado se traduziu em aversão a risco, com a possibilidade de aperto monetário mais restritivo nos Estados Unidos e bloqueios na China por causa de uma nova onda de Covid, fundos de ações sofreram com a performance negativa de boa parte das Bolsas mundiais.
Apesar disso, produtos que estavam mais alocados em commodities, especialmente agrícolas, empresas do agronegócio, indústria, além de concessões públicas tiveram desempenhos melhores. O destaque ficou por conta do Forpus Ações FIA, que avançou 4,45% em abril. No acumulado do ano, o produto oferece ganhos de 25,14%, acima do retorno de 2,91% do Ibovespa.
Fundos multimercados, por outro lado, foram beneficiados por posições em moedas, especialmente alocações em que acreditavam na valorização do dólar contra moedas de emergentes, ou contra o euro e o yuan.
Portfólios com posições tomadas em juros nos Estados Unidos (que apostam na alta das taxas) e que são favorecidos pela valorização das commodities também chamaram a atenção em abril, juntamente com carteiras que apostaram na queda das Bolsas internacionais.
A liderança entre os multimercados no mês passado ficou com o Vista Multiestratégia FIM, que subiu 7,70% em abril, contra 0,83% do CDI – taxa usada como referência nessa classe de produtos. No acumulado do ano, o fundo avança 37,6%, contra 3,3% do CDI.
Veja os cinco fundos multimercados com as maiores altas e quedas em abril:
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Também confira a seguir os cinco fundos de ações com as maiores altas e quedas no mês:
O levantamento do InfoMoney levou em conta dados extraídos da plataforma Economatica em 9 de maio. Foram considerados os veículos não exclusivos, com gestão ativa, patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas no fim de abril.
Na categoria de renda variável, foram excluídos fundos setoriais e monoações. Entre os multimercados, não foram considerados fundos de crédito privado.
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Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, embora seja interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.
Multimercados: apostas em juros e contra a Bolsa americana
Os dados de inflação ao consumidor nos Estados Unidos divulgados na semana passada não deixaram dúvidas na cabeça de Bruno Marques, sócio e gestor de fundos multimercados da XP Asset Management.
Segundo ele, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, deveria elevar os juros para, no mínimo, 4%. “O nível de juros nos parece baixo. Uma inflação alta desse jeito não parece que será contida com um juro de 3%”, diz Marques.
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De olho em um aperto monetário mais firme do Fed, o fundo carrega posições que ganham com a alta dos juros nos Estados Unidos. Isso, juntamente com uma aposta na queda da bolsa americana, proporcionaram alguns dos principais ganhos do fundo XP Macro Plus nos últimos meses. O produto está na lista de fundos multimercados com melhor performance no mês e em um ano.
Ao olhar para as Bolsas nos Estados Unidos, Marques diz que os índices devem sofrer exatamente o que ocorreu no Brasil no ano passado – quando houve uma série de revisões negativas no preço-alvo das ações calculado por analistas.
A preocupação tem como base reportagem da semana passada da Bloomberg, que apontou que os agentes financeiros estão revisando os preços-alvos das ações americanas na maior velocidade desde o início da pandemia. Ao mesmo tempo, um estudo da agência mostrou que as projeções para o S&P 500 no fim deste ano vêm caindo há 11 semanas seguidas. Trata-se da maior sequência de quedas em uma década.
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Além de alocações em bolsa americana, o gestor da XP explica que o desempenho no ano foi ajudado por posições compradas em inflação implícita – com operações em que os gestores ganham quando a expectativa de inflação sobe ao longo do tempo.
Entre as mudanças recentes na carteira, Marques conta que voltou a tomar juros no México. A razão, segundo ele, é que a inflação no País continua surpreendendo negativamente e que a curva de juros parece bastante “comportada”.
“A curva precifica um ciclo bem normal de juros, sendo que países como Chile e Brasil estão subindo bem os juros. O México parece muito controlado, o que não é normal”, aponta o gestor.
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Ações: commodities, concessões públicas e varejo
Embora o cenário em abril tenha sido de fortes correções na Bolsa local, posições em commodities, concessões públicas (como CPFL3, ENBR3, EGIE3, por exemplo), e em alguns nomes do varejo conseguiram garantir um bom desempenho para o Forpus Ações, que ficou em primeiro lugar na lista dos produtos de ações com melhor performance no mês. Quem explica é Luiz Nunes, sócio e CEO da Forpus Capital.
Dentro de commodities, as agrícolas são a preferência da casa, observa Rafael Cintra, sócio e analista na Forpus Capital. Ele explica que não importa a política – contracionista ou expansionista – que a China decidir adotar em sua economia. De todo modo, a população seguirá demandando alimentos. Logo, papéis do tipo podem se beneficiar e são, atualmente, os principais da alocação em commodities.
Vittia Fertilizantes (VITT3), Kepler Weber (KEPL3), SLC Agrícola (SLCE3) e Boa Safra (SOJA3) são alguns dos exemplos que estão na carteira e que podem se beneficiar direta e indiretamente da demanda por alimentos. Frigoríficos também entram na conta, com a exposição a Minerva (BEEF3), JBS (JBSS3) e em menor nível em BRF (BRFS3), diz o especialista.
Papéis ligados ao petróleo, como Petrobras (PETR4;PETR3) 3R Petroleum (RRRP3), Enauta (ENAT3) e PetroRio (PRIO3) também chamam a atenção porque há um desequilíbrio estrutural na oferta do produto. O analista da Forpus observa que não houve investimentos no setor durante muito tempo, por causa da maior preocupação com práticas voltadas para governança, meio ambiente e responsabilidade social (ESG). Nesse sentido, afirma Cintra, a questão estrutural da falta de investimentos seguirá firme, mesmo se a demanda chinesa diminuir.
Apesar dos aumento de custos e pressão das margens das companhias provocado pelos bloqueios na China e impactos da guerra, ações do setor de varejo também podem ser bons trunfos. Porém, é preciso selecionar bem. O analista da Forpus explica que a casa detém hoje papéis de segmentos mais resilientes, como Hypermarcas (HYPE3).
“É uma empresa com geração de caixa boa e sólida. Consumo de medicamentos de balcão também são mais resilientes e as margens podem ser recuperadas com o aumento de medicamentos feito recentemente”, explica o especialista.
Centauro ([ativo=CNTO3]) também está entre as alocações no varejo. Ainda que a dinâmica inflacionária corroa o poder de compra, Cintra observa que o público que consome os produtos da rede – e, especialmente, da marca Nike – são as classes A e B. Além disso, diz, há uma demanda reprimida que pode retornar com a reabertura das atividades.
Ações do Assaí (ASAI3) e do Carrefour (CRFB3) completam a lista de alocações no varejo, mas com posições menores. Ao comentar sobre o setor, o analista da Forpus defende que é preciso ter cuidado porque algumas ações podem sofrer mais impacto do que outras com o aumento de custos e repasses para o consumidor final.
Ele afirma que os papéis das Lojas Renner (LREN3), por exemplo, já caíram bem, mas que podem cair mais. Cintra acredita que é possível “entrar num ponto mais interessante”. A razão, explica o especialista, é que a empresa pode ter maior compressão de margem com o aumento de custos, já que não é focada em um segmento tão premium.
Para além de uma exposição a Bolsa local, Nunes, CEO da gestora, afirma que a casa detém posição vendida no índice Nasdaq e também em dólar contra o real, caso a moeda americana recue. Ambas são usadas como proteção da carteira.
Ações: de volta à tecnologia nos EUA e aos bancos
Depois de se beneficiar de posições em commodities, especialmente em petróleo, além de alocações nos setores de energia elétrica e concessões públicas nos últimos 12 meses, o fundo Absolute Pace Long Biased tem aproveitado as quedas recentes nas Bolsas para ir às compras.
Ações de empresas de tecnologia nos Estados Unidos, como Google (GOGL34), Facebook (FBOK34), Microsoft ([ativo=MSFT34) e Amazon ([ativo=AMZO34]), estão entre os papéis em que a casa mais aumentou a posição recentemente. Quem explica é Christian Faricelli, sócio da Absolute Investimentos e gestor de ações do Absolute Pace.
“Nós fazemos a conta e vemos que o valuation [preço] está muito barato. Se elas crescerem só um pouco neste ano, já será ótimo. Não precisa crescer muito. Elas são tidas como empresas de crescimento, mas na nossa cabeça são quase como de valor”, justifica Faricelli.
Para o especialista da Absolute, o cenário macroeconômico de aumento das taxas de juros joga contra as Bolsas americanas, mas a assimetria de risco e retorno “parece muito boa”. Na visão dele, ações de empresas mais defensivas dentro do setor doméstico devem ter maior dificuldade do que empresas de tecnologia de repassar um aumento de preços.
Ele cita como exemplo o caso da Coca-Cola, que pode registrar um aumento nos custos com pagamento de salários, além da subida no preço do alumínio. “Ela tem uma margem menor do que a do Google, que tem uma pressão menor desses custos. Vejo o Office ou outro programa conseguindo repassar melhor um aumento de 5%, por exemplo”, afirma o gestor da Absolute.
As posições, no entanto, têm sido montadas com calma e juntamente com alocações vendidas no setor de consumo mais defensivo (staples), como forma de proteção.
Aumento também nas alocações de bancos brasileiros, como Itaú e Banco do Brasil. A razão, explica Faricelli, é que o preço está muito atrativo. Ele não nega que o nível de inadimplência dos bancos vai piorar com a Selic mais elevada por mais tempo, mas afirma que Santander e Bradesco devem ser mais afetados por esse aumento.
“A piora [na inadimplência] já está mais do que precificada. Trazendo os fluxos de caixa a valor presente, seria precisa um cenário muito pior para as ações estarem nesse preço”, defende o sócio da Absolute.
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