SÃO PAULO – Apenas um em 114 fundos de ações escapou ileso do movimento global de aversão a risco que derrubou o mercado brasileiro em fevereiro e continua a pesar sobre investidores em março: o Forpus Ações.
Com valorização de 4% no mês, o fundo passou a liderar a lista dos melhores em 12 meses, com alta de 61%. Segundo colocado do levantamento, o fundo Hix Capital Institucional acumula rentabilidade positiva de 46,7% no mesmo intervalo.
Os dados fazem parte de levantamento elaborado pela XP com base em dados da Economatica. Em fevereiro, o Ibovespa teve queda de 8,43%, enquanto o CDI teve variação de 0,29%.
A Forpus é uma gestora 100% focada em ações, com um único fundo. Segundo o sócio Luiz Nunes, com uma estratégia “top down”, que avalia primeiramente o cenário político e econômico para depois passar para a seleção de ações, as teses são baseadas em setores. Uma fatia de 130% da alocação é dedicada a posições compradas e 30%, a vendidas, com uma exposição líquida equivalente a 100%.
Dentre as apostas de valorização, as posições se voltam hoje a ações de empresas vinculadas à tese de retomada da economia brasileira: construção civil – com o maior peso –, utilidade pública (com ações de energia e saneamento, por exemplo), consumo/varejo e industrial.
Já na parte vendida do portfólio, as preocupações com o ritmo da economia global, eleições e coronavírus levaram a Forpus a se posicionar para a queda de papéis de empresas exportadoras, principalmente as ligadas a commodities metálicas (como Vale, Gerdau e Usiminas), além de Suzano. A exceção ficou com Petrobras e empresas de commodities agrícolas.
O que ajudou, contudo, o fundo a performar tão bem em fevereiro foi a estratégia voltada para defesa do chamado “tail risk”, o risco de cauda, tipo de risco associado à ocorrência de eventos considerados de baixa probabilidade. Uma parcela de 1,5% a 2% do fundo está sempre dedicada a prêmios de opções, para proteger o fundo de movimentos muito fortes em um cenário antagônico ao da carteira básica.
As puts (opções de venda) dos índices americanos S&P 500 e Nasdaq compensaram a queda das ações, diz Nunes, mas a gestora segue com uma visão reticente em relação ao ambiente macroeconômico. “Vendemos a maioria das puts, mas seguimos com a preocupação com o mesmo fator de risco, que é a economia global, liderada pelos Estados Unidos”, diz, ressaltando a necessidade de buscar instrumentos de proteção mais baratos.
Por isso, a escolha agora recai sobre opções de venda de títulos públicos americanos (Treasuries) e de dólar em relação ao real. A gestora também comprou puts de Ibovespa, o que está contribuindo para o fundo no dia de hoje.
Neste pregão de disparada das tensões com a queda dos preços do petróleo, a Forpus informou que está realizando o lucro das proteções “mais gordas” e aproveitando para montar novas estruturas de hedge e para comprar lentamente ações.
Destaque entre os multimercados
A Forpus foi um caso isolado no grupo de fundos de ações, mas, entre os multimercados, mais de 40 fundos registraram alta em fevereiro.
Com valorização de nada menos que 18,5% em fevereiro, o fundo long biased da Versa foi o grande destaque de fevereiro. Luiz Fernando Alves Junior, gestor da Versa, conta que a casa montou uma grande proteção entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, que resultou no desempenho do mês.
A posição comprada em Bolsa brasileira foi neutralizada e o fundo passou a ficar vendido no índice acionário americano S&P 500.
“Com isso, ficamos bem mais defensivos, cautelosos, mas o atual nível de preço está mais atrativo. Estamos diminuindo as proteções. A ideia é começar a voltar para a ponta mais otimista do mercado por causa do nível de preços e por entendermos que este é um choque temporário”, diz o gestor, referindo tanto ao coronavírus quanto ao petróleo.
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No caso da commodity, Alves Junior enxerga um efeito duplo, negativo para as empresas petroleiras, porém positivo para a economia, em termos de poder de compra. “A demanda é inelástica. A queda do petróleo é como um alívio do imposto para a economia, atua como um estimulo fiscal”, afirma.
Segundo o gestor, a Versa também havia neutralizado a posição nas ações da Petrobras na virada do mês. Agora, o foco recai sobre papéis de empresas mais vinculadas ao mercado interno, como de varejistas, construtoras e até bancos. “Estamos priorizando ações do mercado interno e deixando ações de commodities em stand by.”
Desempenho da indústria
Um total de 163 de 169 fundos multimercados teve desempenho melhor que a baixa de 8,43% do Ibovespa no mês e 37 superaram a variação do CDI. Em 12 meses, quando o índice sobe cerca de 9%, 66 fundos contam com resultados melhores e 140 batem o CDI.
Confira a seguir os dez melhores fundos multimercados em 12 meses até fevereiro, observando ainda seu desempenho no mês e a variação acumulada em até 36 meses. Retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, mas é interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.
Dentre os fundos de ações, 25 de 114 fundos tiveram perdas maiores que 8,43% do Ibovespa em fevereiro. Já em 12 meses, 91 superam o índice.
Para a análise, foram considerados fundos não exclusivos com a média do patrimônio líquido em 12 meses superior a R$ 100 milhões e mais de 99 cotistas, no fim de fevereiro. No caso dos fundos de ações, foram excluídos os setoriais, os indexados e os monoações e, dentre os multimercados, não foram considerados fundos de crédito privado. Fundos espelho também foram eliminados do estudo.
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