SÃO PAULO – Tem muito investidor que observa o desempenho da Bolsa brasileira por meio do Ibovespa, seu principal referencial, e se dá por satisfeito com os ganhos de 21% nos últimos 12 meses, até novembro. E pudera. O avanço representa mais de três vezes a variação do CDI, de 6,1% no período, e o mercado de ações caminha para o quarto ano seguido de ganhos.
Há, contudo, um grupo de investidores menos atentos ao índice e mais de olho no desempenho de ações que conseguem ter valorizações ainda mais expressivas que o Ibovespa, com grande impacto em suas carteiras. E não é à toa, já que, dentre os dez fundos de ações com as maiores altas em 12 meses, os ganhos superam os 40% e chegam a romper os 80% no período.
Levantamento elaborado pela XP com base em dados da Economatica revela que, nos últimos 12 meses, 93 (76%) de uma amostra de 123 fundos de ações supera a alta de 21% do principal índice da Bolsa. Em novembro, 79 fundos (ou 64%) entregaram retornos aos cotistas acima do Ibovespa.
Na categoria de multimercados, em 12 meses, só 12 de 180 fundos tiveram valorização acima do Ibovespa e 149 (ou 83%) acumulam ganho superior ao do CDI (6,11%). Novembro foi um mês complicado e apenas 45 fundos superaram o Ibovespa e 65 (36%) tiveram variação acima do CDI (que teve variação de 0,38%).
Invista nos melhores fundos com a ajuda da melhor assessoria: abra uma conta gratuita na XP
Para a análise, foram considerados fundos não exclusivos com a média do patrimônio líquido em 12 meses superior a R$ 100 milhões e mais de 99 cotistas, no fim de novembro. No caso dos fundos de ações, foram excluídos os setoriais e monoações e, dentre os multimercados, não foram considerados fundos de crédito privado. Fundos espelho também foram eliminados do estudo.
Diante da alta de 5,5% do dólar em relação ao real e de novo avanço da Bolsa americana (o índice S&P 500 subiu 3,4%) em novembro, fundos multimercado com algum tipo de exposição cambial estiveram entre os destaques do mês, assim como fundos do tipo “long biased” (enquadrados na categoria multimercado, mas com tributação de renda variável).
Confira a seguir os dez melhores fundos multimercado em 12 meses até novembro, observando ainda seu desempenho acumulado em até 36 meses. Retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, mas é interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.
Os melhores fundos multimercado em 12 meses até novembro
A Logos Capital lidera o ranking dos multimercados com um fundo em que 85% do retorno se deu pela estratégia de ações, com os 15% remanescentes em juros, moedas e commodities.
Sem exposição a um setor específico, papéis como da Sabesp, Totvs, Rumo, Linx, BR Properties e CCP estão entre os destaques do ano e a maioria segue na carteira, ainda que com menor peso, diz Ricardo Vieira, um dos sócios fundadores.
Segundo ele, nas últimas semanas, há maior preocupação com liquidez, dado que alguns papéis subiram muito, o que tem estimulado uma migração na carteira.
Luiz Henrique Guerra, outro sócio fundador e responsável pela gestão dos fundos, conta que esse foi o caso de Sabesp, cujas ações já subiram 87% no ano e a participação no portfólio caiu de 15% para 5%.
Dentre as ações de maior peso hoje estão as da Cemig, do Pão de Açúcar e da Lojas Americanas. A gestora também está comprando mais bancos, como Itaú Unibanco e Banco do Brasil. “Em um cenário de recuperação cíclica que vai continuar em 2020, os bancos serão ganhadores”, diz Guerra, que vê um exagero do mercado na avaliação de competição das fintechs.
No grupo dos fundos de ações mais rentáveis dos últimos 12 meses até novembro, a seletividade também foi ressaltada pelos gestores, que não elegeram nenhum setor específico como o grande responsável pelo bom desempenho no ano.
Confira a seguir os dez melhores fundos de ações em 12 meses até novembro, observando ainda seu desempenho acumulado em até 36 meses.
Os melhores fundos de ações em 12 meses até novembro
Com ganhos de 48% em 12 meses de seu fundo, a Kiron é uma gestora focada em estratégia long only, fundamentalista e com horizonte de médio e longo prazo. “Quando a gente começa a olhar o investimento, é sempre pensando em três a cinco anos, mas é claro que a tese pode maturar mais rapidamente e outras podem fazer sentido por mais tempo”, diz Francisco Utsch, cogestor do fundo e um dos fundadores da casa. “Nossa abordagem é bem bottom-up, gastamos tempo tentando entender como vai ser a geração de valor do negócio.”
Com 20 nomes na carteira, Hapvida responde por pouco mais de 10% de participação, seguida pelos papéis da CPFL, da Cosan Limited e do Fleury. O setor de saúde é o maior do portfólio, aponta Luiz Liuzzi, também cogestor e fundador da Kiron.
“Nunca colocamos mais de 10% em um papel do fundo, é uma construção de portfólio mais diversificada. Quando a gente erra, nossos erros não são grandes. Mas quando a gente acerta, nossos acertos também não são tão grandes”, diz Utsch.
Com uma visão construtiva para a Bolsa em 2020, ele diz que o crescimento da economia ainda tem sido tímido, mas, do ponto de vista micro, não tem tido dificuldade para encontrar crescimento. “Não tentamos prever o ciclo, mas achamos que existe uma assimetria, com maior chance de o mercado crescer que decrescer.”
A HIX Capital tem uma visão parecida, com seu fundo de ações também com foco em fundamentos e no longo prazo. Segundo Gustavo Heilberg, sócio fundador da gestora, 2019 tem sido o ano de maturação de escolhas feitas há um bom tempo, com destaque para as ações da Eneva, que sobem 137% no período.
A gestora incluiu os papéis da empresa no portfólio em 2016, aumentou o peso em 2017, no follow on, e hoje eles respondem por cerca de 16% da carteira. “Ainda vemos um potencial substancial de valorização e risco bastante baixo para a ação”, aponta Heilberg.
Também têm contribuído para o desempenho do fundo as ações da Sinqia, da Jereissati Participações – equivalente à Itaúsa para o Itaú, diz Heilberg -, da Centauro e da Hapvida. “Todas continuam no portfólio, ainda que com ajustes de peso”, assinala o sócio da gestora.
Com energia respondendo pela maior exposição setorial do fundo, puxada pela aposta em Eneva, ações do setor imobiliário e de consumo vêm aumentando o peso, em meio à maior clareza em termos de perspectivas para as empresas.
“Pela primeira vez no Brasil, o carrego da Bolsa é positivo, não precisamos acreditar tanto em crescimento. Existe uma tendência clara de recuperação da economia brasileira e achamos que vai continuar melhorando”, afirma Heilberg. “2020 será melhor que 2019.”
Invista nos melhores fundos com a ajuda da melhor assessoria: abra uma conta gratuita na XP