Carro popular por R$ 60 mil: quanto – e por quanto tempo – investir para conseguir comprar um

Governo anunciou medidas para baratear carros que hoje custam até R$ 120 mil, mas compra à vista ainda demanda planejamento

Leonardo Guimarães

Concessionária da Renault com modelos do Kwid à mostra (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Concessionária da Renault com modelos do Kwid à mostra (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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Depois que o governo criou um programa para ampliar o acesso a carros populares, muita gente passou (ou voltou) a sonhar com a compra de um carro zero quilômetro. Para a maioria dos brasileiros, porém, esse objetivo exige planejamento e disciplina financeira.

O financiamento é o caminho escolhido por muitos. Porém, com a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, fica ainda mais caro pegar dinheiro emprestado nos bancos. Por outro lado, investir para comprar um carro se apresenta como uma opção que demanda mais paciência, mas promete ser mais vantajosa para o bolso.

Para esse objetivo, ativos de renda fixa costumam ser indicados, já que ações, fundos imobiliários e outros instrumentos de renda variável são mais arriscados e de comportamento menos previsível. Aqui, a regra é proteger seu dinheiro da inflação correndo o menor risco possível.

O preço médio dos carros subiu cerca de 90% entre 2017 e 2022, segundo a consultoria Jato Dynamics, muito acima da inflação do Brasil, de 28,43% no acumulado do período. Para Paulo Garbossa, consultor da ADK Automotive, a tendência é que os preços dos automóveis se estabilizem e andem próximos à inflação geral nos próximos anos.

“Com a inflação um pouco mais controlada e a situação dos semicondutores [que estavam em falta e encareciam a produção de carros], talvez não haja tanta pressão para aumento de preços”, explica Garbossa.

Quanto e por quanto tempo investir?

Por causa do avanço dos preços, analistas sugerem que os interessados busquem ativos atrelados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) para investir os recursos voltados à compra do carro novo. Esses papéis oferecem uma taxa de juros fixada no momento da aplicação mais a correção pela inflação do período.

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“Ao planejar uma compra, muitos cometem o erro de pensar somente no valor atual do bem, mas é preciso considerar a inflação. Um carro que custa R$ 60 mil hoje pode não ter o mesmo preço em cinco anos”, explica Luan Alves, analista-chefe da VG Research.

No Tesouro Direto, os papéis com essa característica são os chamados Tesouro IPCA+, mas há também papéis de emissão privada – como os CDBs – com o mesmo sistema de remuneração.

A rentabilidade varia entre eles. Nesta segunda-feira (29), os títulos Tesouro IPCA+ ofereciam remuneração entre 5,39% e 5,78% ao ano, fora a correção pelo IPCA, a depender do prazo de vencimento. Já os CDBs atrelados à inflação pagavam entre 5,10% e 6,95% ao ano, mais a inflação, também a depender do prazo e do banco emissor.

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Com esse nível de taxa, quanto seria necessário investir por mês – e por quanto tempo – para acumular dinheiro suficiente para comprar um carro popular?

Cálculos feitos a pedido do InfoMoney por Jefferson Souza, analista de investimentos da Semeare, indicam que seria preciso reservar no mínimo pelo menos R$ 1.109 ao mês por quatro anos – ou R$ 4.864 por mês por um ano – para comprar um carro que hoje custe R$ 60 mil.

Fazendo as contas

Nas contas, Souza considerou investimentos que rendessem 6,17% ao ano, mais a variação do IPCA. Também aplicou uma expectativa de inflação de 5% ao ano sobre o valor de R$ 60 mil. Afinal, se o carro encarecer nos próximos anos, ter esse valor investidor não seria suficiente para comprar o carro à vista.

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A simulação tem R$ 60 mil como alvo porque esse é o preço que o governo federal quer como piso dos carros populares com uma série de desonerações de impostos anunciada na última quinta-feira (25). A estimativa é de que as medidas gerem desconto entre 1,5% e 10,96% no preço dos veículos que hoje custam menos de R$ 120 mil.

A simulação já desconta o Imposto de Renda, cuja alíquota varia entre 15% e 22,5%, dependendo do prazo do investimento.

Veja quanto e por quanto tempo investir mensalmente em papéis de renda fixa atrelados ao IPCA para juntar R$ 60 mil:

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Prazo de investimento Aporte mensal para conquistar R$ 60 mil
1 ano R$ 4.864
2 anos R$ 2.359
3 anos R$ 1.525
4 anos R$ 1.109

Fonte: Jefferson Souza, analista de investimentos da Semeare

Souza ainda simulou os aportes mensais necessários caso o interessado faça um investimento inicial de R$ 10 mil, já que é comum a necessidade de dar um valor de entrada ao financiar um veículo. Nesse caso, em quatro anos, a economia mensal cairia para R$ 874. No horizonte de um ano, o montante fica em R$ 4.003 por mês.

Veja quanto e por quanto tempo investir mensalmente em papéis de renda fixa atrelados ao IPCA para juntar R$ 60 mil, fazendo um aporte inicial de R$ 10 mil:

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Prazo de investimento Aporte mensal para conquistar R$ 60 mil
1 ano R$ 4.003
2 anos R$ 1.916
3 anos R$ 1.221
4 anos R$ 874

Fonte: Jefferson Souza, analista de investimentos da Semeare

Cuidado com o prazo do investimento

É importante atentar para o vencimento dos títulos de renda fixa antes de investir, especialmente no crédito privado, onde a liquidez é reduzida. Para quem pensa em comprar um carro daqui a dois anos, investir em um CDB que vence em 2026 vai gerar um descasamento.

Isso porque é mais difícil vender papéis como CDBs e debêntures, já que o mercado secundário não é tão acessível para pessoas físicas.

No Tesouro Direto é mais fácil fazer resgates. O problema, nesse caso, é outro. A remuneração acertada no momento da aquisição dos papéis só é garantida para quem os mantiver até a data do vencimento. Nas vendas antecipadas, o título é negociado pelo valor de mercado no dia – e ele pode estar acima ou abaixo do preço pago pelo investidor na compra.

Alves, da VG, considera o Tesouro IPCA+ 2029 um bom título para investir. “Dá segurança e garante o poder de compra”, justifica. Ele seria indicado, porém, para quem tem planos de mais longo prazo.