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O dólar pode voltar a ficar abaixo de R$ 6 em 2025? Especialistas acham difícil

Situação das contas públicas e efeitos do início da segunda gestão de Donald Trump nos EUA favorecem ambiente de dólar apreciado

Monique Lima

(Foto: Vladislav Reshetnyak/Pexels)
(Foto: Vladislav Reshetnyak/Pexels)

No fechar das cortinas de 2024, o dólar rompeu o limite psicológico de R$ 6 e desde então renovou recordes nominais e não voltou à faixa de R$ 5. O nível atual do câmbio é 26% acima da média histórica de preço da moeda americana em relação ao real, um desvio significativo em relação aos pares internacionais e emergentes. 

As contas públicas do governo e a volta de Donald Trump à Casa Branca são apontadas como as principais causas dessa disparada do dólar. Para os especialistas consultados pelo InfoMoney, o cenário é complexo e difícil para uma valorização do real que retome o nível de câmbio anterior, nem mesmo para os R$ 5,90. 

Segundo a análise de Rodolfo Margato e Luíza Pineze, da XP, a condução da política fiscal local pelo governo federal levanta muitas dúvidas nos agentes financeiros internos e externos, principalmente após a frustração com o pacote de corte de gastos anunciado que não dá uma perspectiva de estabilização da dívida pública nos próximos anos. 

André Galhardo, consultor econômico da plataforma Remessa Online, afirma que é muito difícil desvincular a performance do câmbio desses elementos políticos, já que a variação do dólar é muito impactada pelas expectativas futuras. 

“A economia está aquecida. O crescimento do PIB deve ser forte, o mercado de trabalho apresenta boas taxas, as empresas estão com produção em alta e o consumo também vai bem. Mas o mais curioso de tudo isso é que a visão atual é de que todo esse estímulo não é suficiente para dizer que a perspectiva futura do país é positiva”, diz Galhardo. 

O consultor aponta para a projeção de juros e inflação como exemplo. O relatório Focus do Banco Central já prevê uma taxa Selic de 15% ao fim de 2025, com uma inflação em 5%, acima do teto da meta de 4,5%. Já para o câmbio, o relatório do BC joga em R$ 6,00. Pouco tempo atrás, no início de outubro, as projeções eram menos negativas: Selic em 11,75%, inflação em 4,38% e câmbio em R$ 5,40. 

“Selic em 15% é um salto muito significativo. E é uma resposta para a projeção da inflação, para o risco das contas públicas. Então, de modo geral,  a visão é de que há espaço para a economia deteriorar caso nada seja feito. É um pessimismo que está se generalizando”, diz Galhardo. 

Exterior não ajuda 

Além de todo o contexto interno, a chegada de Donald Trump à Casa Branca não ajuda a tese do Brasil. O índice DXY, que mede o valor da moeda dos EUA em relação a uma cesta de outras moedas fortes, subiu 8% no ano passado (de 101 para 109), em linha com a manutenção de juros altos por mais tempo no país e expectativas relacionadas ao novo governo republicano. 

“Há um rearranjo que está sendo desenhado das cadeias globais de valor e também um rearranjo comercial. Há uma grande expectativa sobre como se dará esse novo momento protecionista de que tanto se fala, de tarifas mais altas de importação, se  isso vai impulsionar ou desestimular o comércio internacional”, diz Galhardo. 

O corte de juros que se iniciou em setembro nos EUA não deve continuar neste começo de 2025, segundo as projeções do mercado. A economia americana continua aquecida e o banco central do país já sinalizou suas preocupações inflacionárias. Essa manutenção de juros favorece o fluxo financeiro em dólar, não só por ser a moeda de refúgio em momentos de incertezas, mas também pelo rendimento seguro

Isso leva investidores estrangeiros e locais a optarem pelo dólar, por uma questão de segurança e proteção da carteira. “A alta demanda faz com que a moeda fique mais cara e não vejo gatilhos no curto e médio prazo que fariam o câmbio voltar para abaixo de R$ 6”, diz o consultor. 

Nem juros, nem exportações 

A XP também não vislumbra uma queda no câmbio. A equipe de macro do banco reviu suas projeções para 2025 e aumentou o dólar para R$ 6,20 ao fim de 2025 e a R$ 6,40 ao fim de 2026. Anteriormente, as projeções eram de R$ 5,85 e R$ 6,00, respectivamente. 

“A nosso ver, os fatores que levaram à depreciação recente do real não se dissiparão no curto prazo, mantendo elevados os prêmios de risco nos preços dos ativos financeiros. Ademais, incertezas em torno das políticas fiscal e parafiscal podem ser ampliadas à medida em que se aproxima o período eleitoral de 2026”, diz o relatório.

Mesmo o aumento de juros pelo Banco Central, que pode atrair investimentos estrangeiros, não é visto como um catalisador tão potente, mas como um estabilizador para evitar uma depreciação maior do câmbio, segundo a XP. 

Para Galhardo, o dólar tem viés de alta em relação ao real em 2025, e o consultar também espera a moeda na faixa dos R$ 6,20 ao fim do ano.