SÃO PAULO – Não é preciso ser milionário ou ter uma poupança gorda para começar a investir, mas dinheiro é ainda hoje o principal entrave para grande parte dos brasileiros não terem aplicações financeiras. Mais da metade, ou 56%, das pessoas não têm qualquer tipo de investimento, segundo pesquisa realizada em 2018 pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) com 3.452 pessoas.
Como era de se esperar, as condições financeiras foram o principal motivo apontado por quem não conseguiu investir em 2018. Mas será que se as pessoas soubessem de quanto realmente precisam para começar a aplicar elas continuariam a fazer parte dessas estatísticas?
A partir de R$ 30,00, por exemplo, já é possível adquirir títulos públicos por meio da plataforma do Tesouro Direto, bem abaixo dos R$ 500 imaginados por 26% das pessoas consultadas pela Anbima. Ações e fundos imobiliários estão disponíveis por menos de R$ 100 (ainda que o ideal seja investir um valor maior para que os custos sejam menos expressivos) e produtos bancários, como CDBs, por R$ 1.000, de acordo com levantamento feito pelo InfoMoney.
Uma parte representativa dos brasileiros, contudo, ainda desconhece os próprios produtos financeiros disponíveis e, mais ainda, os valores mínimos para investimento. Até para a poupança, produto de maior apelo no país, há desconhecimento, com 36% dos entrevistados alegando ser necessário um investimento mínimo de R$ 100 para acessar a aplicação.
A caderneta não tem nenhum “pedágio”, então é possível destinar o valor desejado a ela, ainda que existam ressalvas em relação à escolha em si, tendo em vista o mísero rendimento do produto, que, neste ano, sequer chegou aos 2%.
Com o objetivo de esclarecer e desmistificar o mercado financeiro, o InfoMoney conversou com especialistas para mostrar quanto realmente custa para investir nas principais aplicações financeiras do Brasil. Dessa forma, o desconhecimento pode deixar de ser uma razão para a inércia de futuros investidores do país.
Confira a seguir o valor mínimo exigido para cada aplicação, conforme pesquisa feita em diferentes plataformas de investimento, e os custos que podem recair sobre os produtos:
Ativo | Investimento mínimo | Custos |
Tesouro Direto | R$ 30 | taxas de custódia e de administração (opcional) |
CDB | R$ 1.000 | – |
LCI e LCA | R$ 1.000 | – |
Fundos de Investimento | R$ 100 | taxas de administração e de performance (opcional) |
Ações | Varia de acordo com o preço da ação. No Ibovespa, o papel mais barato é o da Via Varejo, com preço unitário de R$ 4,86 | taxas de corretagem, custódia e emolumentos |
Fundos Imobiliários | R$ 100 | taxas de corretagem, custódia e emolumentos |
Tesouro Direto
Conforme antecipado, o investidor acessa títulos do Tesouro Direto com pequenas quantias, já que é possível comprar uma fração de 0,01 título, ou seja, 1% do valor de um papel, desde que respeitado o valor mínimo de R$ 30,00. Em retorno, é paga uma rentabilidade proporcional à aplicação.
No dia 5 de junho, por exemplo, os valores mínimos dos títulos públicos variavam entre R$ 32,92 (no caso do Tesouro Prefixado 2025) e R$ 101,35 (para o Tesouro Selic 2025).
O único custo obrigatório que recai sobre o Tesouro Direto é a taxa de custódia, paga à B3, cobrada semestralmente e com valor anual de 0,25% ao ano. A taxa de administração é opcional e já foi eliminada há tempos pelas principais corretoras de valores e até por grandes bancos. Ainda assim, das 57 instituições financeiras habilitadas pelo programa, metade cobra a tarifa. Por isso, vale prestar atenção à plataforma selecionada.
Produtos bancários
Nos títulos bancários, a rentabilidade paga e o valor mínimo exigido podem variar bastante de acordo com o banco emissor, o risco, o prazo da aplicação e a própria instituição financeira escolhida. Um papel com as mesmas características pode ser ofertado com retornos distintos e pode custar mais caro dependendo da corretora.
Os CDBs estão entre os produtos de renda fixa mais conhecidos, com investimento exigido geralmente a partir de R$ 1 mil, embora haja opções mais acessíveis. A recomendação é sempre buscar papéis que paguem pelo menos 100% do CDI, equivalente ao retorno do Tesouro Selic. “O CDB um produto acessível e, se o investidor puder ficar por mais tempo, vai conseguir taxas mais atrativas”, diz Daniel Zamboni, assessor de investimentos na BR Investe.
Uma das vantagens dos produtos bancários está na cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), uma entidade privada, sem fins lucrativos, que oferece uma espécie de seguro a investidores de produtos bancários no caso de intervenção, liquidação extrajudicial e insolvência de alguma instituição associada ao FGC. A garantia é de até R$ 250 mil por CPF e instituição, e vale para produtos como CDBs, LCIs, LCAs e caderneta de poupança.
As LCIs e LCAs são emitidas por instituições financeiras para captar recursos para os setores imobiliário e agrícola, respectivamente. De acordo com o levantamento feito pelo InfoMoney, os valores mínimos para investimento beiram os R$ 1 mil e as letras costumam oferecer um retorno abaixo dos CDBs, mas contam com o benefício da isenção de Imposto de Renda. O retorno é, portanto, líquido de imposto, mas há uma carência de 90 dias para o resgate dos papéis.
Segundo Zamboni, com as quedas nas taxas de juros, o investidor que deseja resgatar o investimento em até um ano costuma encontrar melhores rentabilidades em LCAs e LCIs do que em CDBs, mas é fundamental comparar as aplicações para descobrir a melhor opção para você. Para prazos superiores a dois anos, muitos CDBs têm superado o retorno das letras de crédito.
O fundamental é ter em mente que a isenção tributária por si só não garante a vantagem das LCIs e das LCAs.
É fácil observar essa constatação ao analisar dois produtos à venda na plataforma da XP Investimentos no dia 5 de junho: uma LCI com vencimento em 5 de junho de 2020 com retorno de 89% do CDI e aplicação mínima de R$ 10 mil, e um CDB de mesmo vencimento e investimento inicial, porém com rentabilidade de 110% do CDI.
Neste caso, mesmo com a isenção de IR, o CDB seria mais vantajoso, ao entregar retorno de 91% do CDI descontando-se o IR de 17,5%.
Fundos de Investimento
Os fundos de investimento são uma forma de diversificar o portfólio e permitir o acesso a diferentes classes de ativos por meio de uma única aplicação. O investidor tem à disposição uma diversidade de estratégias, como de renda fixa, ações, multimercados e cambiais.
Nem todos estão acessíveis a qualquer investidor. Alguns fundos são exclusivos para os chamados investidores qualificados, com patrimônio financeiro superior a R$ 1 milhão, ou para investidores profissionais, com mais de R$ 10 milhões aplicados.
Os valores para investimento em fundos de forma geral variam de acordo com o produto escolhido e com a plataforma. Na XP Investimentos, por exemplo, as aplicações mínimas começam em R$ 500, enquanto, na Rico Investimentos, podem ser encontradas opções a partir de R$ 100.
Antes de aplicar, contudo, é preciso estar atento à lâmina do fundo, ou seja, ao documento com todas as especificações do produto. Nele, além de performances históricas, o investidor encontrará dados importantes, como as taxas de administração e de performance (cobrada sobre alguns tipos de fundos, caso o gestor consiga exceder o referencial).
Ações
Embora possa não ser o mais recomendado, dado que a liquidez dos papéis pode ser baixa e os spreads entre preços de compra e venda, mais altos, é possível comprar uma única ação na Bolsa por meio do mercado fracionário. O mais comum e recomendado, entretanto, é o investimento a partir de um lote padrão, que costuma ser equivalente a 100 ações. Dentre os 66 papéis que compõem hoje o Ibovespa, há ações no mercado com preços unitários entre R$ 4,96 (Via Varejo) e R$ 194,74 (Magazine Luiza), conforme dados do dia 4 de junho. O lote padrão varia, portanto, de R$ 496 a R$ 19,5 mil.
Na Bolsa, o investidor deve estar atento às taxas de corretagem e de custódia da corretora, bem como aos emolumentos, pagos à B3. Atualmente, como forma de incentivo, algumas corretoras estão zerando o custo de corretagem para ações, caso da Clear, o que torna o investimento mais atraente, principalmente para o pequeno investidor.
‘“A Bolsa sofre muito mais oscilação que a renda fixa, então o investidor pode pagar um pouco mais caro, mas tem potencial de ganhar mais também”, ressalta Zamboni, da BR Investe.
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Fundos Imobiliários
No caso dos fundos imobiliários negociados em bolsa de valores, não há mercado fracionário. Dessa forma, os FIIs são negociados por meio de cotas unitárias, com preços que partem hoje na casa dos R$ 100.
De acordo com o professor do InfoMoney Arthur Vieira de Moraes, iniciar com pequenas quantias é fundamental para se familiarizar com o investimento e, quanto antes, melhor. “Não precisa juntar muito dinheiro pra começar. Começar é melhor”, diz.
Moraes destaca a importância dos FIIs dentro de um cenário de juros baixos, como o atual, que favorece a busca por aplicações de maior risco, e seu papel na diversificação do portfólio. Ele explica que hoje os custos têm menor impacto sobre o mercado principalmente por conta da isenção de taxas de corretagem dada por algumas instituições. Há, porém, a cobrança de emolumentos da B3, assim como taxas de custódia podem incidir sobre os valores investidos.
“As pessoas acham que o mundo de investimentos é uma escadinha, que você precisa passar por estágios, e não é assim. Com zero custos que estamos vivendo hoje, é possível diversificar”, afirma.
Antes de ingressar no mercado financeiro, é fundamental ao investidor conhecer as características dos produtos selecionados, como riscos, prazos, liquidez e retornos. Vale ainda ficar atento aos impostos e custos cobrados.
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