Neymar vai jogar o “arabão” e isso diz muito sobre valuation

Como a relação preço/lucro do jogador brasileiro nos ajuda a entender um dos complexos termos do mercado financeiro

Lucas Collazo

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Caros (as) leitores (as),

Qualquer notícia perdeu seu brilho nessa última semana para a negociação bem-sucedida entre Al-Hilal, da Arábia Saudita, e o Paris Saint-German, da França, pela aquisição de Neymar Júnior. Porém, essa movimentação no futebol masculino diz muito sobre precificação de ativos.

Em 2017, o clube parisiense pagou a bagatela de € 222 milhões ao Barcelona para contratar o jogador. Essa semana, o PSG aceitou a oferta de aproximadamente € 90 milhões para concretizar a venda do futebolista.

Alguns grandes clubes do grande centro do esporte, a Europa, não quiseram flertar com o jogador pelo valor de € 50 milhões. Por quê?

Neymar é um grande craque do futebol, por mais que esse assunto seja extremamente polêmico e divida as opiniões. Dito isso, os clubes enxergam, de maneira geral, os jogadores como ativos.

Ou seja, você precisa pagar o preço certo para conseguir monetizar essa peça da melhor forma possível. A negociação do PSG mostra o contrário, mas com o amparo financeiro também do mundo árabe por trás de clube parisiense, parece que essa ideia de rentabilizar o jogador não é central – o mesmo talvez justifique o movimento do Al-Hilal.

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Para o mundo do futebol, o Neymar está mais caro hoje do que em 2017. Esses € 50 milhões pesaram mais que os € 222 milhões da época.

O curioso é: literalmente a mesma lógica pode ser aplicada a ativos financeiros, como as ações negociadas em Bolsa, por exemplo. O Ibovespa a 120 mil pontos pode estar mais barato que em determinados momentos que esteve a 90 mil, e vice e versa.

A métrica mais simples da relação de valuation é a preço sobre lucro (P/L). Ela gera um multiplicador, você deve escutar ou ler por aí “11 vezes lucro”, algo do gênero.

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Você pode utilizar para avaliar caso a caso das empresas da bolsa, mas como os setores e dinâmicas das companhias mudam, seria uma medida imperfeita em muitas vezes. Isso posto, utilizamos mais para avaliar o índice como um todo, um balizador para dizermos se está “caro” ou “barato”.

Hoje em dia, temos uma relação P/L parecido com alguns momentos ruins de cenário no Brasil, mas com as empresas bem melhores no relativo. Projetando lucros maiores, menos endividadas (de forma geral), com temas atraentes para investidores internacionais.

O Ibovespa próximo aos 120 mil pontos está mais “barato” do que em outros momentos que o índice esteve na mesma pontuação. O oposto do Neymar que, mesmo sendo negociado a um valor nominal menor do que sua última negociação, está mais “caro” para o mercado.

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Isso porque, com idade mais avançada, a relação “P/L” do Neymar é pior que anteriormente. Essa situação, por mais que seja contraintuitiva na Bolsa, quando usamos o exemplo de um jogador parece óbvia, não é mesmo?

A lógica é muito parecida. Situações corriqueiras da vida dizem muito sobre termos “complexos” do mercado.

Mas complexo mesmo é saber que o Neymar desistiu da ideia de perseguir uma bola de ouro ou levantar a taça de campeão do mundo pela “amarelinha”. Espero que eu esteja errado, mas sobre a lógica simples do valuation, sei que não estou.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney