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A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, referente à reunião da última quarta-feira (22) e divulgada nesta terça (28), comunica pelas entrelinhas. O que o documento não diz com todas as letras é o que o mercado tenta entender. O InfoMoney ouviu especialistas do mercado para decifrá-la.
“A novidade da ata foi a questão de crédito. Já começa a ser criado o discurso de que as metas devem ser cumpridas, mas que o Banco Central é sensível às taxas, que precisam ser competitivas”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Para ele, é possível entender que se trata de um início de argumentação para quando o BC precisar cortar a Selic – a taxa básica de juros permanece inalterada, no patamar de 13,75% ao ano, desde o ano passado.
Um ponto do documento destacado por Cruz é a citação da situação externa. “Tanto nos bancos centrais mais desenvolvidos, quanto nos emergentes, o movimento ainda é de alta nas taxas, ou o de preservar o nível de juros por um período prolongado – e isso exerce uma pressão adicional por aqui, no próprio BC brasileiro, para manter a Selic elevada por mais tempo – e seria um problema começar a cortar muito rapidamente agora”.
Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, diz que a ata deixa bem clara a importância do arcabouço fiscal. “O documento destaca que é preciso saber o que vai acontecer na tramitação da nova regra fiscal no Congresso para poder reagir eventualmente e fazer uma redução de juros”.
“A mensagem principal da ata é de que não haverá cortes de juros no curto prazo, nem com o anúncio do arcabouço fiscal. O Banco Central diz que precisa ver as medidas sendo implementadas primeiro, e votadas no Congresso, para ter uma ideia melhor de qual impacto ocorrerá no cenário”, completa Costa.
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A leitura de Ana Madeira, economista-chefe do HSBC Brasil, diz que o BC suavizou ligeiramente a sua formulação sobre orientação futura e ainda irá avaliar uma estratégia de manter a Selic em espera por ‘um período prolongado’, como já havia feito no comunicado de dezembro do ano passado – enquanto o comunicado de fevereiro dizia “por um período maior do que seu cenário de referência”.
Ela afirma que o reflexo desse cenário para inflação e a política monetária é que, embora o BC tenha reconhecido uma melhoria das perspectivas orçamentárias de curto prazo, ponderou paralelamente a desancoragem das expectativas de inflação.
Em relação aos riscos descendentes para a inflação, pode-se destacar duas observações relacionadas à turbulência bancária, ressalta Ana. “Uma delas é o risco de uma desaceleração mais rápida do crescimento global, em particular devido a condições adversas no sistema financeiro global. E outra, o risco de uma desaceleração nas concessões de crédito interno maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária”.
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E a renda fixa?
Para os investidores, o recado é de que os títulos prefixados e os indexados à inflação devem sofrer no curtíssimo prazo. O porto seguro continua sendo os pós-fixados, de acordo com Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.
“A ata do Banco Central veio dura e com contrapontos com relação ao que o governo vem falando, de que não tem inflação. Mas é possível perceber que os diretores concordam que existe uma inflação de demanda, que já está começando a contaminar serviços, o que deve pressionar os preços ainda para cima”, detalha Komura.
O especialista destaca que o movimento de incerteza continua fazendo pressão de alta na curva de juros. “E o estresse que envolve governo e Banco Central prejudica as perspectivas de juros no longo prazo”.
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Já Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, afirma que a ata deu a entender que o governo precisa trabalhar junto com o Banco Central pra atingir um objetivo comum. “Um arcabouço fiscal crível é muito importante para ancorar as expectativas de inflação e, dessa maneira, contribuir para que o Banco Central possa, de fato, mudar a condução da política monetária”, detalha.
O documento deixou um recado claro, diz ele, de que o Banco Central tem um mandato a seguir e vai ponderar todas as informações, inclusive a atuação do governo com relação à aprovação de um arcabouço fiscal.
“Partindo do princípio de que o investidor tem um planejamento financeiro, uma rentabilidade na ordem de 14% ao ano não é algo de se jogar fora. Desta forma, ativos prefixados devem ter pelo menos uma parte da composição da carteira”, avalia Jorge. “Mas o investidor precisa ter a tranquilidade para aguentar os períodos de volatilidade. Por isso, a recomendação é de levar qualquer investimento até a data do vencimento, tanto prefixados quanto os pós-fixados e os ativos que são atrelados a índices de preço”.
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Para Ricardo Cará Monteiro, head de gestão de renda fixa e multimercado da EQI Asset, a lógica é que depois de chegar quase aos 14% anuais, o próximo movimento dos juros será de queda, a partir do meio do ano.
Nesta terça, os juros dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto aprofundaram a queda vista ontem. Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, diz que, para o investidor que já possui papéis prefixados e atrelados ao IPCA em carteira, o movimento de redução das taxas hoje é benéfico, do ponto de vista da marcação a mercado.
“Para o cliente que deseja investir, a redução da taxa pode tornar os papéis menos atrativos. Porém, as taxas praticadas ainda seguem sendo atrativas para os novos investimentos. O momento para aumentar a exposição a ativos prefixados pode ser interessante”, destaca.
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“Com um possível corte de juros no segundo semestre, prefixar a taxa de rentabilidade nos atuais patamares será vantajoso para o investidor que o fizer. Mas vale destacar que, atualmente, a maior exposição das recomendações ainda está em ativos pós-fixados”.
Guilherme Mendes, especialista em renda fixa da Blue3 Investimentos, faz coro: “O cenário é bastante interessante para o investidor analisar a possibilidade de inserir títulos prefixados na carteira, por conta do retorno oferecido.”