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Não é preciso ser herói e buscar renda fixa mais arriscada hoje, afirma Oaktree

Em entrevista exclusiva, gestora avalia que momento é favorável para que o crédito obtenha desempenho muito além das ações

Bruna Furlani

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A elevação do juro americano para o patamar entre 5,25% e 5,50% fez com que a renda fixa americana vivesse um momento praticamente único na história. A avaliação é feita por David Rosenberg, corresponsável por portfólios e diretor-executivo da Oaktree, uma das maiores gestoras globais especializadas em crédito, com US$ 179 bilhões sob gestão.

“A beleza da renda fixa hoje é que você não precisa ser um herói e ir para um ativo muito arriscado. Os retornos já estão elevados”, observa o gestor, que falou com exclusividade ao InfoMoney em visita rápida ao Brasil.

Com mais de 20 anos de experiência no mercado, Rosenberg diz que não consegue pensar em outro momento em que era possível receber um retorno de duplo dígito em crédito sem que um desastre tivesse puxado os rendimentos para cima.

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Atualmente, disse, ainda que haja algumas nuvens no horizonte, o mercado de trabalho americano está forte e a inflação vem desacelerando — o que alguns analistas apontam como indícios de que o chamado “pouso suave” pode ser possível.

Ida às compras

Em meio a um cenário mais favorável para a alocação em crédito, o executivo diz que tem ido às compras e que tem optado por ativos mais ligados ao setor de bebidas e alimentos, além de cuidados para a saúde.

Por outro lado, a necessidade de frear o consumo da população americana para facilitar a tarefa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em desinflacionar a economia americana faz com que a Oaktree se afaste de títulos relacionados a consumo, com destaque para o varejo.

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“Setores que dependem do consumo discricionário e dos gastos dos consumidores são mais prováveis de desapontar [nos próximos meses]”, afirma Rosenberg.

Crédito deve ir melhor que ações

Após meses de bonança no mercado de ações, a avaliação do profissional é que o momento é favorável para que o crédito obtenha desempenho superior.

O executivo pondera que houve um crescimento forte nos últimos anos com a taxa de juros negativa, o que aumentou a liquidez nos mercados e impulsionou a compra de ações. O ponto é que agora o dinheiro está “caro” e há menos disposição em financiar o crescimento das empresas.

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Rosenberg lembra que, com ou sem recessão nos Estados Unidos, a taxa de juros elevada deixa a dívida das empresas mais cara. “Já no mercado de crédito, não é preciso crescimento. O investidor precisa apenas que as companhias não deem calote e que ofereçam retornos de duplo dígito”, avalia.

Apesar de ver oportunidades no mundo do crédito, a avaliação da casa é que o momento é adequado para realizar uma espécie de escolha seletiva dos créditos, lembrando o famoso “stock picking“, que é feito com ações.

Uma das explicações é que o mercado não está conseguindo distinguir créditos. “É possível encontrar títulos privados negociando a valores bem parecidos”, pondera Wayne Dahl, diretor-executivo e responsável pela parte de investimento de risco da Oaktree.

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Dahl conta que conseguiu encontrar títulos de duas empresas negociando com o mesmo retorno, sendo que ambas seriam afetadas de formas muito diferentes em uma eventual desaceleração da economia americana.

“Se não fizermos isso agora, quando o mercado descobrir, será tarde demais. É preciso tomar as decisões enquanto os agentes financeiros não estão precificando nenhum prêmio em ativos de maior qualidade. Isso é o que focaremos agora”, destaca o profissional.

Ao ser questionado se isso envolve alocar apenas em ativos considerados high grade (menor retorno e risco), Rosenberg pondera que não necessariamente, já que as casas de rating tendem a ser mais “lentas” para precificar e perceber riscos.

“Buscamos um crédito bom em que é possível receber um retorno atrativo sem ter que correr muito risco”, defende o profissional.

Corte de juros distante

Para analisar o tipo de crédito a ser adquirido, Rosenberg diz que tenta entender se a empresa será sustentável mesmo que os juros seguirem altos nos Estados Unidos. “Essa é a chave. O cenário-base é que os juros vão ficar onde estão. Precisaria acontecer algo muito ruim para que elas caiam”, pondera.

O executivo destaca que o Fed não deverá começar tão cedo a cortar os juros, porque a autoridade não quer apenas que a inflação chegue à meta de 2%, mas que permaneça lá.

“Cortar taxas é algo que gera inflação e o Fed quer manter os preços sob controle. Eles só farão algo se algum evento ruim acontecer. Nesse caso, serão obrigados a baixar os juros para que a economia não entre em depressão”, defende Rosenberg.

Um estresse bancário como o visto com bancos regionais em março deste ano seria um exemplo: se algo do tipo voltar a acontecer, a autoridade monetária pode ser obrigada a mudar de postura rapidamente.

“Se eles quiserem manter a credibilidade que tiveram ao longo de todo o período, [o primeiro] corte pode estar mais longe do que pensam os investidores”, argumenta Dahl.

Para ambos, está claro que a atividade americana está desacelerando, mas o cenário-base com o qual trabalham é otimista, sem “pouso agressivo” ou desastre econômico. “Deverá ser um pouso suave”, avalia Rosenberg.

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